A poucos dias de retornar ao comando da principal potência imperialista do mundo, o presidente reeleito dos Estados Unidos, Donald Trump, já começou a traçar uma política que promete colocar em xeque os interesses do imperialismo no Leste Europeu e aprofundar a crise do bloco. Em um movimento que sinaliza uma guinada em relação à política de cerco total à Rússia conduzida pelos monopólios, Trump anunciou que está organizando um encontro com o presidente russo, Vladimir Putin. “Ele quer se encontrar, e estamos organizando isso”, afirmou o republicano em declaração feita em seu resort em Mar-a-Lago, na Flórida, nesta sexta-feira (10).
Embora não tenha fornecido um cronograma específico para a reunião, o gesto por si só representa um revés significativo para a política de isolamento da Rússia, amplamente defendida pelo governo do democrata Joe Biden e demais representantes dos monopólios internacionais. Trump também reiterou sua promessa de negociar o fim da guerra na Ucrânia logo após assumir o cargo em 20 de janeiro. “Temos que acabar com essa guerra. É uma bagunça sangrenta”, declarou o presidente eleito, referindo-se ao conflito que ele considera um reflexo das falhas da diplomacia norte-americana.
Essa não é a primeira vez que Trump manifesta uma posição menos hostil em relação à Rússia. Em entrevista recente transmitida ao vivo na plataforma X, em 2024, ele destacou sua boa relação com Putin durante seu primeiro mandato.
“Eu conheço Putin muito bem. Eu me dava muito bem com ele. Ele me respeitava, e isso é algo bom”, afirmou, ressaltando que o atual governo norte-americano falhou em construir laços sólidos com outros líderes mundiais. Trump também mencionou que pretende retomar essa relação cordial com o presidente russo: “Espero me dar bem com ele novamente”.
A retórica de Trump também se alinha a uma crítica direta à administração democrata, que, segundo ele, cometeu erros graves ao lidar com a crise na Ucrânia. Trump não economizou nas críticas a Biden, especialmente em relação à insistência do democrata em oferecer apoio militar e financeiro irrestrito ao governo nazista da Ucrânia, além de apoiar sua entrada na OTAN. Para Trump, essa postura apenas escalou o conflito, como tornou impossível uma solução negociada.
Uma nova estratégia para a Ucrânia
Como parte de sua política para a Ucrânia, Trump nomeou Keith Kellogg, ex-assessor de segurança nacional e general aposentado, como enviado especial para o conflito entre Ucrânia e Rússia. Kellogg é conhecido por suas posições pragmáticas e por defender que os Estados Unidos condicionem o apoio à Ucrânia à disposição de Quieve (capital do país) em participar de negociações de paz. Em um artigo publicado em 2022 pelo America First Policy Institute, Kellogg sugeriu que, caso Moscou (capital russa) recusasse dialogar, o apoio americano poderia ser mantido, mas com objetivos claros de encerrar a guerra.
Trump reforçou sua posição, afirmando que o conflito sequer teria começado se ele estivesse na presidência. “Eu disse: ‘Você não pode fazer isso, Vladimir. Se fizer, vai ser um dia muito ruim para você’. E eu o convenci”, afirmou o republicano, sugerindo que Putin teria usado a mobilização militar em 2021 e 2022 como uma forma de pressionar o imperialismo a negociar.
Pressão
O impacto da aproximação entre Trump e Putin transcende a questão ucraniana. Representa uma mudança significativa na postura do imperialismo norte-americano, que sob Biden, manteve uma linha dura contra Moscou. A aposta em sanções, no envio de armamentos e na expansão da OTAN às portas da Rússia demonstrou ser uma estratégia fracassada para impor seus interesses na região.
Trump, por outro lado, parece buscar uma política diferente, baseada em negociações diretas e na contenção de gastos militares. Essa estratégia reflete o interesse dos setores mais frágeis (porém mais numerosos) da burguesia norte-americana, que não quer arcar com os custos das aventuras militares dos monopólios, os maiores interessados no tema e para o qual, bilhões de dólares têm sido gastos.
Além disso, é um reconhecimento tácito da falência da política de confronto direto com Moscou e como uma tentativa de redefinir as prioridades da política da principal potência imperialista do mundo, que ainda tem na China sua maior ameaça. O movimento de Trump também gerou fortes reações dentro do próprio aparato do imperialismo.
Ainda durante a campanha eleitoral, em agosto do ano passado, Biden classificou a política de Trump como “um verdadeiro perigo para a segurança americana”, reiterando a importância de derrotá-lo nas próximas eleições. O medo é compreensível.
Trump não apenas expressa a fraqueza do imperialismo com sua política em relação à Rússia, mas também promete reverter outras medidas fundamentais do bloco imperialista, entre eles a manutenção da OTAN. A aproximação com Putin e a disposição para encerrar a guerra na Ucrânia representam uma quebra significativa na política de unidade do bloco das nações desenvolvidas, abrindo espaço para mais crises na política mundial.
O anúncio de um encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin é mais do que um simples gesto diplomático. É um sinal claro de que o republicano pretende redefinir as bases da política externa norte-americana, rompendo com a linha de confronto total que prevaleceu nos últimos anos. Embora ainda seja cedo para prever os resultados concretos dessa aproximação, é inegável que ela representa uma derrota para os setores mais agressivos do imperialismo.
Com isso, Trump coloca em xeque os interesses dos monopólios e abre caminho para uma crise ainda maior na ditadura mundial. Se conseguir concretizar suas promessas, a aproximação com Putin poderá significar não apenas o fim da guerra na Ucrânia, mas também o início de uma nova fase na política norte-americana e do imperialismo.