As polícias Militar e Civil do Rio de Janeiro, a mando do governo Cláudio Castro, realizaram uma operação fascista nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, na madrugada desta sexta-feira, 24.
Numa operação típica do fascismo, ao modelo do que faziam as tropas nazistas e as forças coloniais francesas e inglesas, por exemplo, cerca de 500 policiais cercaram as comunidades às quatro horas da manhã, buscando pegar todos desprevenidos, e começaram a invadir.
As facções que dominam a região responderam trocando tiros com os agentes, que não pouparam munições, colocando a vida dos trabalhadores dessas comunidades em perigo, cercados por tiroteios intensos. Desta forma, várias pessoas ficaram feridas.
Uma jovem mãe de 18 anos, Anna Luiza, foi baleada de raspão na cabeça enquanto estava deitada com o filho adotivo de 8 anos dentro de casa. Uma bala atravessou a parede, pegando de raspão sua cabeça e danificando seu celular, e ferindo o garoto com estilhaços.
“Estava deitada com meu filho, simplesmente o tiro entrou pela minha parede. Eu não tinha nenhuma janela, perfurou minha parede. Não deu tempo de levantar. No desespero, achei que fosse com meu filho”, contou ela. Mais tarde, socorrida por vizinhos, ela foi atendida no Hospital Getúlio Vargas e recebeu alta médica.
O jardineiro Carlos André Vasconcellos dos Santos, de 36 anos, não teve tanta sorte. Foi morto enquanto tomava café a caminho do trabalho. Um menor de idade, de 16 anos, também foi baleado e morto. Um idoso de 67 anos identificado como Geraldo Carlos Barbosa dos Reis foi baleado, levado para a UPA do Alemão e não resistiu. Além de mais duas vítimas fatais: Antonio Julio Claudio, de 53 anos, e um homem de 21 anos, identificado como Ryan Muniz de Oliveira.
Outro morador, Wander Souza dos Santos, de 21 anos, foi atingido dentro de casa e está internado. Uma moradora foi ferida no joelho e atendida no HGV. Outra, Nathalicia Joventino da Cunha, de 48 anos, foi atingida no braço perto do hospital, ao lado do filho, e também foi atendida no HGV. A idosa Isnaia Rangel de Souza, de 61 anos, foi levada para a UPA do Alemão, assim como outros três feridos.
Ao total foram cinco mortos e nove feridos — sendo um apenas da polícia, o policial militar Diogo Marinho Rodrigues Jordão, do Batalhão de Choque.
Todas essas vítimas são culpa exclusivamente da polícia e do governo do Rio de Janeiro, que, sem aviso prévio, durante a madrugada, enquanto vários trabalhadores dormiam e outros saiam para trabalhar, invadiram as comunidades com um verdadeiro exército de guerra, dispostos a atirar em qualquer direção, sabendo que as localidades estão tomadas por facções criminosas.
A vida dos trabalhadores, para o bando armado fascista de Cláudio Castro, fica em segundo plano. Vídeos de moradores do Alemão mostram diversas casas danificadas por balas perdidas, sendo que uma delas por pouco não foi reduzida a escombros. O cantor MC Poze do Rodo fez uma importante e comovente crítica, aos choros, em vídeo publicado nas redes sociais:
“Ninguém bota a cara, viado. Nós que temos que ficar aqui, ó, falando. O bagulho é a maior covardia com o trabalhador, parceiro. Morador atonteado, morador, uma menina me mandou, juro por Deus, infartando. Não tinha ninguém para levar o coroa para o hospital. Está de brincadeira, ninguém faz nada não”.
Em outro vídeo, ele explicou: “ontem, fui lá no Complexo do Alemão, entreguei mais de seis toneladas de alimento para a rapaziada que precisa. Olha a resposta do governo: operação. Aí morreu um jardineiro, um trabalhador. Aí você vai fazer uma música em cima disso daí: ‘ah, está fazendo apologia [ao crime]’. Apologia é o caralho, vocês não entendem a nossa revolta, nunca passaram por nada dentro de uma comunidade”.
Em outra postagem, ele diz: “é revoltante (…) Quem faz nós virarmos monstros, um moleque dessa forma, é o próprio Estado, que vai lá no morro agora e quebra a casa dos outros de tiro. Quebram tudo de tiro. Sabe o que vai acontecer? Morador que não tem nem de onde tirar, vai tirar um dinheirinho para reformar seu barraco, sua casa, sua janela. Com dois meses, um mês, uma semana, eles vão lá e quebram tudo de novo.”
Durante a operação, 15 linhas do Rio Ônibus tiveram de mudar o itinerário e quatro unidades de saúde ficaram fechadas: as clínicas da família Rodrigo Y Aguilar Roig, Klebel de Oliveira Rocha, Aloysio Augusto Novis e Felippe Cardoso suspenderam o início do funcionamento.
Mas, afinal, o que a polícia conseguiu em troca de todas essas mazelas? Um foragido da Justiça foi preso; algumas cargas supostamente roubadas foram apreendidas; estouraram um desmanche de veículos roubados; e localizaram um imóvel com cerca de 1 tonelada de entorpecentes. Ou seja, nada muito importante. Fizeram o terror contra os trabalhadores, feriram e mataram moradores, para nada.
Por isso, é preciso exigir o fim das polícias. O Partido da Causa Operária defende, além do armamento da população, um esquema de segurança formado nos próprios bairros, com agentes eleitos pelos próprios moradores e com “mandatos” revogáveis. Com certeza, se fosse alguém que conhece e se relaciona com as pessoas que moram nessas comunidades — seus familiares, vizinhos, amigos, etc. —- tal descaso não aconteceria.
Por outro lado, as polícias, a mando do Estado, atuam como verdadeiros esquadrões da morte, milícias fascistas que invadem bairros de trabalhadores de madrugada, sem dó nem piedade.