O artigo Revolução síria derruba ditadura após 13 anos de luta, publicado no órgão do PSTU Opinião Socialista e escrita por Fábio Bosco, diz que “após a queda de Assad, vários países deram declarações criticando o antigo regime que eles não queriam ver derrotado”, destacando ainda que de “Washington a Moscou, nenhum país imperialista queria a queda de Assad”. Já de cara, portanto, o PSTU mantém a estranha caracterização de que a Rússia – país que se insere na economia mundial vendendo commodities – seria “imperialista. O estado de alienação, porém, atinge um novo patamar com a seguinte declaração:
“Os Estados Unidos e seus aliados da Liga Árabe pressionaram o regime sírio a se distanciar do Irã. Eles consideraram a permanência de Assad uma garantia contra qualquer revolução popular que pudesse desestabilizar os interesses estadunidenses e os regimes na região.
O estado de Israel também preferia a permanência de Assad, um governo fraco que nunca deu um tiro contra Israel e que estava se distanciando do regime iraniano devido à pressão da Liga Árabe. Por isso Israel deslocou tropas para a fronteira com a Síria e, após a queda de Assad, bombardeou depósitos de munições e centros de inteligência sírio para evitar que o novo regime tivesse acesso a esse armamento.”
O artigo do PSTU tenta, de maneira contorcida, apresentar os Estados Unidos e “Israel” como apoiadores de Assad, ignorando fatos concretos que desmentem essa falsificação. Primeiramente, é importante lembrar que a intervenção norte-americana na Síria começou durante o sequestro da Primavera Árabe pelo imperialismo, no início da década passada. Sob o governo Obama, os EUA fomentaram uma campanha internacional de desestabilização contra o governo sírio, utilizando-se de mentiras amplamente difundidas, como a acusação de uso de armas químicas pelo governo de Assad. Essas falsificações foram promovidas por ONGs financiadas pelo imperialismo e, posteriormente, desmentidas por investigações independentes divulgadas pela imprensa russa. Além disso, desde o início da intervenção, os EUA mantêm a Síria em estado permanente de guerra civil, apoiando forças mercenárias para sabotar a estabilidade do país e impor seus interesses estratégicos na região.
Mesmo enquanto intensificava os ataques à Resistência em Gaza e no Líbano, a ditadura sionista de “Israel” nunca cessou os bombardeios na Síria, em clara demonstração de que o governo de Assad não era um aliado conveniente para Telavive, ao contrário do que diz o artigo. O PSTU, ao sugerir que Assad era “fraco” e útil para os interesses sionistas, ignora o óbvio: “Israel” atacava a Síria com frequência justamente porque o governo de Assad era um obstáculo ao domínio sionista no Oriente Médio. A ironia dessa história mal-contada fica ainda mais evidente quando analisamos que, mesmo enquanto Assad enfrentava uma guerra multifacetada, as ações israelenses miravam diretamente as forças sírias e aliados estratégicos, como o Hesbolá. A tese de que “Israel” teria interesse na permanência de Assad, portanto, não passa de uma tentativa canhestra de justificar a adesão dos morenistas à propaganda imperialista.
Além da falta de lógica, a posição do PSTU carece de qualquer prova. Não há documentos, declarações oficiais ou ações que sustentem a tese de que os EUA ou “Israel” apoiavam Assad. Pelo contrário, o histórico de bombardeios e sanções reforça o oposto: tanto Washington quanto Telavive viam no governo sírio um empecilho para seus planos regionais. A insistência em repetir essa tese reflete o estado de alienação do PSTU, que prefere abraçar a história contada pelo imperialismo, convenientes à sua linha política, em vez de se basear nos fatos.
Por fim, o próprio líder mercenário Golani, apoiado pelos morenistas, entrega o jogo em sua declaração: “Estamos abertos à amizade com Israel. Não temos inimigos, exceto o regime de Assad, o Hesbolá e o Irã.” Ele reconhece que a intervenção sionista no Líbano foi “muito útil” para sua causa e promete dar continuidade à destruição dos principais pilares da Resistência na região. Essa fala escancara que a suposta “revolução” celebrada pelo PSTU não passa de um projeto alinhado aos interesses do imperialismo e do sionismo, com o objetivo de destruir qualquer governo ou força política que represente um entrave a esses interesses. Ao contrário do que sugere o PSTU, o fim do governo de Assad não inaugura um período de emancipação popular, mas sim um capítulo trágico de submissão e devastação.
Quando o PSTU exige que o novo governo de transição na Síria anuncie “apoio incondicional à resistência palestina” e tome medidas contra o avanço sionista, parece ignorar completamente a realidade que ajudaram a legitimar. É evidente que esse cenário não está no horizonte do novo regime, que, como já ficou claro, atende diretamente aos interesses imperialistas. O que está em gestação na Síria é um desfecho semelhante ao da Líbia: o caos controlado, que impede qualquer tentativa de resistência organizada e destrói as bases de apoio à luta anti-imperialista. Parabéns, PSTU, por mais uma vez se aliar, direta ou indiretamente, às forças que oprimem os povos.