Que Izz ad-Din al-Qassam, mártir que dá nome às Brigadas al-Qassam (braço armado do Hamas), é uma referência na luta anti-imperialista e anticolonial na Palestina, é sabido; no entanto, sua história vai além do que hoje são Gaza e Cisjordânia. A história do Oriente Médio é marcada por lutas de libertação e pela resistência dos povos à ocupação sionista.
É nessa conjuntura que o nome de Izz ad-Din al-Qassam se destaca como um grande líder da Resistência, tanto na Palestina quanto na Síria. Embora amplamente reconhecido por seu papel na luta contra o Mandato Britânico na Palestina, al-Qassam foi também uma figura fundamental na Grande Revolta Síria de 1925, um dos maiores movimentos de resistência contra o colonialismo francês no mundo árabe.
A Grande Revolta Síria começou em julho de 1925, liderada por Sultan al-Atrash e outros líderes nacionais, como resposta à imposição do Mandato Francês após a Primeira Guerra Mundial. A revolta foi alimentada pelo descontentamento com a exploração econômica, a repressão política e a divisão territorial da região, que ignorava as aspirações dos povos locais por independência.
Nesse período, o Oriente Médio vivia as consequências do Acordo Sykes-Picot (1916) e da Declaração de Balfour (1917), que favoreciam os interesses europeus às custas do sangue dos povos árabes. Na Síria, a presença francesa era vista como uma afronta à soberania nacional, especialmente pela população rural, a principal base social da revolta.
Izz ad-Din al-Qassam nasceu em 1882, em Jableh, uma cidade costeira na Síria. Ele foi educado em estudos islâmicos na Universidade Al-Azhar, no Cairo, e retornou ao Levante com um forte compromisso com a resistência ao imperialismo. Durante a Grande Revolta Síria, al-Qassam se destacou como um líder popular, organizando milícias e a resistência armada contra as forças francesas.
Sua atuação não se limitou aos combates. al-Qassam também teve um papel significativo como mobilizador político e religioso, usando a causa islâmica para unir diferentes segmentos da população. Ele defendia que a luta contra o colonialismo era uma obrigação não apenas humana, mas também religiosa, buscando criar um movimento coeso que transcendesse divisões tribais e regionais.
Depois que a revolta foi brutalmente reprimida pelos franceses, al-Qassam se refugiou na Palestina em 1927. Lá, ele passou a liderar um movimento de resistência contra o Mandato Britânico e a crescente colonização sionista.
Sua experiência na Grande Revolta Síria foi fundamental para moldar sua estratégia de resistência na Palestina, onde organizou grupos armados e estabeleceu uma rede de apoio popular para resistir à ocupação. Ele também foi um dos primeiros a identificar o perigo da colonização sionista para os palestinos, apontando a necessidade de resistir não apenas ao colonialismo europeu, mas também à perda de terras e direitos dos habitantes locais, com armas nas mãos e dando suas vidas.
O impacto de Al-Qassam ultrapassa as fronteiras da Síria e da Palestina. Ele se tornou um símbolo da resistência anti-imperialista em todo o mundo árabe.
Sua capacidade de articular a luta política com uma base religiosa e social ampla o tornou uma figura icônica. Na Síria, sua participação na Grande Revolta de 1925 é lembrada como um exemplo de liderança em tempos de crise. Na Palestina, sua morte em 1935, em um confronto com as forças britânicas, marcou o início de uma nova fase na resistência palestina, inspirando a criação de grupos como o Hamas, cujo braço armado leva seu nome: as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam.
A trajetória de Izz ad-Din al-Qassam demonstra como as lutas por libertação no Oriente Médio estão interligadas. Sua participação na Grande Revolta Síria de 1925 e sua liderança na Palestina evidenciam a continuidade das resistências locais contra o imperialismo. al-Qassam não é apenas um herói nacional, mas de todo o povo árabe.