Ocorrida no último mês de dezembro, a queda do regime de Bashar al-Assad na Síria colocou o país em uma turbulência que ameaça desencadear um novo conflito militar. Segundo um relatório de um grupo formado pela ditadura sionista batizado Comitê Nagel, há uma crescente possibilidade de que “Israel” entre em guerra com a Turquia no território sírio, razão pela qual o enclave imperialista já deveria se preparar. Essa perspectiva foi destacada pelo próprio primeiro-ministro Benjamin Netaniahu, que afirmou: “estamos testemunhando mudanças fundamentais no Oriente Médio. O Irã tem sido a nossa maior ameça, mas novas forças estão entrando em cena, e precisamos estar preparados para o inesperado. Este relatório nos fornece um roteiro para garantir o futuro de Israel”, disse.
O Comitê Nagel não apenas alerta para o aumento das tensões, mas também sugere medidas concretas como o aumento dos gastos militares para 15 bilhões de shekels (US$4 bilhões na cotação do último dia 9) e também, a aquisição de armamentos avançados, como caças F-15 e sistemas de defesa aérea mais sofisticados. A proposta também inclui a construção de uma barreira de segurança na região do Vale do Jordão, reforçando o cerco militar na região.
Netaniahu, no entanto, enfrenta críticas de especialistas como Ori Goldberg, que em entrevista ao sítio russo Sputnik, aponta que “Israel” está “profundamente sobrecarregado” e sem capacidade real de sustentar uma ocupação duradoura na Síria, razão pela qual acredita que a guerra não deve ser deflagrada no curto prazo.
“Israel está fazendo ruídos muito agressivos, mas não tem verdadeiramente a capacidade ou a possibilidade de manter a ocupação da Síria ou de tomar Damasco”, disse, acrescentando: “Israel está muito [e] profundamente sobrecarregado”. Por fim, o especialista ouvido por Sputnik considerou que a campanha israelense seria um reflexo das dificuldades encontradas pela ditadura sionista com relação ao que seria o principal conflito de “Israel”: a guerra genocida contra o povo palestino, em especial em Gaza.
“Todas estas guerras contra a Síria, a Turquia e outros países não passam de táticas de distração, destinadas a desviar as atenções do fato de Israel não ter qualquer sentido de fim ou de direção em relação a Gaza”.
Turquia e o tabuleiro sírio
Por outro lado, a Turquia, sob a liderança de Recep Tayyip Erdogan, não está apenas reagindo. Erdogan tem explorado uma estratégia de negociações com lideranças curdas, como Abdullah Ocalan, enquanto simultaneamente intensifica suas ações militares contra grupos curdos armados, como o YPG e o PKK. O chanceler turco Hakan Fidan destacou a urgência dessas ações ao afirmar: “Acreditamos que é apenas uma questão de tempo até que o PKK/YPG seja eliminado.”
Com a queda de Assad e a ascensão de Ahmad al-Sharaa (que anteriormente se apresentava como al-Jolani) – antigo líder da Frente Nusra e atual chefe do governo interino sírio –, a Turquia consolida seu controle sobre parte significativa do território sírio. Isso representa uma preocupação direta para “Israel”, que teme que facções sírias alinhadas à Turquia atuem como proxies em um futuro conflito.
No cenário internacional, a postura do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, adiciona ainda mais imprevisibilidade à situação. Em uma publicação recente na rede social Truth Social, Trump declarou: “A Síria é um caos, mas não é nosso problema. OS ESTADOS UNIDOS NÃO DEVEM SE ENVOLVER (em caixa alta, conforme a redação de Trump).” Essa posição contrasta fortemente com administrações anteriores e pode indicar uma retirada do apoio norte-americano às Forças Democráticas da Síria (SDF), principal aliada dos Estados Unidos na região.
A Síria tornou-se o epicentro de disputas políticas que levaram a crise imperialista do Mundo Árabe à toda região da Ásia Menor. Com interesses conflitantes entre “Israel”, Turquia e o imperialismo, o futuro do país é incerto.
A ascensão dos mercenários como Ahmad al-Sharaa, que já faz acenos à Rússia, apenas aumenta a complexidade do cenário. Se o histórico recente serve de exemplo, a região caminha para um período de instabilidade ainda maior, com consequências que podem repercutir em todo o Oriente Médio.