No dia 21 de janeiro, dois dias depois de o histórico acordo de cessar-fogo conquistado pela Resistência Palestina entrar em vigor, o portal Esquerda Diário, do Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT), publicou o artigo Primeiros dias de cessar-fogo em Gaza atravessados por violações israelenses e ataques à Cisjordânia.
Como fica claro no título, o objetivo do artigo, longe ser o de denunciar a ação criminosa de “Israel”, é o de diminuir a importância do acontecimento. É como se o MRT dissesse: o cessar-fogo é uma farsa, uma vez que “Israel” o violou. Isso fica claro no seguinte trecho:
“O anúncio de que um acordo estava nas fases finais de ser organizado foi recebido com grande alegria pelos palestinos, especialmente em Gaza. Mas os dias subsequentes se mostraram uma verdadeira prova da sanha genocida israelense. Enquanto diziam trabalhar para um cessar-fogo, se intensificaram os bombardeios e operações militares, em especial no norte de Gaza, que já vinha suportando um cerco brutal há mais de 100 dias.”
O MRT é incapaz de fazer um balanço sério do significado do cessar-fogo porque isso implicaria em reconhecer que se trata de uma vitória da Resistência Palestina. Como o MRT se prestou ao papel vergonhoso, ao lado de outras organizações, de caluniar a Resistência Palestina ao longo de toda a Operação Dilúvio de Al-Aqsa, é até natural que agora não queira reconhecer a vitória do Hamas, da Jiade Islâmica e de todos os combatentes que impuseram uma derrota humilhante a “Israel”.
Ao se negar a comemorar o cessar-fogo, o MRT revela algo muito mais profundo sobre si. Embora se diga trotskista – isto é, defensor da revolução proletária internacional -, o grupo não tem, nem por instinto, a capacidade de reconhecer o que é um movimento revolucionário. Em nenhum momento, o MRT conseguiu enxergar que a Operação Dilúvio de Al-Aqsa era parte de uma grande revolução. Pelo contrário: o grupo passou os últimos 15 meses tentando explicar para si próprio – já que, para o mundo, a opinião do grupo não tem importância – que o Hamas, a Jiade Islâmica, o Hesbolá e o Irã seriam, na verdade, um obstáculo à libertação da Palestina.
Agora, a política do MRT chegou a um beco sem saída. O Hamas, o mesmo grupo que outrora era acusado de não ser suficientemente revolucionário para o MRT, conseguiu, sem fazer qualquer concessão, obrigar o Estado de “Israel” a cessar as agressões e libertar uma quantidade de reféns muito maior que o de prisioneiros feitos pelo partido islâmico. É um feito espetacular, protagonizado por homens mal-armados e munidos somente de uma convicção muito profunda.
O que aconteceu é uma vitória revolucionária, uma vitória extraordinária. Uma vitória contra um dos exércitos mais bem armados do mundo, financiado com dinheiro do imperialismo, com ajuda técnica de todos os países imperialistas, capazes de fazer tudo o que for necessário para conseguir algum resultado, inclusive assassinar dezenas de milhares de pessoas.
Essa máquina mortífera foi parada pelo Hamas.
Um grupo que se pretende revolucionário não reconhecer uma revolução quando esta passa bem diante de seu nariz é sintomático do quanto a esquerda pequeno-burguesa, a reboque do imperialismo, está em um processo de decomposição feroz.