Os principais grupos de resistência palestina convocaram a população da Cisjordânia a se mobilizar contra a Autoridade Palestina (AP), que tem conduzido uma operação de repressão truculenta no campo de refugiados de Jenin. A chamada vem após uma série de ações coordenadas pela AP que, sob o pretexto de “erradicar o caos e a sedição”, resultaram em ataques às organizações que lideram a Resistência contra a ocupação sionista.
Desde o início da ofensiva da AP contra os palestinos, em 5 de dezembro, pelo menos três pessoas foram assassinadas, incluindo um comandante do Batalhão Jenin, ligado às Brigadas Al-Quds (braço armado do partido revolucionário Jiade Islâmica), e uma criança. Até agora, o cerco à região gerou protestos, greves gerais e o fechamento de serviços essenciais como escolas e escritórios da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês).
Principal organização da Resistência, o Hamas denunciou as ações como um “crime em plena escala” em declaração oficial publicada na última segunda-feira (16), convocando uma “mobilização popular para romper o cerco e proteger os combatentes da resistência, bem como para enfrentar essa operação de segurança, que só serve ao exército de ocupação [israelense] e seus sonhos fracassados de acabar com a resistência na Cisjordânia”. A declaração também foi endossada por lideranças do Batalhão Jenin, que combateram a AP, enfatizando que “um programa nacional que não inclua a luta armada é um programa de traição”.
A operação, denominada “Proteção da Pátria” pela AP, levou à invasão de várias áreas do campo de refugiados, incluindo hospitais, seguindo o método brutal utilizado por “Israel” em sua guerra genocida. Policiais da AP cercaram o Hospital Governamental de Jenin, usando partes de suas instalações como base, e realizaram buscas em ambulâncias.
Segundo a UNRWA, pelo menos oito pessoas foram sequestradas, incluindo uma que foi retirada de uma maca. O cerco também incluiu a retirada do corpo de Yazid Ja’ayseh, comandante das Brigadas Al-Quds, impedindo que os moradores realizassem um funeral digno. Essas ações geraram uma greve geral em Jenin, com o fechamento de comércios, escolas e serviços essenciais.
As ações violentas da AP também resultaram na morte de Rabhi Shalabi, um jovem de 19 anos, assassinado enquanto pilotava uma motocicleta. A AP inicialmente negou envolvimento, mas depois admitiu o ocorrido.
Um primo da vítima, de 15 anos, foi gravemente ferido na mesma abordagem, que, segundo a UNRWA, foi registrada em vídeos feitos por populares, mostrando que ambos estavam desarmados e entregando alimentos. Shalabi chegou a levantar as mãos antes de ser morto, em um episódio que gerou revolta na população.
A repressão promovida pela AP contra as organizações da Resistência marca um ponto de inflexão na conjuntura política da Palestina. Liderada por Mahmoud Abbas e amplamente criticada pela colaboração com a ditadura sionista, a AP tenta consolidar seu controle na Cisjordânia, uma região ocupada por “Israel” desde 1967 e entregue de maneira limitada à entidade a partir dos Acordos de Oslo. Desde a formação das Brigadas de Jenin, em 2021, o campo de refugiados tornou-se um importante núcleo de apoio à Resistência, abrigando combatentes das Brigadas Al-Quds, Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa (braço armado do Hamas) e outras organizações dedicadas a combater o enclave imperialista e seus lacaios.
A presença das forças de segurança da AP em Jenin é rara, mas não sem precedentes. Em outubro deste ano, a entidade realizou um ataque similar em Tubas, também visando grupos da Resistência. Ambas as intervenções são vistas como tentativas de demonstrar “apto controle” do território perante os financiadores da organização presidida por Abbas, como os Estados Unidos. Segundo o porta-voz da AP, Anwar Rajab, as operações são justificadas como um esforço para “restaurar a ordem e a segurança civil”. No entanto, essa colocação tem sido rejeitado pela população local, que denuncia a AP por colaborar com as forças de ocupação de “Israel”.
Para o dirigente do Hamas Mahmoud Mardawi, “as ações da AP representam uma tentativa de acabar com a Resistência” e devem ser interrompidas imediatamente. “Este comportamento antipatriótico apenas serve à ocupação”, afirmou.
Alinhamento total com “Israel”
Desde o início desta etapa da campanha genocida de “Israel” contra o povo palestino, em 7 de outubro de 2023, a AP não declarou guerra contra a ocupação sionista. Pelo contrário, suas ações têm se voltado contra a própria Resistência. Em vez de combater os assassinos do povo palestino, a entidade atua como uma extensão do regime sionista, reprimindo abertamente os grupos que se organizam para resistir, uma política que revela sua verdadeira função: sabotar a luta palestina e consolidar a dominação imperialista no país.
A mobilização convocada pelos partidos da Resistência representa uma resposta necessária às operações criminosas da AP. O cerco a Jenin e os assassinatos causados por essa ofensiva mostram que a prioridade da AP é manter-se como uma força repressora, sustentada pela corrupção e às custas do sofrimento de seu próprio povo, em total alinhamento com a ditadura sionista.