O governo dos Estados Unidos iniciou a transferência de imigrantes detidos para a base naval de Guantánamo, em Cuba, marcando uma nova fase na política migratória do governo de Donald Trump. A medida, confirmada nesta terça-feira (4), envolve o envio de dezenas de migrantes para o centro de detenção associado à prisão de acusados de “terrorismo”.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, anunciou a transferência em entrevista à Fox Business, afirmando que os primeiros voos com “imigrantes ilegais” já partiram dos Estados Unidos. Um funcionário do Departamento de Defesa, que falou sob anonimato à AFP, detalhou que os detidos são classificados como “imigrantes ilegais de alta periculosidade” e serão mantidos em instalações separadas dos presos acusados de terrorismo.
Guantánamo e o histórico de detenções de migrantes
Embora internacionalmente conhecida por seu uso após o ataque contra as Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001, a base de Guantánamo já serviu como centro de detenção para migrantes em outras ocasiões. Durante os anos 1990, milhares de haitianos e cubanos foram levados para lá, onde permaneceram confinados por longos períodos antes de serem deportados.
A decisão de Trump alinha-se à política de endurecimento contra a imigração. Na semana passada, o presidente ordenou que a base fosse preparada para receber até 30 mil migrantes, reforçando seu compromisso com deportações em massa e a ampliação da repressão nas fronteiras.
O secretário de Defesa, Pete Hegseth, defendeu a medida ao classificar Guantánamo como o “local ideal” para manter detidos aqueles que ingressam nos Estados Unidos sem autorização. Em visita à fronteira com o México, ele declarou que o Pentágono fornecerá todos os recursos necessários para a “expulsão e detenção” dos imigrantes.
A escalada da repressão
Desde o início de seu segundo mandato, Trump tem intensificado as detenções de imigrantes, com milhares de prisões e deportações já realizadas. Segundo a Agência de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês), apenas nos últimos nove dias, foram efetuadas 7.400 prisões. No entanto, os detalhes sobre as acusações que levaram a essas detenções são escassos. Das milhares de prisões registradas, apenas 80 tiveram suas motivações divulgadas publicamente, abrangendo desde infrações migratórias até acusações de posse de armas e drogas.
Guantánamo já passa por mudanças significativas para acomodar os detidos. No último fim de semana, cerca de 200 soldados e fuzileiros navais chegaram à base para reforçar a segurança e construir um novo campo de detenção. As forças norte-americanas montaram 50 barracas dentro de uma área cercada, próxima ao Centro de Operações para Migrantes.
O governo cubano criticou duramente a nova política. O presidente Miguel Díaz-Canel classificou a medida como um “ato de brutalidade”, denunciando que milhares de imigrantes serão enviados para uma instalação conhecida mundialmente por suas práticas de tortura e detenções arbitrárias. “Estão colocando esses migrantes ao lado de prisões ilegais e centros de tortura”, declarou.