Em seu perfil oficial no X, o ex-militar israelense nascido no Brasil e atual lobista da ditadura sionista em solo nacional André Lajst, criticou a publicação de uma nota feita pelo Ministério das Relações Exteriores, na qual o governo brasileiro manifesta “preocupação” com a invasão da Esplanada das Mesquitas (onde se localiza a Mesquita de al-Aqsa) na cidade de al-Quds (Jerusalém ocupada), feita pelo genocida ministro de Segurança Nacional de “Israel”, Itamar Ben Gvir, no último dia 26.
Na declaração do governo, publicada no mesmo dia, a chancelaria destaca que “a repetição do ato, contrário ao ‘status quo’ histórico do sítio sagrado, concorre para exacerbar ainda mais as tensões na região, em meio à continuidade de ataques israelenses na Faixa de Gaza e de incursões militares em cidades palestinas da Cisjordânia”. Para Lajst, porém, a posição do governo Lula foi uma “vergonha”:
“O governo brasileiro não para de passar vergonha. Apesar de sensível a visita de Ben Gvir, o governo brasileiro persiste em negar a história judaica na região, ao não mencionar que a explanada das mesquistas é também o Monte do templo, local mais sagrado do mundo para o judaísmo, além de mencionar a guerra na Faixa de Gaza e na Cisjordânia como se fosse uma vontade única e exclusiva de Israel.
O governo brasileiro omite o atentado do Hamas na nota e esquece que existem células terroristas na Cisjordânia, que recentemente foram combatidas com violência até mesmo pela autoridade palestina nesta semana.”
Trata-se de uma reação cínica do ex-militar sionista. Primeiro porque Lajst apela, novamente, à ignorância de quem acompanha suas publicações ao dizer que “até mesmo a Autoridade Palestina” reprime as organizações e a militância ligada à resistência na Cisjordânia. É um cinismo porque procura fazer de conta que a Autoridade Palestina não é uma organização criada pelos Estados Unidos para servir como polícia árabe-sionista.
Toda a história da entidade é marcada pelo que Lajst procura tratar como uma excepcionalidade, que é a repressão aos revolucionários palestinos. Sintomático disso, transcorridos mais de 14 meses desde o início da atual fase do conflito entre a Resistência Palestina e “Israel”, a AP não fez absolutamente nada contra o enclave imperialista, deixando a ditadura sionista livre para atacar os palestinos mesmo no território da Cisjordânia, para onde a entidade refugiou-se após ser expulsa de Gaza pelo Hamas e demais partidos revolucionários.
Na contramão da placidez com que tem assistido a “Israel” barbarizar os palestinos, como o próprio Lajst entrega, a AP tem “combatido com violência” a Resistência. Se essa “contradição” não é uma prova contundente de que Mahmoud Abbas e seus asseclas na AP são cachorros a serviço de “Israel”, nada mais será.
Lajst, no entanto, continua sua defesa mais ou menos velada do sionismo, defendendo que a Esplanada das Mesquitas pode ser invadida porque em algum momento histórico remoto, o local foi “também o Monte do templo, local mais sagrado do mundo para o judaísmo”. É outro cinismo.
Se o lobista sionista realmente acredita no que diz, deveria abdicar de sua residência no Brasil e mudar-se para “Israel”, dado que em outros períodos históricos, outros povos habitavam o que hoje é a cidade de São Paulo. Claro que Lajst não o fará, porque não é um argumento sério, é apenas e tão somente um malabarismo retórico criado para tentar justificar o injustificável: o escárnio feito por Ben Gvir.
A invasão de um local sagrado é algo que poucas tiranias se atreveram a fazer ao longo da história. Mesmo a tenebrosa Ditadura Militar brasileira (1964-1985) registra episódios como o funeral do jovem estudante Edson Luís, quando a PM fluminense esperou que os participantes da missa de sétimo dia do adolescente assassinado deixassem a Igreja da Candelária, onde a missa ocorria, para aí, sim, reprimir os participantes. Uma coisa hedionda realizada pelos militares, mas que a selvageria desenfreada de “Israel” conseguiu fazer parecer um gesto humanitário.
Só na cabeça de um cínico o escárnio feito por um criminoso como Ben Gvir poderia encontrar justificativa, ainda mais em termos como “é também o Monte do templo”. Ora, foi o Monte do templo. Hoje é um local sagrado para a fé dos donos legítimos do território: o povo palestino.
Finalmente, Lajst recorre ao cinismo também para sugerir que “a guerra na Faixa de Gaza e na Cisjordânia” não é “uma vontade única e exclusiva” da ditadura sionista. Desde o 7 de Outubro, porém, o governo israelense manifestou abertamente suas intenções de exterminar o povo palestino e destruir suas terras.
Ocorre que carnificina imposta a Gaza, com dezenas de milhares de mortos, fome e pestes a todo a população restante, é a consequência direta de uma política de aniquilação em massa, que não tem como objetivo proteger os cidadãos israelenses, mas sim erradicar os palestinos. É importante lembrar que, em momentos de emparedamento por grupos revolucionários, até mesmo ditaduras militares como a brasileira e a uruguaia (para ficar em apenas dois exemplos), quando confrontadas com operações como a empreendida pela Resistência Palestina no 7 de Outubro, não recorreram ao massacre generalizado, mas soltaram os prisioneiros.
“Israel” teve a opção de fazer o normal e evitar a destruição em massa, mas escolheu deliberadamente o genocídio, pois essa sempre foi sua verdadeira intenção. O cinismo de Lajst tenta responsabilizar a ação revolucionária do Hamas e demais partidos da Resistência pela crise, mas tudo o que a vanguarda palestina fez foi provar que estão certos em usar qualquer expediente para se libertar da opressão sionista, uma ditadura que só encontra paralelos com a ditadura nazista, se já não a superou. Algo reforçado pelo fato de que verdadeiros desclassificados ainda conseguem defender “Israel”, ainda que precisando recorrer à ignorância e ao cinismo.