Os dados divulgados recentemente sobre a inadimplência no Brasil constatam o óbvio: o sofrimento da classe trabalhadora brasileira. Apesar do triunfalismo da esquerda governista em relação à política econômica do governo, sobretudo de membros do Partido dos Trabalhadores (PT), os números mostram que a realidade é bem diferente. Em dezembro de 2024, 41,51% dos brasileiros adultos estavam inadimplentes, o que representa 68,49 milhões de pessoas. Esses números deixam claro que a tão louvada política econômica de Lula e Haddad não está resolvendo sequer um problema fundamental dos trabalhadores. Cada consumidor negativado devia, em média, R$4.432,05, e tinha dívidas com cerca de 2,1 empresas credoras. Além disso, 31,09% dos consumidores tinham dívidas de até R$500, o que evidencia que a maior parte das pendências financeiras está relacionada a valores relativamente baixos.
Segundo os dados divulgados, a faixa etária mais impactada pela inadimplência foi a de 30 a 39 anos, com 23,64% do total de inadimplentes, ou seja, 16,90 milhões de pessoas. Isso significa que quase metade (49,76%) dos brasileiros dessa idade está negativada. Além do sofrimento enfrentado pelos indivíduos incluídos nesse grupo, esses números deveriam ser extremamente preocupantes para o governo e sua base, já que se trata de uma parcela economicamente ativa e produtiva da população, formada quase em sua totalidade por trabalhadores, que deveria estar contribuindo para o crescimento econômico do País.
Em termos de gênero, a inadimplência é praticamente equilibrada: 51,16% das pessoas negativadas são mulheres e 48,84% são homens. Não há como maquiar o problema com discursos identitários simplistas, como gostam de fazer setores da esquerda. O problema é dos trabalhadores e é, em sua totalidade, um problema de classe.
Outro dado relevante é que o setor bancário lidera com ampla margem, representando 64,62% das dívidas. Isso sugere que boa parte dos brasileiros recorreu a empréstimos ou financiamentos para tentar equilibrar suas finanças pessoais. Outros setores importantes incluem água e luz, com 10,87% das dívidas, mostrando dificuldades no pagamento de serviços essenciais que deveriam ser gratuitos, e comércio, com 10,32%, refletindo o impacto do consumo reprimido.
Regionalmente, as disparidades são significativas. A região Centro-Oeste apresentou o maior percentual de inadimplentes em relação à sua população adulta: 44,82%. Já a região Sul teve o menor índice, com 37% da população adulta negativada. Em termos de crescimento no número de dívidas ao longo do ano passado, o Centro-Oeste liderou com uma alta de 7,55%, enquanto o Sul registrou uma leve queda de 0,85%.
Esses dados deixam claro que a política econômica do governo está longe de ser milagrosa. Apesar das constantes celebrações do PT — desde os setores mais otimistas do Brasil 247 até os defensores mais fervorosos, como o direitista Alberto Cantalice — sobre uma suposta recuperação econômica ou estabilização financeira, os números mostram que os trabalhadores não percebem diferença alguma e continuam enfrentando grandes dificuldades para simplesmente sobreviver. Traduzindo e saindo do “economiquês”: a alta taxa de inadimplência significa que os salários são baixos, o desemprego está elevado e o custo de vida cresce mais rápido do que os rendimentos das famílias. Três verdades óbvias, mas negadas por governistas que limitam sua atuação política a defender qualquer ação do governo da frente ampla.
Na melhor das hipóteses, o governo parece estar apenas “estabilizando” uma situação já precária — ou seja, impedindo que as coisas piorem ainda mais rapidamente —, mas sem oferecer soluções reais para melhorar a vida da população. Essa política não ataca as raízes do problema, não mexe nos privilégios e na renda dos bancos, que inclusive vão para fora do Brasil, e deixa milhões de brasileiros presos em um ciclo vicioso de dívidas e falta de perspectivas.
Na conjuntura atual, é urgente que medidas mais sérias sejam tomadas para transformar a realidade econômica do País. Isso começa com o aumento significativo do salário mínimo — no mínimo sua duplicação —, como forma de devolver poder aquisitivo à população e estimular o crescimento econômico. O aumento expressivo do salário mínimo teria impacto direto na qualidade de vida dos trabalhadores brasileiros. Com mais dinheiro no bolso, milhões poderiam sair da inadimplência e voltar a consumir bens e serviços essenciais. Isso não apenas aliviaria o sofrimento imediato da população, como também fortaleceria a economia nacional ao aumentar a demanda interna.
Além disso, essa medida poderia angariar apoio popular para reformas ainda mais profundas e à esquerda, como o não pagamento dos juros da dívida aos banqueiros internacionais, que nada mais é do que um saque à mão armada aos cofres brasileiros. Essa economia poderia financiar medidas populares, como o aumento do salário mínimo, investimentos massivos no sistema público de saúde e educação, obras de infraestrutura que multiplicariam os empregos em progressão geométrica, e a revogação das reformas herdadas do golpe de Estado de 2016, como a trabalhista e a da Previdência.
Outras ações necessárias incluem a reestatização de empresas privatizadas, como a Eletrobrás e parte significativa da Petrobrás, a simplificação da carga tributária e o combate aos impostos abusivos, desde a indústria da multa até os impostos sobre consumo. São medidas concretas, que passam longe dos delírios governistas de colocar a Receita Federal na cola dos trabalhadores.