O jornalista palestino-americano Ali Abunimah foi preso na Suíça e deportado sob a acusação de “ser um jornalista que fala em nome da Palestina”. Abunimah, diretor-executivo da publicação Electronic Intifada, foi detido horas antes de realizar um discurso na cidade de Zurique.
Quem é Abunimah?
Ali Abunimah é um jornalista e ativista americano de 53 anos, descendente de palestinos, que defende a criação de um único Estado palestino como solução para o conflito gerado pela ocupação israelense. Autor que se autodenomina uma “arma de instrução em massa da Palestina”, ele detalha suas concepções no livro One Country: A Bold Proposal to End the Israeli-Palestinian Impasse.
Também autor de The Battle for Justice in Palestine, Abunimah já publicou artigos impactantes em veículos como The New York Times, Los Angeles Times, The Guardian e Al Jazeera.
O que é a Electronic Intifada?
A Electronic Intifada (EI) é uma publicação online sediada em Chicago, dedicada a abordar o conflito israelo-palestino sob uma perspectiva palestina. O veículo se define como sem fins lucrativos e independente.
Em 2010, a organização pró-Israel NGO Monitor, com sede em Jerusalém, descreveu a EI como “um sítio político e ideológico explicitamente pró-palestino”, acusando-o de promover “propaganda anti-Israel”.
Desde sua fundação, em 2001, a publicação tem denunciado o sionismo e defendido a causa palestina, obtendo impacto internacional.
Como ocorreu a prisão?
O procedimento foi irregular desde o início. Na sexta-feira (24), Abunimah foi interrogado pelas autoridades de Zurique ainda no aeroporto, logo após entrar no país. Ele foi detido no sábado, pouco antes de discursar em uma palestra em Zurique, na qual denunciaria o genocídio palestino e defenderia a causa do povo palestino, o que gerou indignação entre os defensores dos direitos humanos.
Abunimah permaneceu preso por três dias e foi informado apenas que teria “infringido a lei suíça”, sem que houvesse qualquer especificação formal da acusação. Segundo a agência de notícias Reuters, no domingo, a polícia suíça citou uma “proibição de entrada” e outras medidas relacionadas à lei de imigração como justificativa para sua detenção.
“Meu ‘crime’? Ser um jornalista que fala pela Palestina e contra o genocídio de Israel e a selvageria colonial”, escreveu Abunimah.
Ele relatou ter ficado “sem comunicação com o mundo exterior, em uma cela 24 horas por dia” e recebeu seu telefone apenas no momento de sua deportação, quando foi levado ao portão do avião que o transportou para Istambul.
“Essa provação durou três dias, mas foi suficiente para me fazer admirar ainda mais os heróis palestinos que suportam meses e anos nas prisões do opressor genocida”, declarou Abunimah. “Mais do que nunca, sei que temos uma dívida com eles que nunca poderemos pagar. Todos eles devem ser livres e permanecer como nosso foco.”
Embaixada norte-americana
A Embaixada dos Estados Unidos em Berna manifestou-se de forma superficial sobre a prisão de um cidadão norte-americano. Um porta-voz afirmou que forneceram “assistência consular apropriada” após tomarem ciência do caso, mas recusou-se a tecer mais comentários.
Já a embaixada suíça em Washington, DC, não respondeu aos pedidos de informações feitos pela Al Jazeera.
Campanha contra a liberdade de expressão
A detenção de Abunimah foi amplamente condenada, incluindo por especialistas da ONU, como um ataque à liberdade de expressão. No sábado, a relatora especial da ONU para a liberdade de opinião e expressão, Irene Khan, classificou a prisão como “uma notícia chocante” e pediu sua libertação imediata.
A relatora especial da ONU sobre os direitos humanos nos territórios palestinos ocupados, Francesca Albanese, também solicitou uma investigação sobre o caso. “O clima em torno da liberdade de expressão na Europa está se tornando cada vez mais tóxico, e todos nós deveríamos estar preocupados”, afirmou Albanese em suas redes sociais.
Desde a operação Dilúvio de Al-Aqsa, em 7 de outubro de 2023, que marcou uma vitória da Resistência Palestina, o imperialismo tem intensificado ações de censura e repressão, especialmente na Europa.
Esse movimento é evidente em países como Reino Unido e França, com ocorrências de prisões, detenções arbitrárias e apreensões ilegais. Em outubro de 2024, a polícia antiterrorista britânica invadiu a casa do colega de Abunimah no Electronic Intifada, Asa Winstanley. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) classificou o caso como parte de um “padrão perturbador de utilização de leis antiterroristas como arma contra jornalistas”.
Atropelo aos direitos democráticos
Todo o procedimento envolvendo a prisão de Ali Abunimah é um exemplo claro de repressão aos direitos democráticos, refletindo o desrespeito a garantias fundamentais, como a liberdade de expressão.
Se antes havia a ilusão de que alguns países europeus representavam Estados de direito e bem-estar social, a crise imperialista tem desfeito essas percepções. Em meio a um contexto de intensificação da crise, os regimes políticos burgueses não conseguem mais sustentar os direitos democráticos, recorrendo a ações repressivas para garantir sua sobrevivência.