Juca Simonard

Editor da revista Na Zona do Agrião e redator do Dossiê Causa Operária

Coluna

OpenAI: como é formado um monopólio moderno?

Prejuízos bilionários, apoio estatal e uso do domínio público

Já tocamos neste assunto em colunas anteriores, mas fomos forçados a retornar a ele por conta de um tuíte do CEO da OpenAI, Sam Altman.

“coisa insana: na realidade estamos perdendo dinheiro com assinaturas do OpenAI Pro! as pessoas usam muito mais do que esperávamos.”

Em resposta a um dos comentários, o executivo alegou ter escolhido o preço pessoalmente e que “achava que ganhariam dinheiro”. Incrível, não? Como funciona uma empresa capitalista que não ganha dinheiro?

Segundo reportagem da norte-americana CNBC de setembro do ano passado, a OpenAI previa prejuízos de US$ 5 bilhões apesar de sua receita de US$3,7 bilhões. Os números astronômicos fazem sentido para quem tem ideia do custo para se produzir um modelo de aprendizagem de máquina generativo como o GPT, na escala em que operam. Não bastasse o custo de treinamento, etapa na qual o sistema estabelece as relações probabilísticas entre cadeias de entrada e saída, há o custo de inferência, isto é, da geração do texto “inteligente” pelo qual os usuários estão pagando. Tudo que envolve esses sistemas é caríssimo, ao menos com a tecnologia disponível hoje.

Por que estaria uma empresa como essa operando desta forma? Com acionistas de peso como a Microsoft e fundos de investimento de capital de risco poderosos. Não estariam esses investidores interessados em rendimentos vultuosos? Acontece que não há uma empresa dominante neste novo mercado. Há alternativas como o Claude, da Anthopic, ou o Grok, do X. Até mesmo a chinesa AliBaba tem seu próprio modelo, o Qwen, que produz excelentes resultados. É um consenso na indústria que a OpenAI possui uma pequena vantagem em relação aos competidores, ao menos no que diz respeito à qualidade dos resultados, mas em termos de custo-benefício a comparação é mais complexa.

Voltando aos números… por que investem numa empresa que gera tamanhos prejuízos sem vistas de se tornar lucrativa? Pelo mesmo motivo que investiram na Tesla e em tantas outras empresas supervalorizadas no mercado de ações. Apostam que essas viram a se tornar um monopólio dominante que poderá fixar preços no mercado e, nessa etapa, extrair lucros tão altos que compensarão pelo investimento anterior. Já discutimos essa estratégia ao criticar empresas como o Uber que subsidiava sua entrada em novos mercados com dinheiro dos investidores e hoje coleta sua renda monopolista.

A OpenAI possui outro elemento importante: a empresa, assim como a SpaceX e outras corporações que trabalham com tecnologia de ponta, é assunto de interesse estratégico do imperialismo, até mesmo do ponto de vista militar. Não por acaso, os melhores chips para uso em aprendizagem de máquina tiveram sua comercialização com a China proibida por meio de sanções econômicas.

Não podemos deixar de destacar o caráter cômico deste caso. A OpenAI, não é nem aberta (open, em inglês), dado que sua tecnologia está protegida por direitos de propriedade intelectual; nem produz Inteligência Artificial, mas cria modelos de aprendizagem de máquina (como já exaustivamente discutimos neste espaço). O modelo estatístico não é inteligente, por mais que os marqueteiros adorem o termo. Além de tudo, a empresa que não tinha fins lucrativos, que era legalmente uma Organização Não-Governamental, passou a receber financiamento de fundos de capital de risco e, desde o ano passado, mudou seu estatuto para passar a ter fins lucrativos. Tudo para não gerar lucro. Mas quando gerar…

É uma ode ao sistema imperialista decadente que vive da especulação, e do capitalista moderno, que por mais que defenda o estado mínimo, vive do apoio estatal, seja no impedimento legal do avanço de seus concorrentes, seja com financiamento direto mediante subsídios e abatimento de impostos.

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