História da Palestina

A luta dos rabinos ingleses contra o sionismo antes de ‘Israel’

Antes da criação do Estado de “Israel” a esmagadora maioria dos judeus religiosos se opunham ao movimento sionista, o principal rabino inglês era radicalmente contra o Estado judeu

Antes da criação do Estado de “Israel” a divisão entre os judeus religiosos, isto é, a comunidade judaica verdadeira, e os sionistas, em grande maioria ateus, era muito clara. A linha majoritária do judaísmo era contra a criação do Estado de “Israel”. Um dos motivos práticos é que eles preferiam não imigrar da Europa ou preferiam os EUA à Palestina. E outro é que por questões religiosas os judeus não devem retornar em massa para terra prometida, só após a volta do messias. No Reino Unido o principal rabino era radicalmente contra o sionismo.

Um dos discursos do rabino Naftali Hermann Adler de 1898 foi transcrito e mostra muito bem essa realidade. Ele começa: “eu me pergunto: Já houve algum movimento semelhante a este na época dos profetas? Quando o povo judeu foi para o exílio babilônico, havia entre eles alguns que não encontravam descanso sob o governo inimigo, e o único pensamento deles o dia todo era voltar à sua terra. Os falsos profetas entre eles diziam para se rebelarem contra o rei da Babilônia”. Aqui ele questiona se já existiu algo semelhante ao sionismo, e começa a relembrar quando os judeus foram expulsos da Palestina pelos babilônios.

Ele segue: “naquele momento, o profeta Irmiahu escreveu uma carta de Jerusalém aos anciãos, sacerdotes e levitas que já haviam ido para o exílio. A carta dizia: ‘Assim diz Hashem Tzevaot, o Deus de Israel, a todos os exilados que eu exiliei de Jerusalém para Babilônia: Construam casas e habitem nelas, plantem jardins e comam seus frutos. Casem-se e gerem filhos e filhas; tomem esposas para seus filhos, deem suas filhas a maridos, para que eles tenham filhos e filhas, aumentem ali e não diminuam. E busquem o bem-estar da cidade para a qual eu vos exilei, e orem por ela a Hashem, porque no seu bem-estar vocês terão paz. Pois assim diz Hashem Tzevaot, o Deus de Israel: Não deixem que seus profetas e feiticeiros os enganem; não ouçam os sonhos deles, com os quais eles respondem às suas perguntas. Pois eles profetizam falsamente em Meu nome; eu não os enviei, diz Hashem… E vocês Me chamarão, e irão orar a Mim, e Eu os ouvirei. E vocês Me buscarão e Me encontrarão, se Me buscarem de todo o coração… e Eu restaurarei o seu cativeiro, e os reunirei de todas as nações, e de todos os lugares para onde os espalhei…’ (Yirmiyahu 29:4-9).

O rabino cita um dos textos sagrados judaicos que mostra que os judeus vivendo fora da terra prometida, a Palestina, não deveriam viver no país em que estivesse, deveriam desejar o bem estar daquele país e assim teriam paz. Essa é a tradição do judaísmo. Isso faz muito sentido pois assim a religião perde seu caráter regional, e se torna uma religião que pode existir em qualquer lugar. Foi assim que os judeus viveram por milênios na Europa, no Oriente Médio e na África sem criar nada parecido com o sionismo.

O rabino segue: “meus irmãos! Eu vejo este movimento com preocupação no coração, pois vejo-o como oposto à Torá  [livro sagrado dos judeus] de Hashem e à política. Há um grande perigo envolvido nele. Por isso, não vejo nele a grande qualidade do amor a Sião”. E segue com ainda mais afinco: “eles me perguntam: Se você é contra a ideia de um Estado judeu, e não acredita em estabelecer milhões de judeus na Terra Santa, como isso se concilia com todas as orações nas quais expressamos nossa esperança e desejo de retorno a Sião e às cidades de Judá?” E ele mesmo responde: “os livros dos profetas não dizem que o retorno a Sião depende dos nossos esforços, e ocorrerá sempre que quisermos que aconteça. Está dito explicitamente que a nossa redenção virá pela mão de Hashem, sempre que Ele decidir enviar-nos o Seu messias. Então todas as nações se unirão para trazer de volta nossos irmãos dispersos para a terra de nossos pais. Há algum sinal fraco de messias agora?”

Aqui está a tese tradicional do judaísmo após os romanos destruírem o templo de Herodes e os judeus se espalharam pelo império. O retorno à terra santa só acontece quando o messias voltar. Por isso os judeus se opunham, e até hoje se opõem ao sionismo. Por isso também que o sionismo era um movimento dirigido por ateus. A ideia de migrar em massa à Palestina era mais um nacionalismo moderno, mas reacionário, por ser financiado por banqueiros ingleses, do que qualquer tese religiosa.

O rabino então coloca: “a escritura diz, ‘Eu, Hashem, apressarei isso no seu tempo’ (Yishaya 60:22). Quando chegar o tempo da redenção, Eu apressarei. Sobre o versículo em Shir Hashirim 2:7, ‘Eu vos conjuro, filhas de Jerusalém…’ Chazal explicam que Hashem fez o povo judeu jurar três juramentos para não forçar o fim antes de seu tempo”. E continua: “a esperança que a Torá plantou em nossos corações não pode nos levar a intrigas, manobras diplomáticas, rebeliões ou lutas para herdar a terra de nossos pais e fundar um reino lá. Pelo contrário, nossa fé nos ensina a buscar o bem-estar das nações sob cuja proteção habitamos, a participar de seus esforços nacionais e trabalhar pelo sucesso delas, e esperar silenciosamente pelo dia em que as palavras dos profetas se cumprirão”.

A sua conclusão é radicalmente contra o sionismo: “se houver um grupo de entusiastas que conseguir conquistar a Palestina pela força das armas, ou comprá-la de seus proprietários, não devemos considerar isso nem mesmo um vislumbre da nossa futura esperança. Este é o caminho que os líderes do povo judeu receberam pela tradição ao longo da história: apenas esperar, sem tomar qualquer ação”.

Esse é um dos motivos pelos quais os judeus ortodoxos, que na verdade são os judeus reais, os que seguem a religião judaica e não apenas os que têm ascendência em famílias que seguiam a religião judaica, são contra “Israel”. Com a migração em massa para a Palestina se forma uma nova vertente do judaísmo que é contra a linha tradicional. Mas ainda assim os judeus ortodoxos são dissidentes de uma forma ou de outra da linha principal do sionismo. Os menos radicais são contra o alistamento militar, algo que é central para “Israel”, os mais radicais são contra a própria existência de “Israel”.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.