O articulista Aldo Fornazieri escreveu um texto para o portal Brasil 247 intitulado Crise de confiança e crise de governo, dizendo que:
“A sociedade não acredita na política econômica, na contenção da inflação e na redução do gasto público. Quanto maior for a desconfiança sobre a capacidade do governo em controlar os gastos, mais altos serão os juros que ele terá de pagar. Há, na esquerda, uma crença de que é possível aumentar o endividamento público e, ao mesmo tempo, reduzir a taxa de juros. No entanto, nas condições do Brasil, isso é uma ilusão.”
Não é verdade que o problema seja a “desconfiança sobre a capacidade do governo em controlar os gastos”, afinal, o Plano Haddad efetivamente cortou gastos sociais e impôs um teto ao salário mínimo. Foi a cupidez dos banqueiros que jogou na lata do lixo toda a economia feita por Haddad em cima das massas paupérrimas do País e aqui, temos um exemplo concreto do motivo pelo qual o endividamento cresce. Não se trata de uma incompetência na formulação da política econômica, mas um achaque dos banqueiros para engordar seus lucros.
É claro que o imperialismo quer levar o debate para o ângulo que os favorece, mas é um golpe. Não se trata de um problema tão subjetivo quanto “confiança”, mas de uma pressão para que o governo entregue mais.
A política dos banqueiros não é tão difícil de perceber e quem brigou na escola sabe: se o governo cedeu, é porque está fraco. Política, finalmente, não é tão diferente de uma briga do 5º ano.
Transportada para a política, a premissa básica dos conflitos humanos leva a um desenvolvimento maior, onde a parte que ceder, se enfraquece ainda mais. Pode, portanto, entregar mais parcelas do orçamento federal aos piores criminosos do planeta, vampiros dedicados a sugar o povo brasileiro e que estão com a faca no pescoço do presidente Lula para garantir mais e mais.
Não se trata de um problema de percepção ou confiança na política econômica, mas de uma luta de forças entre as classes, onde os trabalhadores se recusam a serem pilhados enquanto a classe dominante, pressiona para garantir a manutenção de um sistema que assegure os seus privilégios. Quando Fornazieri menciona que a desconfiança nos gastos públicos leva a juros mais altos, o que ele faz efetivamente é adotar a política confusionista dessa classe dominante e com isso, tornar-se instrumento da pressão para o governo a se curvar ainda mais às exigências dos vampiros. Indo além em sua defesa dos parasitas do sistema financeiro, Fornazieri continua:
“O presidente Lula e alguns líderes do PT fizeram discursos considerados inconsequentes, que minaram a confiança no governo. Mesmo quando Gabriel Galípolo e alguns diretores do Banco Central, indicados pelo atual governo, votaram a favor da elevação da taxa de juros, Lula e esses líderes continuaram a acusar o então presidente do BC de ser um ‘traidor do Brasil’. Essa postura gerou incoerências: afinal, como ficariam Galípolo e os diretores que seguiram na mesma linha? Esse tipo de conduta enfraquece a credibilidade do governo.”
O que enfraquece o governo não é a crítica pública aos juros altos nem os discursos do presidente Lula ou de lideranças do PT, mas a contradição gritante entre os interesses progressistas das massas operárias que elegeram o governo e os interesses dos banqueiros, que têm atuado como verdadeiros arquitetos da política econômica defendida por Fornazieri. Gabriel Galípolo e outros diretores alinhados ao sistema financeiro representam, na prática, essa imposição de um projeto que não corresponde às demandas populares por desenvolvimento industrial, emprego e salários. Esse choque não apenas desmobiliza as bases que esperavam uma política econômica que melhorasse os padrões de vida dos trabalhadores, mas também fragiliza o governo diante das forças conservadoras, que vê o governo fragilizado e incrementa a pressão.
Essa conjuntura de confusão e contradição tem uma origem clara: a submissão da esquerda ao programa da direita via a política da frente ampla. Fornazieri, ao criticar o governo por seus supostos “discursos inconsequentes” e ao endossar a agenda da austeridade financeira como uma solução inevitável, não só desconsidera a verdadeira causa das crises enfrentadas pelo governo, como também reforça a pressão direitista que fragiliza as lideranças populares.
Seu posicionamento é um reflexo de como uma parte da esquerda, ao aderir à política da conciliação com os interesses da classe dominante, acaba deslocando-se para a direita e promovendo políticas que alimentam a própria crise que ele superficialmente analisa. No fundo, a crise que Fornazieri aponta não é outra senão o resultado direto da capitulação de um setor da esquerda às demandas da classe dominante.