Nessa terça-feira (14), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed Al Ansari, fez um anúncio surpreendente sobre as negociações em torno de um acordo de cessar-fogo entre o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e o governo de “Israel”:
“Chegamos às etapas finais em relação ao acordo. As negociações em andamento em Doa sobre Gaza são frutíferas, positivas e focam nos detalhes finais. Não entramos nos detalhes do que está acontecendo nas negociações e entregamos os rascunhos do acordo a ambas as partes. Superamos os principais obstáculos nas divergências entre as duas partes em relação ao acordo. As reuniões estão em andamento em Doa entre as partes do acordo, e aguardamos atualizações delas”.
O anúncio, embora carecesse de informações mais concretas, foi recebido om grande expectativa em todo o mundo. O Catar, afinal, tem se colocado, desde o início do conflito, como um dos mais importantes negociadores. É também no Catar onde fica a sede da Al Jazeera, órgão de maior difusão do mundo árabe com informações em tempo real sobre a guerra na Faixa de Gaza.
O anúncio segue, então, dizendo que:
“Instamos as duas partes a alcançarem um acordo e porem fim à tragédia em Gaza. Quando anunciarmos o acordo, será anunciado o início da implementação do cessar-fogo. Hoje estamos no ponto mais próximo de alcançar um acordo em relação a Gaza. Esperamos que o anúncio do acordo seja em breve. Apresentamos rascunhos do acordo de cessar-fogo, e as negociações estão agora em andamento sobre os detalhes finais. Há detalhes pendentes entre as duas partes nas negociações sobre os mecanismos de implementação do acordo de cessar-fogo.”
Majed Al Ansari concluiu seu anúncio dizendo que:
“Reafirmamos nossa posição firme de acabar com a ocupação em Gaza e em todos os territórios palestinos, e que a decisão seja palestina. Os mediadores Catar, Egito e Estados Unidos estão comprometidos com tudo que leva ao sucesso do acordo de cessar-fogo em Gaza. Estamos otimistas porque as principais questões pendentes que anteriormente dificultavam o acordo foram resolvidas”.
Pouco tempo depois, o Hamas se pronunciou por meio de comunicado. Disse o partido islâmico:
“A liderança do Hamas realizou uma série de contatos e consultas com os líderes das organizações palestinas, informando-os sobre os avanços alcançados nas negociações que estão ocorrendo em Doa.
Durante esses contatos, os líderes das forças e organizações expressaram sua satisfação com o andamento das negociações, destacando a necessidade de uma preparação nacional geral para a próxima etapa e seus requisitos.
A liderança do movimento e as diversas forças enfatizaram a continuidade da comunicação e consulta até a conclusão do acordo de cessar-fogo e da troca de prisioneiros, que já alcançaram suas etapas finais, expressando sua esperança de que esta rodada de negociações termine com um acordo claro e abrangente”.
O governo israelense, por sua vez, não se pronunciou. No entanto, o ministro Itamar Ben-Gvir, do partido de extrema direita Poder Judeu, que é o maior opositor ao acordo de cessar-fogo, foi a público, demonstrando a preocupação com o acordo:
“O acordo que está se formando é um acordo de rendição ao Hamas. Apelo ao meu amigo, o ministro Bezalel Smotrich [também do bloco da extrema-direita], para que se junte a mim e trabalhe comigo contra esse acordo de rendição ao Hamas.
Meu partido, Poder Judeu, sozinho, não tem poder para impedir o acordo, então proponho que vamos juntos ao primeiro-ministro e lhe digamos que, se ele aprovar o acordo, nós sairemos do governo.
Essa cooperação é a única maneira de impedir um acordo de rendição, de evitar esse acordo desastroso e de garantir que os sacrifícios de centenas de soldados não tenham sido em vão”.
Ainda que os termos do eventual acordo não tenham vindo a público, ele seria, grosso modo, uma grande vitória da resistência, porque “Israel” não conseguiu nenhum dos seus objetivos. A não ser que “Israel” conseguisse algum objetivo por meio do acordo, o que seria muito pouco provável, dada a tenacidade e a clareza daqueles que dirigem a Resistência.
O avanço das negociações também demonstram que a chegada de Donald Trump, ao contrário do que era dito por setores da esquerda, complicou ainda mais a situação de “Israel”. Recentemente, Trump publicou um vídeo de um economista, Jeffrey Sachs, que fala que “Israel” é um problema para os Estados Unidos, pois teria causado uma série de guerras destrutivas para o imperialismo norte-americano. O vídeo era um recado de Trump para o próprio Benjamin Netaniahu, indicando que o novo presidente norte-americano pretende mudar de política.
É pouco provável, no entanto, que o governo de “Israel” esteja disposto a aceitar o acordo, uma vez que será uma demonstração de fraqueza enorme perante a Resistência. Mesmo que “Israel” pregue vitória, a entidade sionista está virando um pária internacional, assim como se tornou a África do Sul da época do apartheid.
Os próximos dias dirão se enfim chegou o momento do cessar-fogo.