Cláudio Corbo

Professor, Geógrafo, Mestre em Ciência Política e colunista do Diário Causa Operária (DCO)

Coluna

A relevância da Sociologia de Jessé Souza para o Brasil!

Este artigo busca compreender a importância da obra do autor, não apenas para as ciências sociais, mas também para a metodologia sociológica

Grande parte de toda obra do pesquisador Jessé Souza é dedicada à análise de como se formaram, no decorrer da história, as classes sociais brasileiras e como se manifestam conceitualmente nos dias atuais.

Nesse sentido, este artigo busca compreender a importância da obra do autor, não apenas para as ciências sociais, mas também para a metodologia sociológica, bem como para possibilitar um diagnóstico da atual conjuntura política do país.

Segundo o autor, toda a sociedade humana, desde a antiguidade, de alguma maneira protege os interesses das classes dominantes, em todos os campos da vida, e isso implica em uma distorção dos sentidos, o que prejudica a análise sociológica. De acordo com Souza (ano) as classes que possuem privilégios injustos têm que fazer esses privilégios parecerem justos para os demais, criticando a falta de percepção, da maioria dos pesquisadores da área, de quais são as classes sociais atuais e porque essa percepção é escondida, justamente para legitimar todos os privilégios materiais e imateriais que estão em disputa.

(A tolice) Nesse viés, o pesquisador aponta para o equivoco das pesquisas de cunho meramente economicista, que tratam da questão das classes sociais focados apenas na renda e, por outro lado os culturalistas (ver termo) que ignoram a influência econômica na construção das classes. Propõe uma junção analítica entre essas visões de mundo. Pois, os privilégios oriundos da origem familiar acabam desencadeando a diferença social entre os que nascem para ser vencedores e os que nascem para ser perdedores. Seja através do capital econômico, que para Jessé é o fundamental, mas também com imensa importância do capital cultural. Ou seja, as pessoas que pertencem a elite e as camadas da classe média são estimuladas desde a infância a desenvolver aptidões para o “espírito” (ver conceito de Platão) e as classes baixas para serem corpo, determinando se executarão trabalhos braçais ou intelectuais na vida adulta, o que é de suma importância para o prestígio de um determinado individuo no espaço em que vive.

Tornar invisível a formação das classes e suas camadas foi uma tarefa desenvolvida pela intelectualidade da USP, através da criação do mito brasileiro, que seriamos inferiores a outras nações pela nossa origem portuguesa. É através do mito criado pela ciência, que década após década os privilégios seguem se reproduzindo sem que se faça nenhuma alteração nessa característica social. Porque após a legitimação acadêmica, fica facilitada a inserção dessa ideia conservadora do mito brasileiro se tornou uma verdade absoluta para a maioria dos intelectuais, mídia e um mecanismo de idolatria ao mercado.

Ralé

A renda é vista como sendo fundadora das classes, sendo a gênese do que faz a real distinção entre as pessoas e as classes. É essa formação que nunca imaginamos que são de classe, que imaginamos que todos possuímos como, por exemplo, a capacidade que é burguesa, histórica, recente. Depois a percepção de que o futuro é mais importante que o presente, que o autor chama de disposição ao pensamento prospectivo, isso significa que a pessoa pode aceitar uma renuncia momentânea de prazeres e necessidades, em nome de um bem maior no futuro.

Isso algumas classes possuem e outras não: a capacidade do autocontrole, a capacidade da disciplina, a capacidade da concentração. Algumas classes são mais capazes de se concentrar.

Isso foi percebido através do estudo empírico de Souza com a classe dos excluídos do Brasil, que ele denomina provocativamente de “ralé brasileira”, o autor explica que o conceito não foi desenvolvido para insultar essa classe, mas para mostrar seu abandono. Abandono objetivamente produzido, a sociedade brasileira aceitou conviver com isso e algumas outras sociedades não aceitaram.

Esses seres nascem condenados a não terem inclusão em nenhuma das esferas sociais. Não é uma família que é excluída, mas é toda uma classe, existe a família, mas sempre uma família de classe.

E essas incapacidades, como a falta de concentração, foi percebida nos relatos de alguns entrevistados da “ralé” ao afirmarem que quando crianças ficavam horas olhando para a lousa sem compreender o que estava escrito ou o que os professores explicavam.

Essa relação materna e paterna é extremamente importante, pode ser o pai ou a mãe, ou pessoas que ocupam esses lugares; isso é decisivo para ver se a pessoa vai poder fazer ou não, para onde ela vai poder sentir ou não. E é exatamente essa construção diferencial entre seres humanos que faz com que as classes sejam homogêneas para dentro, tendam a ser.

se a criança não recebe os nutrientes necessários, isso determinará o seu futuro. Existem diversos níveis deficitários, tais como proteínas, glóbulos brancos, tiamina, e etc, que determinam uma maior vulnerabilidade a doenças e dificuldades no crescimento e no desenvolvimento cognitivo.

Para Figueroa Pedraza e Queiroz (2011), não há dúvidas de que esse fator é determinante na vida das pessoas, especialmente nos primeiros anos de vida: “a nutrição tem um papel muito importante na promoção do crescimento físico, no desenvolvimento neuropsicomotor e no combate às doenças infecciosas que afetam, principalmente, as crianças” (FIGUEROA PEDRAZA E QUEIROZ, 2011, p. 160).

O fato é que para ter um desenvolvimento saudável, o corpo humano necessita de nutrientes. Os nutrientes são compostos tanto por macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídios), como por micronutrientes, tais como: vitaminas hidrossolúveis – vitaminas C e do Complexo B – e as lipossolúveis – vitaminas A, D, E e K – e os minerais, sendo eles – macrominerais – Ca, P, S, Mg, Na-Ci-K – e microminerais – Fe, Zi, I, F, Mn-Cu-Se (TIRAPEGUI, 2002). Nesse sentido, Figueroa Pedraza e Queiroz (2011, p. 168) ressaltam que “o ferro, o zinco e a vitamina A são os micronutrientes que mais limitam o crescimento infantil e o desenvolvimento cognitivo”. A partir deste exemplo é possível mensurar a grande importância da condicionalidade da saúde para o bom desenvolvimento dos filhos e filhas da Ralé.

Por não possuírem a capacidade emocional e moral, que esta relacionada aos exemplos que se tem em casa. Por exemplo, o filho de uma família operária tem a tendência a brincar com brinquedos manuais. Ele não estará brincando com jogos educativos ou com histórias que estimulem a imaginação, com o amor dos pais direcionado para a atividade de leitura que vai estimula-lo por imitação, por amor e admiração a figura que se tem dos pais.

De acordo com as esferas do reconhecimento de Honneth, é possível vincular as emoções e os estímulos afetivos em conexão com as experiências vivenciais, ou seja, os níveis de amor e de afeto são inerentes à noção da importância de si mesmo. A autoestima está ligada à relação de amor, por isso, há um espaço no qual o ser humano pode se desenvolver a partir desse cuidado afetivo. Para Honneth (2003a), a manifestação afetiva e o cuidado expressam o reconhecimento recíproco. Honneth (2003a) denomina como uma autorrelação prática a manifestação afetiva de confiança que se estabelece com as pessoas do círculo familiar e de amizades. Na criança, isso desenvolve o sentimento de autoconfiança.

Segundo Souza (2009), “toda determinação social que constrói indivíduos fadados ao sucesso ou ao fracasso tem que ser cuidadosamente silenciada” (SOUZA, 2009, p. 43), pois é justamente através do silenciamento deste processo que se torna possível delegar aos pobres a responsabilidade e a “culpa” pelo seu fracasso. . Rego e Pinzani (2014a) observam que os pobres são levados a pensar que é humilhante ser pobre, que merecem ser humilhados pela condição em que vivem, por isso, essas pessoas “aceitam sua condição e a consideram como um resultado de um fracasso pessoal, não de um arranjo socioeconômico determinado” (REGO; PINZANI, 2014a, p. 56).

Souza (2009) ressalta que o silenciamento também conduz a um “esquecimento” de todo um conjunto de predisposições comportamentais práticas necessárias para alcançar o sucesso. Predisposições estas que são habilidades sociais, tais como autocontrole e disciplina para organizar e cumprir uma rotina de estudos, por exemplo. Estes aspectos que se desenvolvem em âmbito privado, individual e possuem ressonâncias no âmbito social são silenciados e esquecidos para serem utilizados como subterfúgios, seja de culpabilização do pobre pela sua condição de precariedade, seja pelo privilegiado que alcança sucesso na vida por empenhar grandes esforços e trabalho árduo.

É importante ressaltar que não podemos pensar apenas num viés econômico, até porque a família, bem como os ensinamentos e as responsabilidades que provem dela ultrapassam as questões relacionadas à economia, ou seja, há o envolvimento de questões morais, valorativas, existenciais. As famílias transmitem “aos filhos, quer tenham consciência disso ou não, toda uma visão de mundo e de “ser gente” que é peculiar à classe a que pertencem” (SOUZA, 2009, p. 45). Assim, “O aprendizado familiar é afetivo, ele só existe porque existe também a dependência e a identificação emotiva e incondicional dos filhos em relação aos pais [ou pessoa de referência]” (SOUZA, 2009, p. 45).

Em sua maioria, os filhos desses trabalhadores das classes oprimidas já se inserem no mundo do trabalho no início da adolescência, pois eles precisam auxiliar com o orçamento da família, de acordo com Rego e Pinzani (2014a): “a participação na vida econômica começa muito cedo: os filhos de núcleos familiares pobres começam a trabalhar bem jovens, às vezes ainda como crianças, seja ajudando nos afazeres de casa, seja em trabalhos fora de casa” (REGO; PINZANI, 2014a, p. 186). Este fato nos permite perceber uma distinção em relação às crianças e adolescentes que possuem tempo disponível para estudar e brincar e àquelas que precisam conciliar os estudos com trabalho. Esta diferença também pode ser percebida no exemplo do documentário argentino, citado anteriormente.

A partir desta diferença, já podemos vislumbrar quais as possíveis posições no mercado de trabalho que, quando adultos, estas crianças e adolescentes poderão ocupar. É provável que os filhos das classes privilegiadas tenham a oportunidade de ingressar em uma universidade pública e/ou em uma boa universidade privada, buscando as profissões que recebem os melhores salários, etc. Já os filhos das classes oprimidas, que aprendem desde a infância o trabalho braçal, mais penoso, que exige mais esforço do corpo, do que da mente provavelmente vão ficar com as profissões com remunerações inferiores. Ou seja, há um processo de invisibilização dos indivíduos que provém da “ralé”, salientando a invisibilidade moral que se apresenta no cotidiano do pedinte, do morador de rua, da pessoa que vivem em situação de vulnerabilidade social:

[…] um “farrapo humano” remexendo no lixo, em um local que ele nunca frequentaria a não ser para isso (ou para pedir esmola), sujando a paisagem de quem de outra forma não tem que conviver diariamente com a miséria, com sua feiura, se não fosse esse mecanismo peculiar da “invisibilidade moral”. Essa invisibilidade, como já apontado, não é um não-perceber. (…) ela é mais um “olhar através” (look through); é perceber fisicamente a presença do outro, e, mesmo sem se dar conta, ignorá-la por completo; é decretar a não relevância social do outro. (MACIEL; GRILLO, 2009, p. 266).

Portanto, há um grande esforço por invisibilizar toda uma parcela da população, o que “exige gestos ou modos de comportamento que deixam claro aos demais que não somente não são vistos acidentalmente, mas que não são vistos intencionalmente” (HONNETH, 2011, p. 169-167 – tradução nossa).

Como reitera Jessé Souza, “na família dos excluídos, tudo milita em sentido contrário” (SOUZA, 2017, p. 97). Vale ressaltar que milita ao contrário, pois o acesso e permanência na escola, bem como a busca de uma mudança na condição social, a partir da educação, exige que se acredite que o futuro possui maior importância que o presente. O que se torna um tanto difícil de ocorrer, pois a pobreza econômica acaba exigindo que as pessoas se concentrem no “aqui” e no “agora”, “por conta das urgências da sobrevivência imediata, toda a atenção se concentra necessariamente no presente e nunca no futuro, posto que este é incerto” (SOUZA, 2017, p. 100).

A ciência é importante não se discute nenhum assunto que não tenha um especialista dizendo se isso é verdade ou não. Por aí é ensinado nas escolas, universidades e popularizado pela ideia.

Escraviza uma sociedade inteira por ideias. O que importa é como a obra foi apropriada. Falha grave da esquerda, pois acham que mexendo na economia as outras esferas mudarão por um milagre. Não é verdade, isso foi mostrado mais uma vez.

Proposição de que haja uma imprensa múltipla ou então, que possua voz múltipla. Não se trata de censurar a imprensa. São concessões públicas, possuem o compromisso da isenção, porém, não o são.

Reforma política: A imprensa tocou nesses assuntos todos como se fosse uma questão pessoal e de um único partido, ou seja, apenas o PT. Houve uma “fulanização” da corrupção por parte da imprensa. O melhor caminho para se perpetuar, porque vai mudando os nomes oportunisticamente. Podendo trocá-los, pensando agora é fulano de tal, depois o outro. Sobre reforma política não se fala na mídia.

O principal elemento que nós temos no congresso hoje é o financiamento privado. Se você é rico vais comprar os caras e dizer: “Olha, você está aí pra isso, para defender os meus interesses”, não passar nenhuma lei contra eles.

É uma política comprada com muito dinheiro. Nossa política tem um nível baixíssimo e miserável, porque ela é uma política comprada.

A reforma tem que ver isso, não só o financiamento público, que é o principal, mas também tornar transparente a coisa que é mais importante na corrupção, que é: a relação entre quem tem o dinheiro e o poder. Porque você pode comprar o poder de outras formas que não seja o financiamento privado.

Acho que os “tempos sombrios” vieram para ficar por algum tempo. Tenho um otimismo: a imprensa que faz essa manipulação tão óbvia.

Em um país desigual e com uma elite escravocrata, míope e de rapina, como nós temos. Não há como a esquerda não ganhar todas as eleições para presidente.

A não ser que seja uma esquerda completamente incapaz.

Historicamente o tema da corrupção vem à tona no país como desculpa para derrubar qualquer governo que faça políticas reformistas em prol da maioria da população, foi assim com Getúlio, João Goulart, Lula e Dilma. O que ocorre no momento é uma “fulanização” da corrupção em torno de um partido político, ou seja, se define de forma oportunista o que é, e o que não é corrupção. A política no Brasil por si só é corrupta, pois é uma política comprada com o financiamento privado de campanhas causando a confusão dinheiro e poder. Nesse modelo a elite econômica opera com simplicidade comprando os políticos que depois de eleitos defendem os interesses de seus financiadores. Além de comprar políticos, a elite compra a imprensa burguesa para escolher os assuntos que são pauta do dia ou não.

O golpe de 2016 já havia sido ensaiado em 2005 na ação penal 470, conhecido como “mensalão”. Mas em 2005 não ocorreram manifestações expressivas da população que dessem uma ideia de descontentamento “popular” com o governo federal. Isso ocorre em junho de 2013 com as manifestações que marcam o ponto de mudança nas altas taxas de aprovação dos governos petistas.

De acordo com o sociólogo Jessé Souza essas manifestações marcam o início do cerco ideológico, até hoje mal compreendido pela grande maioria da população. Para o autor

“a grande questão é como protestos localizados com foco em políticas municipais foram manipulados de tal modo a se “federalizarem” e atingirem a popularidade da presidente Dilma, que aquela altura gozava dos mais altos índices de aprovação no seu governo” (p.87, 2016).

Existe uma linha clara de continuidade entre as glorificadas e midiaticamente manipuladas manifestações de junho de 2013, que alguns partidos míopes ditos de esquerda consideram um movimento revolucionário, e o golpe de 2016. A mídia usa essas manifestações para começar o golpe, federalizando os problemas, praticando diariamente violência simbólica contra a Presidenta Dilma que 2 meses após essas manifestações tem queda de 35% na sua popularidade.

Na época o Movimento Passe Livre (MPL) lutava contra o aumento nas tarifas de ônibus, eram estudantes de classe média, mas também das classes trabalhadoras de São Paulo que começavam a manifestar um descontentamento que ia além do aumento das passagens. Pois os jovens da classe trabalhadora, que faziam parte do movimento, tinham acesso à universidade, mas não tinham acesso a empregos. Um fenômeno semelhante aconteceu com os jovens na Europa depois da segunda guerra mundial com o aumento do acesso a educação na escola e na universidade. Esse fenômeno de acesso a educação formal com falta de acesso a empregos correspondentes a formação dos jovens foi denominado por Pierre Bourdieu (1979) de “inflação do diploma”.

A Presidenta Dilma reagiu às manifestações de modo confuso, apostando difundir a questão da reforma política como centro da discussão sobre corrupção, a mídia desconstitui isso, e por outro lado se abordou a corrupção como uma combatente dela sem criticidade e comprando o discurso de seus adversários. Nesses dois movimentos parece-nos que Dilma perdeu as rédeas do processo em curso e por vezes acreditou na pseudoimparcialidade da operação Lava Jato.

SOUZA (2016) toma o Jornal Nacional, da rede globo, como porta-voz da reação conservadora no Brasil. O autor observa que a primeira menção as manifestações ocorreu em 10 de junho de 2013, sendo a referência inicial negativa, onde o jornal destacava o “tumulto”, o tráfego e a chateação causada na população. Em 12 de junho, no Jornal Nacional, apareceu a palavra vandalismo em referência aos atos. Um dia depois a cobertura das manifestações seguiu a mesma linha, mas a PEC 37 foi mencionada pela primeira vez, isso evidencia o começo da articulação e parceria entre o aparato jurídico-policial e a mídia.

Essa PEC limitava a atividade de investigação criminal às policias federal e civil dos Estados, fato comum na maioria das democracias mundiais. Mas essa PEC contrariava os interesses do Ministério Público, que também almejavam o direito de investigar e acusar.

O Jornal Nacional começava a perceber o potencial crítico ao governo federal das manifestações, e no dia 17 de junho os protestos começaram a ser definidos como pacíficos tendo a bandeira do Brasil como símbolo. Nesse momento as manifestações eram consideradas “expressões democráticas”. Começou-se a enfatizar bandeiras específicas, como os protestos contra os gastos da copa do mundo, a PEC 37, e abstratamente contra a corrupção. Esses pontos começam a tornar o debate federal. Alguns dias depois esse mesmo jornal disse que “a globo pretende dar voz aos manifestantes” e “quem é contra a PEC 37 não precisa cobrir o rosto”. Surgiu à bandeira antipolítica, antipartidária e a inflação, corrupção e custo de vida se tornaram as bandeiras que substituíram a questão da passagem de ônibus. A PEC 37 se tornou a senha de apoio midiático as corporações jurídicas do Estado e seu projeto de aumento de poder corporativo, privilégios e apropriação da agenda política estatal(SOUZA, 2016).

O projeto político que no governo federal que mais investiu em educação, saúde, moradia, combate a desigualdade, estava sendo desmoralizado. A mídia golpista confundia com facilidade a cabeça de parte da população sobre as atribuições de Município, Estado e União. Assim se inicia o golpe de Estado, consumado em 2016.

Em 2013 já estão claras a maioria das forças que se articulam para dar o golpe em 2016. Consolidasse a aliança entre a classe média conservadora, a mídia da casa grande, os grandes empresários. A parceria dessas forças com o aparato jurídico e policial do Estado toma corpo em 2015 com a criminalização quase que exclusiva de lideranças do Partido dos Trabalhadores.

O golpe de Estado em curso se deu pela conspiração da imprensa servil ao dinheiro com os interesses corporativos do setor jurídico no comando da operação Lava Jato. É nesse momento que surge a figura do juiz Sérgio Moro, representando o combate “objetivo”a corrupção que era abstrato nas “jornadas de junho. Em grande medida essa articulação acontece porque as forças reacionárias sabem que em um país onde poucos tem privilégios historicamente, um partido de esquerda minimamente organizado que promova minimamente o acesso a direitos básicos, negados, a mais de 80% da população se manteria no poder via voto popular por muito tempo.

SOUZA (2016) explica o papel de Moro como vanguardista da ética

“Sérgio Moro foi a figura perfeita para a estratégia do golpe funcionar, seja para a classe média nas ruas que o via como um dos seus, seja para os membros do aparelho jurídico-policial que o percebiam como a encarnação perfeita do partido corporativo que se traveste de partido do bem comum. A casta jurídica tem 2 elementos centrais de ética corporativa: 1) A legitimação pelo concurso e 2) Legitimação, dizendo que faz algo por todos” (121-122)

Agora a mídia e a classe exploradora arranjaram alguém dentro do Estado para dar uma legitimidade moral ao seu discurso de “éticos” para a população que por ter a maior parte de seu tempo roubada por longas jornadas de trabalho não consegue acessar meios que questionem com uma velocidade instantânea o discurso dos grandes meios de comunicação. A elite estimula e a mídia naturaliza uma grosseira oposição entre Estado corrupto e mercado virtuoso.

Como um golpe jurídico contra a presidenta Dilma Rousseff era impossível, devido a sua integridade e por vezes ingenuidade política, aparece o golpe parlamentar. Essa reflexão é importante, pois o golpe não teria acontecido sem que houvesse uma politização do judiciário personalizada na figura de Moro.

Segundo Dowbor (2015) “a parte da renda familiar que vai para o pagamento das dívidas passou de 19,3% e 2005 pra 46% em 2015”. A consequência disso é que o trabalho de todas as pessoas vá para as contas bancárias de 1% de privilegiados na população brasileira. Isso não é corrupção? Por quê?

Simples, a classe média brasileira foi feita de estúpida, saindo as ruas para defender interesses que não são seus.

A elite financeira, a imprensa e o parlamento comprado têmseu governo, sem apoio popular. “Como qualquer espectador de filmes de gangsters sabe muito bem, assaltar um banco é fácil; difícil é dividir o saque depois” (SOUZA, 2016, p.134).

* As opiniões do colunista não necessariamente refletem a opinião editorial deste Diário

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.