A justiça de São Paulo decreta a falência da Editora Três, após o descumprimento do 2º plano de recuperação judicial por parte da Editora, casa responsável pela publicação dede revistas grande circulação IstoÉ e IstoÉ Dinheiro.
Por considerar inviável a continuidade do processo de reestruturação financeira da companhia pela falha no pagamento de créditos trabalhistas, de credores e despesas correntes estabelecidos no plano há quatro anos, a 2ª Vara de Falências e Recuperação Judicial publicou a decisão, citando inclusive a falta de pagamento aos atuais empregados da empresa. E que todas as ações judiciais contra a Editora Três estão suspensas.
Além disso, houve a falta de pagamento de salários e benefícios de funcionários e ex-funcionários, impostos e tributos não quitados conforme o acordo de reestruturação. Diante disso, o Juiz Paulo Furtado de Oliveira Filho, responsável pela decisão, decretou a falência e nomeou a RV3 Consultores Ltda., cujo representante é Ronaldo Vasconcelos, como administradora judicial do processo de falência.
A dívida da Editora é de 828 milhões de reais, sendo 820 milhões de dívidas tributárias, 7 milhões de multas trabalhistas, 451 mil de multas eleitorais e 188 mil de dívidas não tributárias.
A editora foi fundada pelo argentino Domingo Alzugaray falecido em 2018. O primeiro pedido de recuperação judicial foi aceito pela justiça em 2007 alegando dificuldade financeira por restrição de crédito.
O segundo processo de recuperação judicial foi pedido e também aceito alegando problemas financeiros decorrentes da covid-19.
A Editora Três vendeu a propriedade digital e o direito de exploração da marca IstoÉ e IstoÉ Dinheiro em 2022 para a empresa de gestão empresarial Entre Investimentos que tem como sócio António Freixo Junior, com larga experiência no sistema financeiro, por 15 milhões de reais.
A última publicação impressa da revista ocorreu em 15 de janeiro deste ano com o número 2864, quando a empresa anunciou aos distribuidores que a partir de agora só haverá a publicação pelo meio digital.
Em 2021 a editora leiloou o galpão onde funcionava sua gráfica em Cajamar-SP com 129,7 mil metros quadrados para pagar dívida de 264 milhões, numa região muito procurada por centros de distribuição de comércio.
Em nota, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP) informou que a situação dos jornalistas nos últimos meses foi dramática. A maioria dos contratados, quase todos, que trabalhavam para a editora era através do regime de PJ sem direitos trabalhistas como férias, 13º salário, FGTS e sem contrato de trabalho. Eles resistiam em greve há quase um mês sem receber salários. O departamento jurídico do sindicato disse que prestará toda a assistência aos profissionais da Editora Três para terem garantido o pagamento devido no processo de falência.
Caberá ao administrador da massa falida Editora Três, fazer o inventário e venda dos bens da empresa para pagar os credores, fazer o levantamento das dívidas e dos credores e criar um sistema eletrônico para acompanhamento do processo de falência.
A lei estipula que os órgãos públicos devem se manifestar e fazer suas reivindicações ao gestor da massa falida.
Além do endividamento que gerou a falência a Editora Três está envolvida em um processo por danos morais movido pela ex-primeira dama Michelle Bolsonaro, onde em setembro de 2024 o STJ (Superior Tribunal de Justiça) uma sentença condenou a editora e o jornalista Germano Oliveira a pagarem 30 mil reais e 10 mil reais respectivamente por matéria publicada.
A publicação insinua suposta infidelidade de Michelle e relatava desconfortos que ela sentia com o casamento, além das viagens com o ministro da Cidadania de então, Osmar Terra. A editora e o jornalista recorreram da sentença.
Uma investigação intitulada Pandora Papers apurou que a família Alzugaray, fundadora da Editora Três, possui uma Offshore nas Ilhas Virgens Britânicas. A esposa de Domingo Alzugaray, Cátia Alzugaray, é sócia do filho Carlos Domingo na Offshore Hideo Corporation.
Documentos de abertura da Offshore consta que a empresa tem capital de 4 milhões de dólares. E em caso de morte da Alzugaray, os filhos Carlos Domingo e Paula Alzugaray são os beneficiários e que o objetivo declarado da empresa é de investimentos financeiros. A família alega que a empresa está regular junto à Receita Federal e ao Banco Central e que está inativa.