No grotesco artigo Mercado do ódio, publicado pelo Brasil 247, a filósofa Márcia Tiburi procura apresentar uma explicação de por que, segundo ela, o “ódio” estaria se propagando pelo mundo. Após muita reflexão, nossa brilhante filósofa chegou a uma conclusão genial e bastante original: o ódio cresce porque seria algo lucrativo!
“Faz tempo que o ódio vem sendo monetizado. O que chamamos de ‘mercado’ transformou o próprio ódio em mercadoria. Uma mercadoria que tem uma única serventia: viciar o usuário em odiar mais.”
Antes de discutirmos o quanto a ideia em si é ridícula, perguntemos à filósofa: se é assim, a rede Globo é inimiga do “mercado”? Afinal, a empresa da Família Marinho é conhecida por financiar o Projeto de Lei 2630, o famigerado PL das “Fake News“, que tem como objetivo combater o chamado “discurso de ódio”. O bilionário George Soros, responsável por quebrar a Inglaterra para lucrar um bilhão de libras, é inimigo do “mercado”? Afinal, no portal de sua mais conhecida empresa, a Open Society Foundation, consta uma advertência contra “discurso de ódio ou ataques contra outras pessoas com base em raça, sexo, gênero, religião, etnia, país de origem, localização, orientação sexual, deficiência ou condição médica”.
Podemos estender essa lista para todos os grandes monopólios, já que, raramente, algum deles irá defender abertamente o “ódio”. O próprio caso de Mark Zuckerberg prova o contrário do que diz Tiburi. Durante anos, a Meta, empresa dona do WhatsApp, do Instagram e do Facebook, censura o tal “discurso de ódio” e faz demagogia com a comunidade LGBT. Nesse período, Zuckerberg não estava interessado em ganhar dinheiro?
Não faz sentido algum. O tal “ódio” não cresce por estímulo do grande capital. Pelo contrário: há um deliberado esforço para contê-lo.
O que Tiburi chama de “ódio” é, na verdade, a polarização política. Um fenômeno inevitável, que não é criado no departamento de marketing de nenhuma empresa. Opor-se à polarização – ou, pior ainda, acreditar que ela possa ser evitada – só pode vir de alguém completamente fora da realidade, que acredita que o mundo é um conto de fadas.
Talvez, no apartamento de Márcia Tiburi, a vida seja perfeita. A geladeira está sempre cheia, seu chuveiro está sempre quente, seu ar-condicionado não faz barulho e seu único dilema é se, nesta semana, irá tingir os pelos de seu poodle de rosa ou de amarelo. Mas fora de seu apartamento, o mundo está caindo aos pedaços.
Na faixa de Gaza, crianças têm seus membros arrancados todos os dias. Debaixo da ponte ao lado de onde Tiburi mora, famílias se aglomeram porque não têm onde morar. Na próxima esquina, uma fila quilométrica de pessoas em frente à Caixa Econômica expõe a quantidade de miseráveis dependendo do Bolsa Família para não morrer de fome. Que nos perdoe Tiburi, mas o mundo não inspira muito amor.
Diz a filósofa:
“No território das telas, a compensação pelo ódio serve para quem odeia o inimigo imaginário, mas também para quem não possui os atributos valorizados pelo capitalismo. Por exemplo, na internet vemos homens feios odiando mulheres, todo tipo de gente esteticamente comprometida usa juízos estéticos para a promoção de preconceitos tais como racismo, gordofobia, misoginia e etc.”
A realidade, no entanto, é muito mais dura que isso. Se um homem feio chama uma mulher de baranga ou se compara a colega de trabalho a uma baleia jubarte, só pessoas absolutamente superficiais como Tiburi ficam chocadas. No mundo real, pessoas como Luigi Mangione assassinaram a sangue-frio o empresário Brian Thompson. O motivo? A quantidade de pessoas que ele matou ao negar acesso a médicos e hospitais. Brian Thompson, contudo, nunca foi acusado de odiar ninguém em vida…
No mundo real, pessoas como os combatentes do Hamas estão dando a vida para erradicar as tropas sionistas da Palestina. O motivo? Mais de um século de humilhação, torturas e assassinatos. “Israel”, por sua vez, nunca é acusada de odiar os palestinos…
O que Tiburi chama de “ódio” é, no final das contas, a reação a um mundo terrível. A uma ditadura brutal.
Isso fica ainda mais claro quando a filósofa apresenta a sua solução:
“Não há futuro sem democracia. Nenhum de nós existirá sem democracia. Derrubar a Meta é a meta! Talvez seja a hora também de perguntar se a inteligência humana do povo tem alguma chance de ser maior que a inteligência artificial de Mark Zuckerberg.”
Em oposição ao “ódio”, Tiburi ergue a bandeira da “democracia”. Isto é, a bandeira da ditadura mundial, a bandeira do imperialismo, que submete todos os povos a um regime de selvageria sob a cobertura da “democracia”.
Se há algum amor que Tiburi defende, é o seu amor ao capitalismo e a sua capacidade de, sem “odiar” ninguém, desgraçar a vida de todas as pessoas do planeta.