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Esquerda

Perseguir a extrema direita não fará nada, basta ver os EUA

Perseguição judicial levou à vitória de Donald Trump nos EUA, beneficia Le Pen na França e a extrema direita na Alemanha

No dia 18 de dezembro, o colunista do Brasil 247, Moisés Mendes, publicou um texto intitulado Podem prender Bolsonaro e seus comparsas e não acontecerá nenhum levante. No artigo, o autor defende que, independentemente do que ocorra nos tribunais brasileiros, os bolsonaristas não se mobilizarão, nem mesmo diante de uma possível prisão de Bolsonaro em um futuro próximo.

Os argumentos para tal afirmação? Não estão presentes no texto. O máximo que a coluna menciona e que poderia ser interpretado como um argumento, é o fato de que até agora não houve nenhuma manifestação contundente da extrema direita nas ruas em resposta à prisão de Braga Netto.

Segundo o colunista, o maior protesto contra a prisão do general no dia 14 deste mês veio de Silas Malafaia. No entanto, Mendes não considera que a prisão ocorreu apenas quatro dias antes da publicação de seu artigo no Brasil 247. Esse curto intervalo de tempo não pode ser usado como parâmetro para afirmar que não haverá manifestações de rua contra a prisão.

Além disso, quatro dias após a prisão de uma figura importante não são suficientes para sustentar a tese de que outras figuras relevantes do bolsonarismo, incluindo o próprio Bolsonaro, poderiam ser presas sem gerar revolta entre os apoiadores da extrema direita.

Lula, por exemplo, ficou preso por 580 dias em Curitiba. Na época, mesmo com inúmeras prisões ilegais nos processos-farsa do Mensalão e da Lava Jato que antecederam sua prisão, a esquerda ainda não havia se mobilizado significativamente. Uma das poucas exceções foi o PCO, que organizou caravanas para Curitiba e liderou uma grande campanha pela liberdade do petista.

No entanto, Lula foi solto em um momento em que ficava evidente que, se sua liberdade não fosse concedida, a situação poderia escapar ao controle da burguesia. Para quem participava da campanha, a tendência era de que a mobilização se intensificasse.

Com base em que o articulista garante que todas essas prisões poderiam ocorrer sem desencadear uma mobilização da extrema direita? O colunista chega a afirmar: “se Alexandre de Moraes tivesse motivos e argumentos para decretar prisões preventivas em massa, não aconteceria nada”. Essa certeza, no entanto, carece de sustentação no texto.

Mendes também se contradiz ao falar sobre Malafaia. Primeiro, afirma em seu texto que “Malafaia só é ouvido na sua igreja ou em cima de um trio elétrico na Avenida Paulista”. Em seguida, declara que “não aconteceria nada além do berreiro de Malafaia e de alguns que têm mandato e tribuna, mas não são ouvidos nem pelos seus.” Ou seja, para o articulista, Malafaia é ouvido e não é ouvido ao mesmo tempo.

A ideia de que o pastor fala “em cima de um trio elétrico na Avenida Paulista” também entra em contradição com a tese central do texto, segundo a qual a extrema direita não está se mobilizando. Então, além de Malafaia ser e não ser ouvido, a extrema direita não se mobiliza e se mobiliza, tudo ao mesmo tempo.

É preciso lembrar que uma parcela considerável da população brasileira é cristã, e muitos desses cristãos são evangélicos. Embora haja divisões dentro das igrejas neopentecostais, figuras como Malafaia, alinhadas à extrema direita, são escutadas e têm suas opiniões levadas muito a sério. Desdenhar de sua capacidade de mobilização e alinhamento ideológico é o mesmo erro cometido pela esquerda antes de Bolsonaro, quando se dizia que os bolsonaristas eram apenas “meia dúzia de gatos pingados”, pouco antes de grande parte da direita abandonar o tucanismo e entrar de cabeça no bolsonarismo.

Mendes também faz afirmações questionáveis, como a de que a Polícia Rodoviária Federal, que há dois anos impediu parte do eleitorado petista de chegar aos locais de votação, e a Polícia Militar atual, responsável por números recordes de violência policial, teriam se afastado do bolsonarismo. E quais são os argumentos apresentados? Nenhum, exceto talvez a alegação de que, nos últimos quatro dias, não houve nenhum levante policial.

Enquanto grande parte da esquerda afirma que os militares tramaram um golpe, o colunista – que também acredita nisso – argumenta que os “tios do zap” não podem mais contar com o apoio dos militares.

Mendes acredita que a burguesia, que controla a polícia, o Judiciário e as Forças Armadas, punirá os supostos golpistas, acabará com o bolsonarismo e garantirá a paz no Brasil. Isso, vindo da mesma burguesia que mergulhou o País em uma ditadura brutal em 1964 e que, em 2016, realizou um golpe de Estado contra o governo de Dilma Rousseff, do PT, para acabar com a aposentadoria dos brasileiros, destruir direitos trabalhistas e fazer o Brasil retroceder décadas em seu desenvolvimento econômico.

Causa vergonha alheia ouvir alguém dizer que a burguesia, os mesmos juízes que deram o golpe de 2016 e impediram Lula de concorrer em 2018, e a polícia, vão prender Bolsonaro, e ao mesmo tempo afirmar que quem critica os desmandos do STF é covarde, como está no texto de Mendes. A verdadeira covardia está na postura de quem espera que outros façam aquilo que ele mesmo não tem coragem de fazer, não na de quem tem coragem de criticar as loucuras da esquerda.

Além de covarde, esperar que a burguesia faça um milagre é, no mínimo, uma grande falta de inteligência. Basta olhar o que aconteceu nos Estados Unidos, onde a perseguição judicial, a tentativa de assassinato de Trump e toda sua demonização por parte da imprensa imperialista levaram justamente ao efeito contrário do que a esquerda esperava: a vitória de Trump.

Na França, a burguesia persegue judicialmente Marine Le Pen e tenta deixá-la inelegível antes das eleições de 2027, e isso leva a um aumento de popularidade de Le Pen, que, com o naufrágio do governo Macron, que pode cair logo no meio do próximo ano, o que provavelmente levará Le Pen a governar a França.

Na Alemanha, a situação é semelhante, com o desmoronamento do governo de Olaf Scholz e a possibilidade de que o partido nazista AFD se torne a segunda força no país ou, na pior das hipóteses, chegue ao governo, depois da perseguição judicial ao partido e do fechamento de parte da imprensa que o apoiava.

Ou seja, mesmo que seja verdade que a burguesia queira colocar Bolsonaro na cadeia, isso não levará a lugar algum. Quatro dias não podem ser parâmetro para se determinar o que acontecerá no futuro do Brasil e, observando o que ocorre em outros países, o mais provável é que o tiro possa sair pela culatra, mesmo que não haja um levante da extrema direita, como diz o colunista de Brasil 247.

Ao mesmo tempo, ao apoiar o fim dos últimos direitos garantidos pela Constituição de 88, uma parte da esquerda se revela como aliada de um regime político decrépito, algo que logo ficará para trás, no passado.

 

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