Nos dias 14 e 15, o mundo inteiro parou para acompanhar atentamente as notícias acerca do acordo de cessar-fogo entre o Estado nazista de “Israel” e o Movimento de Resistência Islâmica, o Hamas. Desde o primeiro anúncio, feito por um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, de que o acordo estaria sendo fechado, até o momento em que o Hamas, os Estados Unidos e o Catar confirmaram o acordo, foram horas de grande expectativa.
Mas não para a esmagadora maioria das organizações da esquerda brasileira. O Diário Causa Operária (DCO) consultou os órgãos oficiais do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), do Partido dos Trabalhadores (PT), do Partido Comunista Brasileiro (PCB), do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e da Unidade Popular pelo Socialismo (UP) para saber a posição destas organizações acerca do acordo. Até o fechamento desta edição, que ocorreu a mais de 24 horas desde que o acordo havia sido confirmado e tornado público, não havia um único artigo em tais órgãos celebrando o cessar-fogo.
Estendemos nossa pesquisa aos jornais vinculados aos partidos, como A Verdade, da UP, o Vermelho, do PCdoB, e o Opinião Socialista, do PSTU. Não houve mudança no quadro. Pesquisamos, ainda, a posição de grupos como o Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT), uma dissidência do PSTU, o Partido Operário Revolucionário (POR), a Organização Comunista Internacionalista (OCI), o Movimento Esquerda Socialista (MES) e o Resistência, do PSOL. O silêncio também se manteve.
Em uma pequena parte dos órgãos citados, há matérias que citam o cessar-fogo. No entanto, elas sequer noticiam que o cessar-fogo foi anunciado, nem mencionam os seus termos. Elas aparecem apenas como uma forma de subestimar a sua validade, indicando que o cessar-fogo não seria uma conquista real para os palestinos.
Esse tipo de matéria pode ser encontrada nas redes da Central Sindical Popular (CSP) Conlutas, a central sindical de brinquedo do PSTU, que declarou: “em meio a otimismo sobre cessar-fogo, Israel já matou 74 crianças palestinas em 2025”. Uma declaração que, além de reduzir o cessar-fogo a um “otimismo”, sequer faz sentido, uma vez que as crianças palestinas citadas foram assassinadas antes do cessar-fogo em si.
Em oposição ao clima de velório da esquerda pequeno-burguesa, apenas duas organizações noticiaram o acordo de cessar-fogo e apresentaram-no de uma perspectiva positiva: o Partido da Causa Operária (PCO), por meio de suas redes sociais e deste Diário, e o jornal A Nova Democracia.
O DCO, por exemplo, publicou, ainda no dia 14, o artigo Cessar-fogo em Gaza pode ser aprovado a qualquer momento, apresentando a notícia de que o acordo estaria próximo. No dia seguinte, o jornal, por meio do artigo EUA, Catar e Hamas confirmam cessar-fogo na Faixa de Gaza, anunciou a confirmação do acordo. Além disso, publicou o editorial Acordo ‘Israel’-Hamas é a maior derrota da história do sionismo, o artigo Exclusivo: DCO tem acesso à íntegra do acordo de cessar-fogo e o artigo de análise Extrema direita tenta sabotar acordo de cessar-fogo em Gaza, entre outras notícias de acompanhamento da situação no Oriente Médio.
A Nova Democracia, por sua vez, publicou o artigo Resistência Palestina conquista cessar-fogo e massas celebram em Gaza, destacando o aspecto positivo e popular do acordo, além do artigo Hamas elogia a resistência e o apoio global em resposta ao cessar-fogo em Gaza, apresentando a posição da vanguarda da resistência palestina acerca do cessar-fogo.
Não há dúvida de que o cessar-fogo é a melhor notícia para o povo palestino desde 7 de outubro de 2023. Afinal, é o compromisso da entidade sionista, pressionada pelo imperialismo norte-americano, de que irá cessar as agressões criminosas que resultaram no assassinato de quase vinte mil crianças. Mas é mais do que isso. Nas condições em que o acordo foi firmado, ela é uma demonstração de força extraordinária da resistência palestina. A resistência palestina derrotou “Israel”.
Todos aqueles que vinham apoiando a ação revolucionária da resistência palestina contra as forças de ocupação sionistas estão, naturalmente, felizes com a vitória. Afinal, é uma derrota humilhante para o imperialismo e o sionismo.
A apatia diante de um fato dessa grandeza só pode vir de uma esquerda que, de tão acovardada pelo sionismo, já não defende o povo palestino. Uma esquerda que, em vez de fazer festa com o cessar-fogo, está chorando as pitangas pela derrota de Benjamin Netaniahu.