Em 3 de julho de 2023, “Israel” acabava de encerrar uma invasão do território palestino da Cisjordânia, assassinando 8 pessoas e ferindo mais de 50. No total, a invasão deixou 153 assassinados pela ditadura sionista, o que fez a rede de imprensa simpatizante do povo árabe declarar o ano como “o mais mortal para os palestinos na Cisjordânia desde 2005”, conforme consideração apresentada pela ONG Medical Aid for Palestinians (MAP) e o think tank palestino Al Shabaka. Este último, analisando a escalada da violência em Jenin e Nablus, destacou algo por vezes esquecido, mas fundamental para o terror sionista contra os palestinos: o papel de cães de guarda de “Israel” desempenhado pela Autoridade Palestina (AP).
“Embora a Autoridade Palestina (AP) tenha estado ausente durante as invasões do exército israelense, ela rapidamente procurou restabelecer a aparência de controle após a conclusão das invasões”, escreveu Alaa Tartir no artigo The PA’s Revolving Door: A Key Policy in Security Coordination, publicado no sítio do think tank. Indo além de denunciar a indiferença com o terror israelense contra o próprio povo, o artigo de Tartir demonstra como age a entidade:
“O presidente da AP, Mahmoud Abbas, visitou a cidade pela primeira vez desde 2012, acompanhado por uma série de forças de segurança palestinas. Dias depois, a AP iniciou sua própria campanha de repressão, prendendo membros da Jiade Islâmica e de outros partido em Jenin e em toda a Cisjordânia.”
Conhecida como “porta giratória”, essa política adota padrões conhecidos pelo povo palestino e expõe a colaboração criminosa entre a AP e a ditadura israelense. Por meio dela, ativistas, combatentes da Resistência e meros palestinos opositores – seja de “Israel” ou da AP – são presos por uma das partes e, após sua libertação, frequentemente detidos pela outra – daí a expressão “porta giratória”.
Naturalmente, seria impossível a qualquer uma das forças manter essa tática de repressão aos palestinos sem o compartilhamento de informações, entre a AP e as forças israelenses. O fato de tal coordenação existir demonstra a cooperação direta entre a organização liderada por Abbas e a ditadura sionista, atuando juntas para identificar e reprimir indivíduos pertencentes à Resistência ou, de maneira geral, qualquer palestino.
Embora organizações independentes de direitos humanos tenham documentado amplamente a prática da “porta giratória”, a liderança da AP e seus representantes continuam negando sua existência. Segundo a denúncia de Tartir, qualquer crítica à política é descartada como sendo motivada por interesses políticos ou sectários, mesmo quando há provas de sua implementação. Diz Tartir em seu artigo:
“A coordenação de segurança foi a característica definidora dos Acordos de Oslo e continua a ser uma parte crucial da estabilidade, da paz e da construção do Estado, de acordo com seus defensores. Ela é amplamente percebida por esses atores como uma indicação da capacidade da AP de governar e garantir a preservação do status quo. De fato, a própria AP argumentou que a coordenação de segurança ‘é parte integrante da nossa estratégia de libertação’.”
Trata-se de um cinismo da entidade. A colaboração entre a AP e o regime israelense transcende os aspectos técnicos de segurança, sendo, acima de tudo, uma política que criminaliza a Resistência Palestina, institucionaliza o autoritarismo da ditadura sionista dentro do território palestino, livrando “Israel” do custo político de reprimir o povo árabe. Tudo isso enquanto agrava a insegurança do povo que a AP, em tese, protegeria. Sob o pretexto de “interesses de segurança”, a AP funciona como uma subcontratada da invasão israelense, mascarando sua cumplicidade ao rotular suas ações como iniciativas autônomas.
Em períodos de intensificação da resistência palestina, a porta giratória opera de forma mais evidente. Após grandes operações militares israelenses, é comum que ondas de prisões realizadas pela AP sejam seguidas por novas campanhas repressivas do regime israelense. Entre 2022 e 7 de outubro de 2023, as incursões da AP em Jenin e Nablus aumentaram significativamente, demonstrando novamente que a AP serve como extensão do Estado de “Israel”.
A política de Mahmoud Abbas e da AP não é apenas monstruosa, mas politicamente digna de um cachorro. Sob a repressão da AP, a libertação palestina foi substituída por uma submissão completa à ocupação.
Em sua análise, Tartir apresenta recomendações à Resistência Palestina diante da conivência criminosa da Autoridade Palestina com a ocupação israelense. Para o autor, o fim da política de coordenação de segurança com “Israel”, incluindo o abandono da “porta giratória”, é uma reivindicação urgente, não apenas como resposta à opinião popular palestina, mas como um passo indispensável para a reconciliação nacional.