O jornalista André Curvello publicou um artigo no portal de esquerda Brasil 247, intitulado Fake news, uma ameaça real, em defesa, naturalmente, da manutenção da política de checagem de informações por meio de “especialistas”. Recentemente, o proprietário da Meta (que controla as redes sociais Facebook, Instagram e o serviço de mensagens WhatsApp) Mark Zuckerberg anunciou o fim do modelo e relaxamento na política de censura em suas plataformas. “Especialistas alertam que essa abordagem transfere para os usuários uma tarefa que exige preparo técnico e recursos, gerando um risco ainda maior de amplificação da desinformação”, disse Curvello, nomeando, na sequência, quem tem “preparo técnico e recursos” para dizer o que é verdade e o que é mentira:
“O que a Meta pretende desativar, no Brasil, é um programa de checagem de fatos em parceria com diversas organizações independentes. Entre essas entidades estão a Agência Lupa, Aos Fatos, Estadão Verifica, AFP, Reuters Fact Check e UOL Confere. Essas organizações são reconhecidas por sua atuação na verificação de informações e são signatárias do código de conduta da International Fact-Checking Network (IFCN), que estabelece normas de transparência e ética profissional.”
Aqui o primeiro problema com a argumentação de Curvello e a posição em geral, uma vez que Agência Lupa, Aos Fatos, Estadão Verifica, AFP, Reuters Fact Check e UOL Confere são tudo, menos “organizações independentes”. A Agência Lupa, por exemplo, é financiada pela Editora Alvinegra, do cineasta e banqueiro João Moreira Salles (também dono da revista tucana piauí). Aos Fatos, por sua vez, recebe financiamento de diversas ONGs, entre elas, a Fundação Heinrich Böll, do partido imperialista alemão Os Verdes.
Estadão Verifica, AFP, Reuters Fact Check e UOL, finalmente, dispensam maiores comentários, embora seja importante lembrar que no caso do Estadão e da Folha (de propriedade do Grupo Folha, que controla também o UOL) apoiaram aberta e entusiasticamente os golpes de Estado de 2016 (a derrubada de Dilma Rousseff) e de 2018 (a proscrição arbitrária e ilegal de Lula do pleito presidencial), para não falar na Ditadura Militar (1964-1985), com a francesa AFP e a britânica Reuters completando o time. Eis os “independentes” de Curvello.
Zuckerberg defendeu o cancelamento da política de censura por meio da checagem de informações dizendo que os órgãos contratados eram “politicamente tendenciosos”. Olhando para um time desse, a constatação mais normal a ser feita por qualquer pessoa minimamente informada é: “alguém duvida?”
Os órgãos de imprensa brasileiros, por sinal, não podem se deparar com qualquer menção ao golpe de 2016 sem dizer que o denunciante do golpe em questão está incorrendo em “fake news”. Até mesmo o presidente Lula já foi acusado sob esses termos ao referir-se ao golpe que derrubou sua companheira da presidência onde o povo a colocara. Chamar essas verdadeiras agências de manipulação de “agências de checagem” é até um cinismo, que atinge um patamar ainda maior no parágrafo a seguir:
“Regular as plataformas digitais e incentivar a checagem de fatos não é censura. Pelo contrário, é uma questão de respeito às regras que sustentam a convivência democrática. A liberdade de expressão, como qualquer direito, não é absoluta; ela encontra limites no respeito aos direitos dos outros, incluindo a proteção à reputação e à segurança das pessoas e instituições.”
Ora, se uma determinada informação, como por exemplo a denúncia de que em 2016 houve um golpe de Estado diretamente apoiado por quase todas as “agências de checagem independentes” (senão todas) não pode circular por que uma agência do Estado de S. Paulo ou da Folha ou da família Salles determinou que não foi um golpe, o que é isso senão uma censura? Se informações como a participação do governo britânico e norte-americano na explosão do gasoduto russo Nord Stream não podem ser difundidas porque monopólios interessados no tema, como Reuters e AFP, não querem, isso não é censura? É claro que é.
Curiosamente, Curvello defende seu argumento falando em “respeito às regras que sustentam a convivência democrática”, porém no Brasil, o que “as regras” dizem são o seguinte:
“Art. 5º
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.”
Não há absolutamente nenhum desrespeito “às regras da convivência democrática” em defender a abolição desse odioso mecanismo de censura, mas há, no que o jornalista defende, algo frontalmente contrário à Constituição do País, que diz expressamente só haver uma restrição à liberdade de expressão: o anonimato. Como que para dobrar a proteção à liberdade de expressão, a Carta protege ainda “a atividade intelectual, artística, científica e de comunicação” (grifo nosso), acrescentando “independentemente de censura ou licença”. Mais claro impossível, certo?
Deveria ser, mas tirando da cartola a estranha ideia de que “a liberdade de expressão, como qualquer direito, não é absoluta” (como se fosse possível ter “meio” direito, enfim), o autor justifica um malabarismo retórico totalmente aloprado e frontalmente contrário às “regras da convivência democrática” que diz defender, mas não defende. O que Curvello defende de fato, é a ditadura sionista, quer tenha consciência disso ou não.
Os responsáveis pelo genocídio na Palestina são os principais interessados na censura defendida pelo jornalista, uma vez que as informações que chegaram ao público principalmente por brechas, em redes sociais onde a censura é mais fraca (como Tik Tok, Telegram e mesmo o X, embora o último censure muita informação em defesa da Palestina também), ocasionaram uma convulsão mundial, especialmente nos países mais desenvolvidos. Na América do Norte, a questão palestina acabou com o governo Biden e terminou a desmoralização do “progressista” Justin Trudeau iniciada na pandemia.
Na Europa, o repúdio da população com as monstruosidades cometidas por “Israel” tem provocado protestos constantes, alguns com enfrentamento contra a polícia, como se tem observado em países como a França e a Alemanha. Tudo isso, devemos lembrar, sem que a verdade sobre o genocídio circule nos órgãos de imprensa massivos e nas redes sociais monopolistas. Uma situação que permite conjecturar, inclusive, que sem a censura, o Hamas seria tão ou mais popular hoje do que o Movimento 26 de Julho foi nos anos 1960, e em todo o planeta.
“A decisão da Meta de abandonar a checagem de fatos deve servir como um alerta global para que governos e sociedade civil fortaleçam as políticas de moderação e a educação digital. No Brasil, o fracasso na aprovação de uma legislação como o PL das Fake News não pode ser visto como um ponto final, mas como um incentivo para amadurecer a discussão e criar soluções inclusivas e eficazes.
O desafio não é apenas tecnológico ou político, mas civilizatório. Proteger a democracia, os direitos humanos e a integridade das informações é uma responsabilidade coletiva que transcende ideologias. É hora de agir com maturidade e compromisso, antes que o custo da inação se torne irreparável.”
Aqui Curvello acerta, em parte. A “democracia” ou, o regime imperialista mais concretamente, não consegue se segurar em pé no atual estágio de sua crise terminal. O que aconteceria se a população pudesse trocar informações livremente e ver o que os moradores de favelas veem a polícia fazendo com seus pares rotineiramente? Se o mundo inteiro visse o que os palestinos veem “Israel” fazendo na Palestina?
Inevitavelmente iria acelerar a derrocada final da “democracia” e o fim da ditadura mundial dos monopólios. Que os inimigos do povo mintam à vontade e que a esquerda seja livre para desmascarar os mentirosos. Havendo um ambiente onde a liberdade de expressão exista de fato, a esquerda não tem nada a temer, ao contrário do imperialismo.