No sábado (1º), foi realizada a sexta aula da Universidade de Férias do PCO a Crise do Imperialismo, diretamente de Araçoiaba da Serra (SP). A aula foi ministrada pelo presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, e tratou tanto da restauração capitalista da União Soviética quanto da China. A diferença entre as condições de cada país, a enorme diferença entre a burocracia soviética e a burocracia chinesa, foi crucial para os diferentes destinos da China e da Rússia atuais.
O burocracia orquestra o colapso da União Soviética
Rui Costa Pimenta começa dando continuidade a aula sobre a crise do leste europeu e aborda o fim da União Soviética: “em 1991 a burocracia organiza um golpe de Estado. Ele fracassou de uma maneira total, a população cercou os tanques e os próprios militares não tiveram coragem de atirar na população. Boris Yeltsin, que era prefeito de Petrogrado, aparece como liderança, apesar de não ser. Gorbachev, após a derrota do golpe, decreta o fim da URSS”.
A verdade é que a burocracia era a favor da restauração capitalista. Esse golpe tinha como objetivo acertar o regime político para controlar as massas. No entanto, a luta contra o golpe derrotou esse setor dominante da burocracia. O imperialismo entrou em ação para não perder o controle e usou o setor de Ieltsin para assumir o poder. Neste momento acontece a pior crise da história da Rússia. Rui descreve:
“O governo coloca em marcha a política de choque de caráter capitalista. Chamaram um economista neoliberal chamado Jeffrey Sachs e ele colocou em marcha um plano de privatização. Eles chamaram a burocracia russa e começaram a distribuir as empresas para a burocracia. Elas eram vendidas com dinheiro do Estado, ele emprestava dinheiro para o burocrata comprar a empresa do Estado. 40% de um companhia de petróleo comparável a companhia Total da França foi vendida por 88 milhões de dólares, as vendas da Total tinham um lucro de cerca de 200 bilhões de dólares. A indústria do Níquel foi vendida por 170 milhões de dólares, seus lucros eram de 1,5 bilhões de dólares anuais
Na ausência de fome, praga ou guerra nunca tantas pessoas perderam tanto em um tempo tão curto. Mais de 80% das empresas rurais foram à falência. Aproximadamente 70 mil fábricas estatais fecharam. Em 1989, antes do golpe, 2 milhões de pessoas viviam na pobreza com menos de 4 dólares por dia. Quando o choque começou no meio dos anos 1990, 74 milhões viviam abaixo da pobreza. 37 milhões de pessoas estavam na pobreza desesperadora. 3,5 milhões de crianças viviam na rua. Segundo o próprio tráfico russo o número de usuários aumentou em 900% em 10 anos. O HIV aumentou de 50 mil para 1 milhão. Taxa de suicídios dobrou. Crime violento multiplicou por 4. Os anos de capitalismo mataram 10% da população”.
Diante dessa catástrofe, Vladimir Putin e um setor da burocracia perceberam que o país não iria sobreviver e decidiram agir. Eles tomaram o governo, expropriaram vários capitalistas do petróleo, e outros setores. Colocaram as empresas privadas sob rígido controle estatal e reorganizaram o país. O fizeram através da venda de petróleo, gás e outros minerais. A Rússia só sobreviveu por ser um país gigantesco com muitas riquezas.
Rui destacou que com essa história é impossível considerar a Rússia um país imperialista. Como uma nação destruída a esse ponto teria capacidade de disputar o controle do mundo com os EUA e a UE, é impossível. Ao mesmo tempo o governo Putin se choca muito mais com o imperialismo que a burocracia soviética, a atual guerra da Ucrânia mostra isso.
A restauração capitalista da China
Pimenta então passou para explicar o caso da China. Primeiro ele diferenciou o regime chinês do regime soviético: “quando Stalin domina a URSS ela vira uma espécie de cemitério político, não se pode falar nada, a repressão é total. A China nunca foi assim. A história da China desde a revolução de 1949 é a história de grandes lutas sociais dentro da China. Obviamente tinha repressão e às vezes até uma repressão grande. Em 1957 Mao Tse Tung lança a campanha das 100 flores. “Quem 100 flores desabrochem, que 100 escolas de pensamento floresçam”. Foi um chamado a criticar o regime do qual ele era a cabeça. Ele tinha muitos choques com a burocracia, ele fez várias campanhas anti-direitistas”.
Um momento muito importante foi a Revolução Cultural, lançada na década de 1960, ela foi um enorme choque da ala do governo de Mao-Tse Tung contra o setor mais reacionário da burocracia. Mao mobilizou a juventude para combater essas tendências internas.
Rui explica: “o domínio da burocracia chinesa nunca foi igual ao domínio da burocracia russa. Esta era profundamente contra revolucionária, esmagou a vanguarda da Revolução Russa de 1917. Na China isso nunca aconteceu, o poder sempre foi instável. A cúpula que fez a revolução vai manter o poder na China, em primeiro lugar Mao Tse Tung, que não é Stalin. Stalin, por exemplo, não dirigiu a revolução, ele eliminou os que dirigiram a revolução. Ele era um líder revolucionário”.
A mudança na China acontece após a morte de Mao em 1976. Quando ele morre a Revolução Cultural está esgotada e ele não conseguiu organizar a luta de uma maneira positiva. Assim se abre um choque entre a ala direita, perseguida pela revolução e a ala defensora da revolução e a ala esquerda é derrotada. Então, quem assume a direção política é Deng Xiaoping e assim começa a política de abertura de mercado. Mas o destino da China é muito diferente daquela da URSS.
Rui então explicou: “quando a economia de mercado começa a criar os horrores que vimos na Rússia isso causa uma explosão social na China. Além disso, a abertura não é tão agressiva como na Rússia, ela foi implementada de forma gradual. Em 1989 há o famoso acontecimento da Praça da Paz Celestial. Os estudantes foram protestar contra a burocracia mais uma vez, esses protestos eram constantes. E também foi um protesto operário, com greves em várias fábricas. Esse acontecimento assustou a burocracia. O acontecimento de 1989 mostrou que não seria fácil implementar a economia de mercado devido à resistência da população. Depois da morte de Deng o Estado chinês tomou providências para impedir que a economia de mercado levasse a China ao precipício, o que resultou em uma economia altamente centralizada”.
Essa economia possui mercado, empresas privadas, capitalistas e bilionários, mas o Estado controla tudo. Os capitalistas da China são tutelados, estão sob o controle do Partido Comunista Chinês, às vezes estão até filiados no PCCh. Ou seja, a burocracia chinesa sob a pressão da classe operária não ousou aderir ao sistema neoliberal. A industrialização da China, portanto, é uma vitória dos trabalhadores.
Pimenta ainda explica que: “o capitalismo da China é suis generis, não é dominado pelos capitalistas, caso contrário seria como a Rússia de 1990. Mas a China não é um país ‘socialista’. A um grande investimento de capital estrangeiro dirigido ao mercado interno chinês. No Shopping Center as lojas são semelhantes ao Brasil. Mas o Estado tem uma presença tão forte que não existe o capitalismo no sentido literal da palavra. O que permitiu o crescimento enorme da China foi que o investimento de capital estrangeiro foi muito grande”.
O imperialismo e o fim dos grandes regimes socialistas
Por fim, Rui Costa Pimenta explicou o impacto desses fenômenos para imperialismo. Ele destaca que “a transformação da burocracia soviética em capitalistas e outra parte em burocratas de um Estado capitalista modificou a situação internacional. Por um tempo eles enfraqueceram o país, mas depois ela se fortaleceu. A grande questão é que a burocracia soviética era conservadora, mesmo quando o imperialismo era agressivo a posição da URSS era conservadora”. Ou seja, o imperialismo trocou uma burocracia stalinista que nunca o combatia por um nacionalismo burguês que está muito mais disposto a se chocar com essa dominação.
Esse é o fenômeno que aparece nos outros países onde houve a revolução, principalmente a China e o Irã. Rui destaca que: “o Irã sempre foi um pilar de sustentação do imperialismo no Oriente Médio. Há outros países que são aliados do imperialismo, é o caso da Arábia Saudita e do Egito. O imperialismo derrotou o nacionalismo árabe e assim o Egito se transformou numa ditadura militar pró-imperialista. O Irã era um ponto chave, é o mais desenvolvido dos três, mais indústria e grande produtor de petróleo. O imperialismo foi derrotado no Irã”.
Relembrando as aulas anteriores, Pimenta explicou que esses países são um fator permanente de instabilidade para o imperialismo. Eles colocam o imperialismo cada vez mais contra a parede ao desafiar a sua dominação. E à medida que o imperialismo fica acuado ele fica cada vez mais agressivo. Isso gera a política de golpes de Estado, desestabilização de governos, e guerras por todo o planeta. A conclusão final desse pensamento será exposta na última aula do curso no domingo (2). Ela pode ser assistida direto de Araçoiaba da Serra ou pelo portal da Universidade Marxista.