HISTÓRIA DA PALESTINA

Richard Nixon: um antissemita notório e um sionista radical

O mesmo Nixon que tinha uma aversão pública e notória dos judeus, entregou mais de 22 mil toneladas de equipamentos militares à ditadura sionista para esmagar os países árabes

Em maio de 2023, o sítio Torah Jews, ligado à organização judaica antissionista homônima, publicou uma análise sobre gravações divulgadas pelo Nixon Presidential Library and Museum que, mais do que lembrar o quanto o ex-presidente dos Estados Unidos Richard Nixon hostilizava os judeus, demonstra como o antissemitismo pode coexistir o sionismo. As fitas incluem conversas de 1973 entre Nixon e seu conselheiro de segurança nacional, Henry Kissinger, após uma reunião com a então primeira-ministra de “Israel”, Golda Meir, na Casa Branca. “Nixon e Kissinger rejeitaram brutalmente as solicitações de Meir para ajudar os judeus que desejavam deixar a União Soviética”, destaca o artigo Nixon Tapes Prove that Anti-Semitism and Zionism Go Hand in Hand (“Gravações de Nixon provam que o antissemitismo e o sionismo andam de mãos dadas”, em tradução livre).

O sítio lembra um encontro no qual Meir apelou ao presidente dos Estados Unidos para que ajudassem judeus soviéticos, mas Nixon e Kissinger ignoraram os pedidos com comentários depreciativos. Nixon foi além ao instruir sua secretária a barrar judeus “não alinhados” a seus interesses em um jantar de Estado em homenagem a Meir, que ele chamou de “jantar judaico”. Em uma das gravações, Nixon declarou: “os judeus têm uma personalidade agressiva, abrasiva e desagradável.”

O antissemitismo de Nixon não é uma novidade. O sítio lembra ocasiões em que o verdadeiro sentimento do então mandatário norte-americano com os judeus se tornou público:

“‘Os judeus estão em todo o governo’, reclamou Nixon ao seu chefe de gabinete, H.R. ‘Bob’ Haldeman, em uma reunião gravada no Salão Oval. Nixon disse que os judeus precisavam ser colocados sob controle, colocando alguém ‘no comando que não fosse judeu’ nos principais órgãos. Washington ‘está cheia de judeus’, afirmou o presidente. ‘A maioria dos judeus é desleal.'”

Ainda, as gravações deixam claro sua visão contraditória: ao mesmo tempo em que fazia ataques aos judeus norte-americanos, Nixon ordenou, durante a Guerra de Outubro em 1973, a operação Nickel Grass, um colossal esforço logístico para enviar armamentos ao enclave imperialista. Foram mais de 22 mil toneladas de equipamentos militares entregues em poucas semanas, uma ação que salvou o país em um momento crítico.

A explicação para essa dualidade, segundo Torah Jews, remonta às origens do sionismo. Líderes sionistas, como Theodor Herzl, enxergavam o antissemitismo como uma ferramenta estratégica. Herzl chegou a afirmar que “os antissemitas serão nossos melhores amigos”, sugerindo que o preconceito contra judeus seria útil para pressionar a imigração à Palestina.

Antissemitismo e sionismo: raízes históricas interligadas

A relação entre antissemitismo e sionismo não é um paradoxo, mas sim parte de um padrão histórico, argumenta a Torah Jews. Durante a Primeira Guerra Mundial, Edwin Montagu, único judeu no gabinete britânico na época da Declaração Balfour, denunciou o sionismo como uma forma de antissemitismo. Ele temia que a criação de um Estado judeu fosse usada para justificar a exclusão de judeus da vida social e política em outros países.

Essa visão se concretizou de maneira trágica durante o Holocausto. Líderes sionistas influentes bloquearam iniciativas que poderiam ter salvo milhares de judeus. Nos anos 1930, o presidente Franklin Roosevelt planejou acolher 150 mil refugiados judeus nos Estados Unidos, mas a liderança sionista o dissuadiu, argumentando que isso enfraqueceria a luta pela criação de um Estado judeu. Em 1942, uma proposta britânica de acolher judeus em Maurício foi rejeitada pelos mesmos motivos.

Após a Segunda Guerra Mundial, o mesmo padrão se repetiu. Em 1947, o congresso norte-americano apresentou o projeto de lei Stratton Bill, que permitiria a entrada de 400 mil refugiados judeus nos Estados Unidos. Novamente, os sionistas bloquearam a medida, priorizando a imigração para “Israel” em detrimento da segurança imediata dessas pessoas.

O caso dos judeus soviéticos

Torah Jews destaca que a emigração de judeus soviéticos nos anos 1970 ilustra como o sionismo instrumentalizou crises humanitárias para fortalecer a ditadura sionista. Sob forte campanha de Golda Meir, os EUA pressionaram a União Soviética a permitir a saída de judeus. Contudo, a maioria deles foi enviada para “Israel”, onde enfrentaram condições difíceis.

Os sionistas organizaram protestos globais para caracterizar os judeus soviéticos como vítimas de perseguição, mas, segundo o sítio, a real motivação era aumentar a população e a força de trabalho em “Israel”. Assim, judeus que poderiam ter reconstruído suas vidas em outros países foram concentrados em um território conflituoso, tornando-se alvos de violência e exclusão.

Reflexões contemporâneas

O apoio de Nixon a “Israel”, apesar de seu antissemitismo explícito, ilustra como interesses estratégicos muitas vezes se sobrepõem a princípios morais. Para os sionistas, o respaldo de líderes como Nixon é visto como uma vitória, mas, para a Torah Jews, ele reforça a crítica de que o sionismo coloca interesses políticos acima do bem-estar dos judeus.

O artigo conclui com uma crítica contundente ao impacto do sionismo na segurança global dos judeus. Em vez de promover a dispersão judaica como um meio de proteção, o sionismo concentra judeus em “Israel”, exacerbando tensões regionais e tornando-os mais vulneráveis. A organização alerta que o apoio imperialista ao sionismo muitas vezes esconde uma face de antissemitismo, mascarando preconceitos sob a justificativa de proteção ao Estado judeu.

“Do ponto de vista não sionista, o Estado de ‘Israel’ não é solução alguma; na verdade, ele contribui para o problema [antissemitismo]. Ao exacerbar o antissemitismo e concentrar judeus de muitos países em um só lugar, ele torna os judeus mais vulneráveis a outra tragédia, se D-us (Deus) não permitir. Espalhar os judeus pelo mundo, onde eles são cidadãos pacíficos e leais a seus governos, foi a maneira de D-us (Deus) proteger os judeus. O museu deveria representar esse ponto de vista também ou então omitir completamente qualquer referência ao estado sionista.”

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