Coluna

Saúde mental como cortina de fumaça para precarização do trabalho

O imperialismo não se importa com a saúde mental de ninguém

Saúde mental virou um tema popular. Falar sobre isso nas redes sociais, na imprensa e nas empresas passou a ser um ativo social, uma demonstração de que você supostamente estaria preocupado com o bem-estar das pessoas. Todo ano surgem novas campanhas voltadas para a saúde mental, como o janeiro branco, que seria voltado para a conscientização da importância da saúde mental, ou o setembro amarelo, que seria voltado para a prevenção do suicídio. Os temas são de fato relevantes, mas toda a propaganda feita por empresas e a imprensa não leva a lugar nenhum.

Essas campanhas em torno da saúde mental não começaram porque subitamente surgiu uma preocupação com a saúde mental da humanidade. Na verdade, foi porque a situação psíquica geral está tão ruim que não deu mais para ignorar o tema. É importante notar que transtornos mentais como depressão afetam mais de 280 milhões de pessoas no mundo, e tal número cresce anualmente. Infelizmente, a depressão também atinge cada vez mais jovens, gradativamente substituindo a imagem do jovem revoltado que é contra o sistema pela do jovem depressivo, que não sai do seu quarto e se isola de tudo. Independentemente de ser adulto ou jovem, o fato é que quem sofre com algum transtorno mental acaba vivendo menos do que o resto da população, morrendo antes do que seria esperado.

Um dos principais motivos pelo qual a saúde mental da humanidade está péssima é a piora sistemática das condições de trabalho e a falta de perspectiva decorrente disso. Vinte milhões de famílias no Brasil recebem bolsa família, o que significa que elas não têm emprego formal e dependem de míseros 600 reais para sobreviver. A situação está ruim até para os poucos que têm emprego. Vergonhosamente, vivemos em um país de 200 milhões de pessoas, mas apenas 40 milhões têm emprego formal. Pior ainda, boa parte desses que têm um emprego recebem em média um salário de fome de apenas 2.300 reais, uma tendência de empobrecimento que não é exclusividade brasileira, mas sim uma tendência global, pois mesmo nos Estados Unidos os salários estão estagnados desde a década de 1970, gerando sofrimento também por lá.

Como poderíamos ter saúde mental em um mundo onde os benefícios sociais pagam uma mixaria, onde quase não há emprego, e onde os poucos empregos existentes pagam salários humilhantes? Não é possível. A falta de perspectiva é total, sobretudo entre os jovens, que não vislumbram uma possibilidade de conquistas através do trabalho como seus pais conseguiram. Nada disso é abordado pelas campanhas de saúde mental.

O impacto do trabalho na piora da saúde mental é deliberadamente omitido porque é mais fácil apresentar propostas paliativas individuais do que propor a derrubada do capitalismo. As empresas jamais falarão que a sua vida pode estar horrível porque suas condições de trabalho são péssimas e seu salário não te dá condições dignas para sobreviver. Em última instância, a empresa estaria confessando que ela está te matando. Assim, em vez de promover um esclarecimento acerca do efeito negativo do sistema capitalista na saúde mental das pessoas, a mídia vai falar na importância de você fazer uma caminhada, ter uma boa alimentação, ou reservar um tempo para você fazer o que gosta, ações que têm alguma importância, porém são absolutamente inócuas do ponto de vista da reversão do cenário de penúria generalizado. Afinal, quem tem condições de ter uma boa alimentação ou fazer o que gosta com salários miseráveis?

É preciso entender que a maior parte da campanha em torno da saúde mental não é eficaz. Enquanto o impacto dos baixos salários, falta de emprego e condições precárias de trabalho seguirem sendo omitidos, nenhuma melhora significativa na saúde mental geral da população será alcançada. É preciso ir além das “soluções” individuais e trabalhar na promoção de soluções coletivas. Caso contrário, seguiremos condenados não só à miséria, mas também ao colapso mental.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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