Palestina

O Hamas não é o mesmo, de fato. É muito maior

Interesse rasteiro e mentiroso da AP e de "Israel" leva sítio a declarar Trump como o grande responsável pela conquista palestina e diminuir a vitória histórica conquistada

O órgão de imprensa da Autoridade Palestina (AP) em inglês, Al Quds, publicou um artigo no último dia 21, intitulado Diplomacy Is All Hamas Has Left in the Arsenal (Diplomacia é tudo que o Hamas tem sobrando no arsenal), com uma curiosa teoria de que o principal partido revolucionário da Resistência Palestina estaria “esmagado” e sem nenhuma outra arma, exceto a diplomacia, como indica o título. Considerando que “o grupo militante islâmico não é mais a mesma organização que lançou o massacre de 7 de outubro de 2023”, o artigo destaca:

“Uma grande concessão para o Hamas foi aceitar que muitos de seus principais quadros agora ficarão indefinidamente nas prisões israelenses. De qualquer forma, o grupo militante islâmico não é mais a mesma organização que lançou o massacre de 7 de outubro de 2023. Seus batalhões foram esmagados; tudo o que restou foi uma insurgência desorganizada, capaz apenas de táticas de ataque e fuga. O arsenal do grupo está bastante esgotado; seus combatentes recorreram a dispositivos explosivos improvisados montados a partir de munições israelenses não detonadas. O alto escalão da liderança militar do Hamas foi eliminado, deixando dois comandantes relativamente inexperientes e juniores – Ezz al-Din Hadad, no norte, e Mohamed Sinuar, irmão mais novo do mentor do ataque de 7 de outubro, Iahia Sinwar, no sul.”

O cenário catastrófico descrito pela “análise” do Al Quds é, sem dúvida, muito criativo, mas falha em explicar, por exemplo, porque “Israel” e o imperialismo aceitaram negociar com um grupo político tão debilitado quanto o da descrição do artigo. Teríamos apenas três explicações possíveis para isso:

Ou as potências imperialistas e Netaniahu teriam seus corações tocados por um misterioso sentimento de humanidade, totalmente estranhos a tudo o que demonstraram ao longo de 15 meses de um dos mais horrorosos massacres que o homem já viu; ou o presidente Donald Trump seria o maior defensor do povo palestino no mundo, algo estranho a quem viu seu mandato anterior e também o viu dizer que prenderia “bandidos pró-Hamas”, isto é, estudantes universitários norte-americanos nos protestos radicalizados contra o genocídio do povo palestino; a última opção é que, como todas as produções do hasbará, a máquina de propaganda sionista, Al Quds mandou às favas qualquer escrúpulo e simplesmente publicou o que veio à cabeça do redator em uma tentativa de disfarçar a vitória hercúlea conquistada pela Resistência Palestina sob a liderança do Hamas.

O órgão até tenta tornar Trump decisivo para o cessar-fogo, dizendo:

“No caso de Israel, uma fonte de pressão externa foi o presidente eleito Donald Trump, que pressionou Benjamin Netaniahu a aceitar condições que ele havia rejeitado há muito tempo. O primeiro-ministro israelense também foi influenciado por intensas demandas públicas para recuperar os reféns. As prioridades e os incentivos de Netaniahu são relativamente visíveis e fáceis de entender. A estratégia do Hamas é, nesse caso, mais opaca.”

Novamente, Al Quds fala, mas não submete as colocações ao teste da realidade, resultando em um artigo que se pretende uma análise, mas que é tudo menos isso. Por que, por exemplo, Trump “pressionou Netaniahu a aceitar” o cessar-fogo? Por que o setor da sociedade israelense interessado no cessar-fogo venceu o segmento interessado na manutenção do genocídio?

Pressão interna por pressão interna, a da extrema direita sionista também foi grande e, em diversos momentos, emparedou Netaniahu. Qual a razão, portanto, de após 15 meses, uma mudança de 180 graus se operar e a extrema direita perder a disputa?

A explicação mais óbvia é também a única que corresponde à realidade. Ao longo desse período, o imperialismo e a sociedade israelense percebeu que tal como não conseguiriam sustentar a ocupação do Líbano em 2000, também não poderiam controlar Gaza. Se em 2000 o enfrentamento com o Hesbolá estava acima das capacidades de “Israel”, de 2023 a 2025, era o Hamas o inimigo impossível de ser batido.

Foi a inacreditável firmeza do povo de Gaza em armas, junto ao apoio das forças da Resistência nas frentes libanesa, iemenita e iraquiana, que tornaram a vitória heroica de Gaza possível. Um feito que só é possível quando um povo abraçou definitivamente a revolução. Por isso mesmo, essa também é uma vitória que precisa ser anulada, política e socialmente, sendo esse objetivo ao que verdadeiramente serve a peça de ficção produzida por Al Quds.

É o interesse rasteiro e mentiroso da AP que leva o órgão a declarar Trump como o grande responsável pela conquista palestina, à revelia da realidade. Igualmente, é a política sionista que dita cada um dos parágrafos esquizofrênicos do sítio. É secundário, mas não deixa de ser marcante, que o alinhamento de Al Quds com o sionismo seja tamanho, que o órgão se refira às forças armadas israelenses com o eufemismo criado pela ditadura sionista: Forças de Defesa de “Israel”. Todo o Mundo Árabe os chama pelo que realmente são, uma força de ocupação. Todos, menos a AP.

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