A China anunciou a eliminação de tarifas para produtos provenientes de países atrasados, desde que mantidas dentro de cotas estabelecidas. A medida, apresentada pela Comissão de Tarifas Aduaneiras do Conselho de Estado, abrange nações classificadas como “menos desenvolvidas” pela ONU, ou seja, aquelas com renda per capita bruta inferior a US$1.018. Na prática, isso impacta diretamente 33 países africanos, mas se estende a todos os parceiros diplomáticos dessa categoria.
Essa decisão reforça o papel da China como um importante parceiro comercial para países oprimidos pelo imperialismo, ao mesmo tempo em que contrasta com as políticas protecionistas e tarifárias adotadas pelos Estados Unidos. De acordo com o governo chinês, a iniciativa visa “expandir a abertura unilateral aos países menos desenvolvidos e alcançar um desenvolvimento comum”.
A nova política tarifária se soma a um histórico de apoio econômico e estrutural significativo. Durante o Fórum de Cooperação China-África, realizado em setembro, o presidente Xi Jinping prometeu um financiamento de US$51 bilhões para o continente africano. Além disso, a China planeja triplicar o número de projetos de infraestrutura na África nos próximos anos, uma medida que solidifica sua posição como o maior investidor estrangeiro no continente.
O histórico de investimentos chineses na África reflete a profundidade dessa relação. Em 2003, os investimentos diretos chineses na região totalizavam modestos US$74,8 milhões. Em 2020, esse número saltou para US$4,23 bilhões. A presença chinesa é visível em megaprojetos, como ferrovias, portos e redes de telecomunicações, muitos dos quais financiados ou realizados por empresas estatais chinesas.
Além do financiamento direto, a decisão de zerar tarifas representa uma oportunidade única para os países pobres expandirem suas exportações para o vasto mercado chinês. A medida, entretanto, está sujeita a cotas definidas pelo governo da China. Produtos que excederem esses limites continuarão sujeitos às tarifas vigentes, destacando o caráter regulado, mas ainda assim generoso, da política.
O anúncio das tarifas zero ocorre em uma conjuntura de intensificação das tensões entre China e o imperialismo. A guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo se tornou mais acirrada nos últimos meses, com o presidente eleitor Donald Trump ameaçando impor tarifas de até 100% sobre produtos provenientes de países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Essa ameaça veio após discussões dentro do BRICS sobre uma possível moeda comum, o que foi interpretado como um desafio ao dólar americano.
“Não permitiremos que o dólar perca seu status de moeda de reserva mundial”, declarou Trump em outubro. Ele reforçou que qualquer tentativa de desdolarização será combatida com medidas econômicas drásticas.
Enquanto isso, a China adota uma política oposta, investindo em alianças estratégicas com países atrasados. Desde 1º de dezembro, o governo chinês implementou sua nova política comercial de tarifas zero, um movimento que não apenas beneficia essas nações, mas também amplia a influência chinesa em regiões onde a presença americana é limitada.
O impacto dessa decisão ultrapassa o campo econômico, sendo uma jogada política importante para posicionar a China como um aliado confiável para nações que enfrentam entraves ao seu desenvolvimento impostos pela ditadura mundial.
A guerra comercial não se limita às tarifas. A tecnologia emergiu como outro campo de batalha crucial. Os Estados Unidos, por meio do Departamento de Comércio, impuseram recentemente restrições ao acesso da China a tecnologias avançadas, incluindo semicondutores e materiais estratégicos como gálio e germânio. Esses elementos são essenciais tanto para aplicações civis quanto militares.
Em resposta, a China restringiu a exportação desses mesmos materiais, sinalizando sua disposição de usar recursos estratégicos como instrumento de pressão. Essas medidas mostram que a disputa entre os dois países vai além das cifras comerciais: ela envolve o controle de tecnologias fundamentais para a segurança nacional e a inovação futura.