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Internacional

O papel de Erdogan na derrota da Resistência na Síria

'Agora há uma nova realidade na Síria, política e diplomaticamente', disse o mandatário turco ao comentar o golpe que apoiou na Síria

Neste sábado (7), o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que “agora há uma nova realidade na Síria, política e diplomaticamente”. A declaração foi feita enquanto os mercenários do imperialismo abriam caminho para Damasco, a capital síria.

Erdogan há muito desempenha um jogo duplo com o imperialismo e os países vizinhos. Por um lado, tenta manter certa independência do imperialismo, evitando o desgaste político em seu governo devido à atuação imperialista na região. Por outro lado, mantém relações comerciais crescentes com “Israel” e compartilha um interesse militar comum na eliminação da resistência curda.

Embora Ancara também demonstre proximidade com o Crêmlin, com intensas relações comerciais, esses interesses são contraditórios devido à disputa pelo controle das rotas da cadeia de fornecimento de petróleo.

Além de ser a rota de ligação terrestre entre o Ocidente e o Oriente, a Turquia é um ponto estratégico para avanços contra a Rússia. Tanto que Moscou utilizou Ancara para substituir as importações oficiais dos países imperialistas.

Embora o pesquisador do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais (IMEMO), Viktor Nadein-Rayevsky, afirme que “a conversa entre eles não está ao mesmo nível que entre a Turquia e a OTAN ou a Turquia e outros países ocidentais — não é uma conversa com um Estado vassalo, mas um diálogo entre duas potências iguais”, resta saber até quando o imperialismo permitirá a continuidade desse jogo duplo.

Na sexta-feira (6), Erdogan já havia expressado o desejo de que a “marcha da oposição” síria “continue sem acidentes”. Ele já considerava o presidente sírio Bashar al-Assad inacessível, afirmando: “Entramos em contato com Assad, dizendo: ‘Venha, vamos moldar juntos o futuro da Síria’. Infelizmente, não recebemos uma resposta positiva”.

Nesse sábado, a situação avançou com Erdogan discursando na cidade de Gaziantep, no sul da Turquia: “Agora há uma nova realidade na Síria, política e diplomaticamente. E a Síria pertence aos sírios com todos os seus elementos étnicos, sectários e religiosos”.

Ironicamente, Erdogan — que há anos apoia e participa de investidas na Síria pela oposição — afirmou, ao impor sua vontade, que “o povo da Síria é quem decidirá o futuro de seu próprio país”.

A Turquia foi um dos principais financiadores do Exército Nacional Sírio (SNA), um grupo que aglutinou dezenas de grupos com diversas ideologias, tendo em comum a oposição ao regime de Bashar al-Assad.

A coalizão que derrubou o regime sírio neste domingo (8) foi composta por diversas forças, incluindo a vizinha Turquia, potências regionais como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, e a ação direta imperialista dos Estados Unidos, além da ação indireta de mercenários ligados à Al Qaeda.

Em contrapartida, os aliados da Síria eram o Irã, com sua Guarda Revolucionária, o Hesbolá libanês e a Rússia, que reforçou consideravelmente a Força Aérea Síria.

Um dos maiores desses braços mercenários é o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), também conhecido como Organização para a Libertação do Levante, liderado por Abu Mohammed al-Jolani.

O líder da Coligação Nacional Síria (SNCF), Hadi al-Bahra, afirmou: “Dentro de dois ou três dias, a cidade estará segura, se Deus quiser. O atual governo vai ficar e continuar seu trabalho até que haja uma transição adequada. Todos os funcionários do Estado permanecerão nos seus postos, continuarão com as suas funções”.

Outra força dessa coligação é a Frente de Libertação Nacional, composta por grupos como Ahrar al-Sham, com o objetivo de “derrubar o regime (de Assad)” e “estabelecer um Estado islâmico governado pela lei Sharia”.

Essa é a realidade que o imperialismo e Erdogan tentam impor ao povo sírio. “Como Turquia, nosso desejo é que nossa vizinha Síria recupere rapidamente a paz, a estabilidade e a tranquilidade que vem desejando há 13 anos”. Em outras palavras, a imposição de um regime de submissão aos interesses externos.

Os EUA, sob a desculpa de coibir o avanço do Estado Islâmico (ISIS, em inglês), que eles mesmos financiam, bombardearam o território sírio neste domingo (8). Segundo fontes do governo, 75 alvos foram atingidos na Síria nesta iniciativa, sendo disparadas 140 munições de aviões de guerra B-52, F-15 e A-10.

Nas palavras de Biden: “Hoje mesmo, as forças dos EUA conduziram dezenas de ataques de precisão, ataques aéreos dentro da Síria, visando campos do ISIS e membros honorários do ISIS”. “Estamos cientes do fato de que o ISIS tentará tirar vantagem do vácuo”, acrescentou. “Não vamos deixar isso acontecer.”

Segundo a revista de economia norte-americana Dow Jones Newswires, os EUA mantêm 900 soldados no sudeste da Síria. “Há uma série de esforços em curso”, explicitando a natureza do golpe em andamento na Síria.

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