A Turquia solicitou que países estrangeiros retirem seu apoio aos combatentes curdos no norte da Síria. Após o golpe de Estado, o governo turco mantém controle sobre um território na região norte da Síria e busca sua expansão.
“Não havia mais razão”
Em uma declaração divulgada na sexta-feira (20), o presidente turco Recep Tayyip Erdoğan afirmou que a Turquia espera que países estrangeiros retirem o apoio aos combatentes curdos na Síria após a queda de Bashar al-Assad.
O comentário foi feito a repórteres durante o voo de volta de uma cúpula do D-8 no Cairo, na quinta-feira (19), na qual se reuniram líderes do Egito, da Turquia e do Irã. Na ocasião, Erdoğan afirmou que não havia mais razões para os estrangeiros apoiarem os combatentes das Unidades de Proteção Popular (YPG, sigla em inglês).
“No próximo período, não acreditamos que qualquer poder continuará a colaborar com organizações terroristas. Os chefes de organizações terroristas como o Estado Islâmico e o PKK-YPG serão esmagados no menor tempo possível”, declarou Erdoğan.
Forças de ocupação
O YPG é parte essencial das Forças Democráticas Sírias (SDF), apoiadas pelos EUA. Sua atuação conjunta com o Hayat Tahrir al-Sham (HTS) e o Estado Islâmico (EI) foi crucial para a queda do regime de al-Assad.
Nos últimos dias, além do financiamento das operações do HTS e do EI, pelo imperialismo, há uma tendência crescente de aceitação política aberta dos mesmos. O imperialismo tem se utilizado dessas três forças militares, juntamente com mercenários e suas próprias forças, com os EUA mantendo um contingente de mais de 2 mil homens na região, para ocupar a Síria.
Queda de al-Assad
A SDF foi formada por militares dos EUA em 2015, com o objetivo de conquistar territórios árabes na Síria após a falha da ocupação feita pelo EI. O interesse dos EUA era capturar as regiões produtoras de petróleo e trigo da Síria, com o intuito de desestabilizar o governo de Bashar al-Assad através de sanções econômicas punitivas, visando sua deposição.
Em 2011, os territórios curdos no norte e leste da Síria foram ocupados pelo YPG. A tomada do controle da região ocorreu após o início da guerra secreta apoiada pelos EUA contra o governo de Assad.
Em parceria com militares norte-americanos, a SDF ocupa principalmente áreas no norte e leste da Síria, incluindo os principais campos de petróleo do país. Essas regiões ao norte são fronteiriças com o território turco.
Conflito de interesses
Ocorre que o PKK está, desde 1984, engajado na luta armada pela independência do Curdistão, em face do Estado turco. O Estado turco considera o YPG como uma extensão do PKK, classificando ambos como organizações terroristas.
Neste cenário, Erdoğan acrescentou em sua declaração: “No próximo período, não acreditamos que qualquer poder continuará a colaborar com organizações terroristas. Os chefes de organizações terroristas como o Estado Islâmico e o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão)-YPG serão esmagados no menor tempo possível”, concluindo que “O Estado Islâmico, o PKK e suas versões que ameaçam a sobrevivência da Síria precisam ser erradicados.”
Cessar-fogo
Com a derrubada do regime de al-Assad, um representante turco assumiu o controle da cidade de Manbij, o que gerou conflitos com os demais ocupantes. No início do mês, os EUA anunciaram ter conseguido um cessar-fogo entre as partes, porém, um funcionário do Ministério da Defesa turco, na quinta-feira (19), contradisse o Departamento de Estado norte-americano, em entrevista à Reuters.
A informação foi confirmada na sexta-feira (20), com o anúncio do ministro da Defesa turco, Yaşar Güler, de que a Turquia pretende expulsar os combatentes da SDF das cidades de Kobani e Raqqa, no norte da Síria. Eles pretendem desarmá-los e transferir suas armas para o novo governo da Síria.
“Esperamos que eles abandonem todas as armas pesadas e evacuem essas áreas sem causar qualquer situação indesejada para os moradores locais”, afirmou o ministro Güler.
Destino dos curdos
Segundo o sítio The Cradle, fontes curdas afirmam que a Turquia está tentando eliminar não apenas o PKK e seus derivados, mas os próprios curdos do norte da Síria. Para esses, os curdos estão prontos para um acordo com o novo governo interino sírio, liderado pelo ex-líder da Al-Qaeda Ahmed al-Sharaa (anteriormente conhecido como Abu Mohammad al-Julani).
Supostamente, eles desejariam estabelecer um estado democrático onde os direitos de diferentes grupos religiosos e étnicos coexistam na Síria, uma realidade distante do histórico das ocupações imperialistas ou dos regimes impostos pelas forças que os utilizam na ocupação.
Não seria surpreendente que o povo curdo acabasse pagando a conta pelos golpes e investidas imperialistas. Há poucas décadas, tivemos o caso do genocídio ruandês em 1994.