Escrevo esta matéria voltando do Aeroporto Internacional Simón Bolívar, em Caracas, após meu voo de regresso ao Brasil ser cancelado pela LATAM Airlines Group S.A, a maior empresa aérea da América Latina, cuja sede se encontra no Chile e tem subsidiárias no Brasil e em outros países da América do Sul.
No aeroporto, os funcionários da empresa procuraram responsabilizar o governo, que já havia suspendido o bloqueio das fronteiras de países como Colômbia (para onde viajaria, antes de seguir para o São Paulo) e Brasil. O bloqueio foi estabelecido diante das ameaças de governos e grupos da direita de promoverem até mesmo uma invasão do País, com a ajuda dos EUA (se a conseguissem) para dar um golpe e impedir a posse do presidente Nicolás Maduro.
O governo adotou as devidas medidas de segurança e já havia suspenso o fechamento das fronteiras, mas a companhia, como muitos outros monopólios capitalistas, procurou criar obstáculos, amontoar passageiros em voos remarcados para dias depois, sem dar qualquer assistência aos passageiros, para criar ou aumentar a indisposição de setores da classe média com o governo apoiado pela maioria do povo venezuelano.
Golpismo sem limites
O episódio é um exemplo da intensa campanha que o imperialismo, sua imprensa venal e os seus capachos em toda a América Latina fazem contra nosso país irmão, com o claro intuito de derrubar o governo, que é um obstáculo à política de rapina dos que querem tomar posse e roubar do povo venezuelano as maiores reservas certificadas de petróleo do mundo, as segundas maiores reservas de ouro – dentre outras riquezas – e escravizar seu povo.
A imensa mobilização popular que vi e vivenciei em parte por aqui, nesses últimos dias, são um exemplo de como essa máquina brutal e selvagem de guerra e propaganda deve ser enfrentada. Ainda que com suas limitações políticas, o chavismo, as organizações operárias e populares da Venezuela, em unidade com os setores militares que Chávez liderou no final do século passado contra a política de recolonização do País e, principalmente, com as milícias bolivarianas com milhares de homens e mulheres armados e dispostos a resistirem ao golpe e possível invasão se mostraram como uma força decisiva. Uma força capaz de, até o momento, barrar a ofensiva e lutar contra o isolamento que a covardia de setores da esquerda – como do governo Lula e da esquerda parlamentar e identitária do Brasil – procuram impor ao País.
Enfrentamento
Com base em uma intensa campanha de agitação e propaganda entre amplíssimas camadas da população, denunciando o caráter traidor e criminoso da direita fascista que se vendeu e quer entregar o Pais para os “gringos”, incluindo milhares de cartazes e até outdoors oferecendo recompensa por denúncias do paradeiro do candidato derrotado Edmundo González (o “Imundo”, como é devidamente chamado por aqui), que – nos últimos dias – se ajoelhou e lambeu as botas de alguns dos maiores criminosos do mundo e algozes do povo latino americano como Joe Biden (EUA), Javier Milei (Argentina) e Uribe (ex-presidente da Colômbia) para pedir ajuda para um golpe. A esquerda venezuelana deu exemplo de luta e colocou nas ruas centenas de milhares de pessoas em quase 300 cidades, principalmente na capital.
Foram atos de enfrentamento político com a direita, que convocou para 9/1 um dia “D” do golpe pela direita, com o objetivo de impedir a posse de Maduro. Fracassaram completamente, ao reunir menos de 2 mil pessoas em cerca de 20 “atos” pelo País.
Foi também uma devida mobilização militar, policial e das milícias populares que levaram à prisão de mais de 150 mercenários que a direita contratou (em sua maioria estrangeiros) para organizar ataques que provocassem uma desestabilização que impulsionasse o golpe.
Ao mesmo tempo, os chavistas procuraram criar uma mobilização internacional, articulando o apoio de países com governos que se enfrentam com o imperialismo como a Rússia, a China, o Irã, Cuba, etc. e outros setores da esquerda de mais de 100 países – inclusive do Foro de SP – para realizar, aqui em Caracas, o Festival da Internacional Antifascista, em apoio à posse de Maduro.
Essa mobilização ampla colocou a covarde direita na defensiva e fez fracassar a armação da “denúncia” sem provas (falsificação!) de que a chefe da direita (que deveria estar presa), Maria Corina, teria sido sequestrada pelo governo. Mentira que foi amplamente divulgada pela imprensa em todo o mundo, mas que se viu desmascarada e ridicularizada entre amplas parcelas da população aqui na Venezuela.
Foram medidas importantes. Deixam claro que o triunfo do imperialismo, da sua contra ofensiva atual e da sua política de guerras e golpes, como se vê em todo o mundo depende da capitulação e da colaboração da esquerda.
Eles não desistiram e nem o farão facilmente.
Com Maduro, contra o imperialismo
Mais do que nunca, é preciso fortalecer a mobilização em defesa da Venezuela, do governo legítimo de Maduro e da sua política de enfrentamento com o imperialismo e de defesa da soberania nacional e dos interesses do povo. Trata-se de uma luta não só do povo venezuelano, mas de todos os explorados da América Latina e de todo o mundo.
Nos atos, plenárias, nas ruas, se viu um claro entendimento de que, na América Latina, a Venezuela representa neste momento (ao lado de Cuba e da Nicarágua) a mesma luta que os palestinos levam adiante contra o fascismo e o imperialismo, com mais de 50 mil civis assassinados. Eles só podem ser detidos pela força das armas e pela força da mobilização e com a superação da covardia de setores da esquerda que se ajoelham diante do imperialismo e não têm coragem defender a luta do povo venezuelano e palestino ou apenas lamentam o seu sofrimento.