Na terça-feira (21), o Estado de “Israel” lançou a sua mais nova operação militar contra os palestinos. A cidade de Jenin, a capital da resistência na Cisjordânia ocupada, é o grande alvo. Derrotado em Gaza, o governo Netaniahu lança a operação Muro de Ferro, que conta até mesmo com a participação das forças de repressão da Autoridade Palestina (AP). A AP, na realidade, começou o ataque contra Jenin ainda em dezembro de 2024. A luta pela libertação da Palestina neste momento se chama Jenin.
O cerco sionista contra Jenin assassinou ao menos 10 palestinos, pelo menos outros 40 ficaram feridos. Médicos relatam que não conseguem alcançar os feridos, e pessoas estão sangrando nas ruas devido aos postos de controle israelenses e estradas bloqueadas. A ONU estima que pelo menos 2.000 famílias foram deslocadas em Jenin por causa da contínua operação militar. A operação conta com veículos blindados, retroescavadeiras militares, drones e até helicópteros de combate. É uma verdadeira zona de guerra.
Enquanto o Estado de “Israel” realiza seu ataque nazista, a Autoridade Palestina atua como a unidade canina dos sionistas. Um líder da resistência, Moslim Masarua, foi preso por forças da AP no Hospital Al-Razi enquanto se recuperava de ferimentos causados pela ocupação. Além disso, as forças de repressão da AP estabeleceram postos de controle, detiveram veículos. O ataque é tão absurdo que eles assassinaram um jovem palestino com um tiro na cabeça. A comunicação é difícil em meio ao cerco e a Al Jazeera foi banida pela AP de atuar na cidade.
Em outros momentos a Al Jazeera atuava livre na Cisjordânia e era um importante portal de imprensa que denunciava o nazismo israelense. Foi em uma situação semelhante como a atual, no ano de 2022, que a jornalista Abu Shireen Aklé foi assassinada enquanto cobria uma operação militar israelense em Jenin. Um franco-atirador sionista a assassinou com um tiro na cabeça, mesmo ela estando com um capacete e um colete destacados da imprensa. A jornalista palestina se tornou um símbolo para a própria Al Jazeera. Agora, em 2025, é a própria AP que impede a emissora de atuar.
A resistência luta contra a agressão
O comandante das Brigadas al-Quds na Cisjordânia, a brigada mais importante de Jenin, se pronunciou diante dos acontecimentos. Ele afirmou que “desde o início da batalha por Jenin, nossos heróis continuam emboscando as forças inimigas e veículos militares”. Destacou também que seus combatentes “foram capazes de formar salas de operações para coordenar o trabalho de campo e desenvolver ações conjuntas com os combatentes das Brigadas Al-Qassam [Hamas] e os jovens da Vingança e Libertação”.
Ele denunciou que “os aparatos da [Autoridade Palestina] continuam, alternando-se com as forças inimigas, invadindo algumas cidades e cercando nossos combatentes feridos em vilas, cidades, centros médicos e hospitais, tentando prendê-los para facilitar a tarefa do exército inimigo, o que apenas lhes trará uma imagem negativa frente aos sacrifícios do nosso povo”.
Diante de tamanha agressão, o Hamas também se pronunciou. Afirmou que não há dúvidas “de que a coordenação de segurança da Autoridade com a ocupação atingiu níveis catastróficos”. E destacou que “essa política, rejeitada por todos os componentes do nosso povo palestino e das organizações da resistência, serve ao ocupante e seus colaboradores”.
O comunicado do Hamas ainda convoca o povo palestino a “se levantar vigorosamente contra os excessos perigosos da Autoridade”. E também chama por esforços “nacionais coordenados para enfrentar o ataque aos combatentes da resistência, deter a crescente agressão da ocupação na Cisjordânia e intensificar as atividades de resistência para que o ocupante pague o preço por seus crimes contínuos e sem precedentes”.
O Fatá, partido que dirige a AP, em uma posição defensiva, partiu para acusar o Hamas e a Al Jazeera. Seu comunicado os acusa de distorcer as operações das forças de segurança da AP na Cisjordânia, pedindo aos palestinos que fiquem alertas contra declarações de autoridades do Hamas.
Eles afirmam que: “as conquistas que as forças de segurança palestinas alcançaram na prefeitura de Jenin e em seu campo vieram apesar do engano realizado por elementos semelhantes ao Estado Islâmico e daqueles que estão por trás deles, armando-os e financiando-os para transportar os crimes brutais que o exército israelense cometeu em Gaza”.
A AP assim se iguala ainda mais ao Estado de “Israel”, que tem como política afirmar que o Hamas e o Estado Islâmico (EI) são aliados. É uma forma de demonizar o Hamas para o público que não conhece o Oriente Médio. A verdade é que “Israel” é aliado do EI. O golpe de Estado na Síria empossou o vice-líder do EI, o líder da antiga Al-Qaeda, Mohamed al-Jolani. Essa operação golpista foi travada com total apoio do regime sionista, afinal, após o golpe, “Israel” invadiu a Síria com a conivência do novo governo. O Hamas, por sua vez, teve militantes perseguidos pelo EI na Síria.
Assim, a Autoridade Palestina se afunda cada vez mais na política ultra reacionária do sionismo. A resistência, ao mesmo tempo, se vê obrigada a criticar cada vez mais a AP. Caso esse quadro continue, é possível que a AP passe por um colapso total.
O governo Trump e a Cisjordânia
A chegada de Trump ao poder foi crucial para o cessar-fogo em Gaza. Sem o apoio total que o governo Biden garantia para “Israel”, os sionistas tiveram de se render ao Hamas. No entanto, ainda não está clara a política de Trump para a Cisjordânia.
No plano ideológico, Trump se alinha ao setor do sionismo que defende a política mais agressiva contra o território. Trump indicou Elise Stefanik para o cargo de embaixadora dos Estados Unidos na ONU. Em entrevista, um jornalista a perguntou: “raramente fico surpreso com as respostas no meu gabinete, mas perguntei a você se acredita nas opiniões do Ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, e do ex-Ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, que defendem que Israel tem um direito bíblico sobre toda a Cisjordânia. Nessa conversa, você me disse (sim) que concorda com essa visão. Essa ainda é sua opinião hoje?“. Stefanik respondeu com uma única palavra: sim.
Além disso, Trump retirou as sanções contra os colonos da Cisjordânia, considerados ocupantes ilegais pelas leis internacionais, em uma clara declaração de apoio à ofensiva no território. Isso foi feito no seu primeiro dia de governo, em um momento que os colonos realizavam diversos ataques violentos contra os palestinos. Ademais, há denúncias de que Trump poderia estar envolvido com as empreiteiras que constroem os assentamentos na região.
A questão é, Trump não quis comprar a briga na Faixa de Gaza, sabendo que é extremamente impopular nos EUA enviar bilhões para “Israel”. Mas a resistência não vai desistir de lutar na Cisjordânia. Até onde estaria disposto o novo presidente dos EUA a bancar essa nova guerra de “Israel”? O Hamas e a Jiade Islâmica certamente tornarão esse gasto gigantesco, afinal, depois da vitória histórica em Gaza, tudo é possível.