A indicação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central (BC) é mais uma peça na política do governo federal, que segue aplicando uma combinação de arrocho fiscal e aumento da arrecadação de impostos, em alinhamento com interesses de banqueiros e especuladores internacionais. Não surpreende, portanto, que figuras como Ernesto Torres Cantú, chefe do Citi, elogiem a condução econômica do Brasil: pelo interesse político e também econômico dos parasitas, o País continua muito lucrativo. O que surpreende é a presidenta do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann citar Cantú para defender a política econômica:
‘A economia brasileira tem fundamentos, ferramentas, que deixam muitos países com inveja. Tem todas as condições necessárias para continuar crescendo. Poucos países no mundo estão crescendo nesse nível (PIB acima de 3%), especialmente com uma economia tão grande como o Brasil’. Não foi nenhum economista de esquerda que disse isso, foi o mexicano Ernesto Cantú, chefe da divisão internacional do Citi, um dos maiores bancos do mundo. Numa entrevista ao Valor, o poderoso executivo elogiou o desempenho das contas públicas do país e a disciplina fiscal que o governo vem mantendo. ‘Não acho que houve mudança quanto a isso’, afirmou Cantú, contrariando o terrorismo dos nossos ‘especialistas’. Quem realmente entende de finanças sabe que o país está no rumo certo, apesar da torcida contra e da especulação sem freios.”
A parlamentar também tentou destacar o contraste entre Galípolo e seu antecessor, Roberto Campos Neto, dizendo que o novo presidente do BC seria “a favor do Brasil”. Mas o que significa ser “a favor do Brasil” quando as decisões econômicas continuam privilegiando bancos e grandes investidores enquanto a população sofre com juros altos e cortes de nas despesas sociais?
A política econômica em curso, apresentada como responsável e austera, é na verdade um desastre em construção. Ao sacrificar o povo em nome da confiança dos vampiros internacionais que vivem de sugar o povo brasileiro, o governo corre o risco de perder seu apoio popular, a única garantia real de estabilidade política.
Além disso, o governo tem buscado novas formas de ampliar a arrecadação. Ninguém em sã consciência vai acreditar que a fiscalização sobre transações via Pix, sob o pretexto de combater fraudes e informalidade seriam meramente para isso.
A medida, defendida pelo novo presidente do BC, revela uma tentativa de tributar ainda mais a população em um cenário onde os pequenos negócios e trabalhadores informais já enfrentam imensas dificuldades para sobreviver. Com Galípolo no comando, o Banco Central não apenas mantém a política de arrocho fiscal, mas aprofunda estratégias que transferem o peso do Estado e da crise imperialista para o povo, enquanto protege os privilégio da classe dominante.
A defesa de Hoffmann à política fiscal, utilizando o elogio de um banqueiro internacional como argumento, é reveladora. Para o mercado financeiro, a prioridade é garantir que o governo corte despesas, mantenha o superávit fiscal e aumente sua arrecadação — elementos que, invariavelmente, resultam em menos recursos para áreas essenciais como saúde, educação e assistência social.
Enquanto isso, os trabalhadores enfrentam aumento constante no custo de vida e desemprego ainda elevado. Apenas um a cada três trabalhadores tem um emprego de verdade, com direitos e carteira assinada. Não é preciso ser economista para entender por que essa política agrada aos bancos: ela transfere a conta da crise para quem menos pode pagar.
A insistência na austeridade é um presente aos adversários políticos do governo. Com uma base social enfraquecida pela falta de resultados concretos e desmoralizada pela política, o governo Lula abre espaço para a agitação feita pelos setores desorientados da esquerda, de que Lula estaria “traindo” suas promessas de campanha. Ao mesmo tempo, fortalece a oposição, que se alimenta do descontentamento popular gerado por essa política econômica. É a situação perfeita para os inimigos do governo: um país com uma classe trabalhadora sufocada e sem disposição para defender um governo que a trata como variável de ajuste.
A política econômica atual segue o manual dos banqueiros, não das necessidades populares. Se o governo não mudar de rumo, a oposição encontrará terreno fértil para ataques e desgastes. A única saída realista é abandonar esse alinhamento com o mercado financeiro e retomar uma política que priorize investimentos públicos, ampliação de direitos e redistribuição de riqueza. Afinal, não é com elogios de banqueiros que se governa para o povo, mas com ações que enfrentem seus problemas populares de frente.