A queda do presidente sírio Bashar al-Assad, após apenas duas semanas de ofensiva de mercenários financiados e treinados pelo imperialismo e pelo sionismo, surpreendeu todo o mundo. Afinal, como um governo, que vem se mantendo no poder há 24 anos, apoiado pela Rússia e pelo Irã e que sobreviveu a uma guerra civil bastante brutal, caiu em tão pouco tempo?
Fato é que uma série de fatores circunstanciais favoreceram o imperialismo em sua investida contra Assad: a corrupção dos militares, a insatisfação popular causada pelo bloqueio econômico, a guerra contra o Hesbolá, a guerra contra a Rússia, a ação da Turquia etc. Ainda assim, fica a questão: por mais que o imperialismo se visse em condições favoráveis, como a Rússia e o Irã, que estão sustentando enfrentamentos militares tão grandes com o imperialismo, não foram capazes de atuar contra o golpe de Estado?
Quanto à ofensiva dos mercenários, os iranianos foram capazes de alertar Assad. O que eles não viram, no entanto, foi a debilidade interior do regime. O mesmo vale para os russos.
Embora muito se especule sobre uma traição dos russos e iranianos, ou mesmo de um acordo em torno da Ucrânia, não há motivo para crer nisso. Afinal, tanto Rússia e Irã saíram derrotados com a queda de Assad. É uma derrota para o conjunto do bloco anti-imperialista. A única explicação plausível é a de que, na realidade, Irã e Rússia não integravam o aparato militar sírio.
A aliança dos russos e dos iranianos com Assad não era tão estreita a ponto de eles terem uma caracterização precisa, uma avaliação objetiva do que estava acontecendo dentro do regime. Assim, não foram capazes de detectar o estágio de corrupção e deterioração das forças armadas.
O exército não lutou, e não porque a população estivesse contra o regime. O exército não lutou porque uma parte significativa dos comandantes militares não queria lutar. E, se os russos e os iranianos não sabiam disso, é porque eles não tinham participação nas forças armadas. Não havia assessores militares russos ou iranianos atuando junto com o exército sírio.
O regime de Assad rejeitou qualquer tipo de associação militar com os russos que possibilitasse uma influência do governo Putin sobre o regime. Assad queria manter uma independência. Um grande erro, uma vez que o país estava sob pressão do imperialismo. O regime, afinal, deveria ter se alinhado com mais clareza com o Irã e com a Rússia.
Ao que tudo indica, isso não aconteceu, mesmo depois da ação pregressa dos mercenários. Provavelmente, foram mantidas nos postos de comando pessoas que estavam influenciadas por países árabes, como a Arábia Saudita, pelo sionismo e pelo imperialismo.