Direto de Caracas

As importantes lições da Venezuela

A posse foi uma vitória importante, mas a direita segue com seus ataques. Mais do que nunca, é preciso fortalecer a mobilização em defesa da Venezuela e do governo de Maduro

Direto de Caracas, por Antônio Carlos Silva, da Executiva Nacional do PCO

Escrevo esta matéria voltando do Aeroporto Internacional Simón Bolívar, em Caracas, após meu voo de regresso ao Brasil ser cancelado pela LATAM Airlines Group S.A, a maior empresa aérea da América Latina, cuja sede se encontra no Chile e tem subsidiárias no Brasil e em outros países da América do Sul.

No aeroporto, os funcionários da empresa procuraram responsabilizar o governo, que já havia suspendido o bloqueio das fronteiras de países como Colômbia (para onde viajaria, antes de seguir para o São Paulo) e Brasil. O bloqueio foi estabelecido diante das ameaças de governos e grupos da direita de promoverem até mesmo uma invasão do País, com a ajuda dos EUA (se a conseguissem) para dar um golpe e impedir a posse do presidente Nicolás Maduro.

O governo adotou as devidas medidas de segurança e já havia suspenso o fechamento das fronteiras, mas a companhia, como muitos outros monopólios capitalistas, procurou criar obstáculos, amontoar passageiros em voos remarcados para dias depois, sem dar qualquer assistência aos passageiros, para criar ou aumentar a indisposição de setores da classe média com o governo apoiado pela maioria do povo venezuelano.

Golpismo sem limites

O episódio é um exemplo da intensa campanha que o imperialismo, sua imprensa venal e os seus capachos em toda a América Latina fazem contra nosso país irmão, com o claro intuito de derrubar o governo, que é um obstáculo à política de rapina dos que querem tomar posse e roubar do povo venezuelano as maiores reservas certificadas de petróleo do mundo, as segundas maiores reservas de ouro – dentre outras riquezas – e escravizar seu povo.

A imensa mobilização popular que vi e vivenciei em parte por aqui, nesses últimos dias, são um exemplo de como essa máquina brutal e selvagem de guerra e propaganda deve ser enfrentada. Ainda que com suas limitações políticas, o chavismo, as organizações operárias e populares da Venezuela, em unidade com os setores militares que Chávez liderou no final do século passado contra a política de recolonização do País e, principalmente, com as milícias bolivarianas com milhares de homens e mulheres armados e dispostos a resistirem ao golpe e possível invasão se mostraram como uma força decisiva. Uma força capaz de, até o momento, barrar a ofensiva e lutar contra o isolamento que a covardia de setores da esquerda – como do governo Lula e da esquerda parlamentar e identitária do Brasil – procuram impor ao País.

Enfrentamento

Com base em uma intensa campanha de agitação e propaganda entre amplíssimas camadas da população, denunciando o caráter traidor e criminoso da direita fascista que se vendeu e quer entregar o Pais para os “gringos”, incluindo milhares de cartazes e até outdoors oferecendo recompensa por denúncias do paradeiro do candidato derrotado Edmundo González (o “Imundo”, como é devidamente chamado por aqui), que – nos últimos dias – se ajoelhou e lambeu as botas de alguns dos maiores criminosos do mundo e algozes do povo latino americano como Joe Biden (EUA), Javier Milei (Argentina) e Uribe (ex-presidente da Colômbia) para pedir ajuda para um golpe. A esquerda venezuelana deu exemplo de luta e colocou nas ruas centenas de milhares de pessoas em quase 300 cidades, principalmente na capital.

Foram atos de enfrentamento político com a direita, que convocou para 9/1 um dia “D” do golpe pela direita, com o objetivo de impedir a posse de Maduro. Fracassaram completamente, ao reunir menos de 2 mil pessoas em cerca de 20 “atos” pelo País.

Foi também uma devida mobilização militar, policial e das milícias populares que levaram à prisão de mais de 150 mercenários que a direita contratou (em sua maioria estrangeiros) para organizar ataques que provocassem uma desestabilização que impulsionasse o golpe.

Ao mesmo tempo, os chavistas procuraram criar uma mobilização internacional, articulando o apoio de países com governos que se enfrentam com o imperialismo como a Rússia, a China, o Irã, Cuba, etc. e outros setores  da esquerda de mais de 100 países – inclusive do Foro de SP – para realizar, aqui em Caracas, o Festival da Internacional Antifascista, em apoio à posse de Maduro.

Essa mobilização ampla colocou a covarde direita na defensiva e fez fracassar a armação da “denúncia” sem provas (falsificação!) de que a chefe da direita (que deveria estar presa), Maria Corina, teria sido sequestrada pelo governo. Mentira que foi amplamente divulgada pela imprensa em todo o mundo, mas que se viu desmascarada e ridicularizada entre amplas parcelas da população aqui na Venezuela.

Foram medidas importantes. Deixam claro que o triunfo do imperialismo, da sua contra ofensiva atual e da sua política de guerras e golpes, como se vê em todo o mundo depende da capitulação e da colaboração da esquerda.

Eles não desistiram e nem o farão facilmente.

Com Maduro, contra o imperialismo

Mais do que nunca, é preciso fortalecer a mobilização em defesa da Venezuela, do governo legítimo de Maduro e da sua política de enfrentamento com o imperialismo e de defesa da soberania nacional e dos interesses do povo. Trata-se de uma luta não só do povo venezuelano, mas de todos os explorados da América Latina e de todo o mundo.

Nos atos, plenárias, nas ruas, se viu um claro entendimento de que, na América Latina, a Venezuela representa neste momento (ao lado de Cuba e da Nicarágua) a mesma luta que os palestinos levam adiante contra o fascismo e o imperialismo, com mais de 50 mil civis assassinados. Eles só podem ser detidos pela força das armas e pela força da mobilização e com a superação da covardia de setores da esquerda que se ajoelham diante do imperialismo e não têm coragem defender a luta do povo venezuelano e palestino ou apenas lamentam o seu sofrimento.

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