Abu Muhammad al-Jawlani – nascido Muhammad Hussein al-Sharaa – é o líder do Hayat Tahrir al-Sham (HTS), um grupo mercenário anteriormente vinculado à Al-Qaeda e responsável pela captura da cidade síria de Alepo. Desempenhando um papel de destaque na manutenção da guerra civil síria, Jawlani inicialmente foi um opositor do imperialismo, convertido, porém, em um serviçal dos Estados Unidos, da Turquia e até mesmo de “Israel”. Sua trajetória começa na resistência à invasão norte-americana e britânica ao Iraque, em 2003.
Após deixar Damasco e seguir para Bagdá, ele se juntou a outros voluntários na luta contra a ocupação norte-americana. Sua captura resultou em cinco anos de detenção no Campo de Boca, uma prisão administrada pelos EUA, onde teve contato com lideranças de movimentos jihadistas, incluindo Abu Bakr al-Baghdadi, o futuro líder do Estado Islâmico (EI). Ao ser libertado, Jawlani retornou à Síria em 2011 como emissário de Baghdadi, com o objetivo de impulsionar uma organização dedicada a derrubar o regime nacionalista sírio.
Sob a liderança de Jawlani, a Jabhat al-Nusra – precursora do HTS – foi responsável por uma onda de ataques coordenados em cidades como Damasco, Alepo e Homs. Em 2013, contudo, uma ruptura com Baghdadi levou à separação entre a al-Nusra e o Estado Islâmico.
A cisão marcou o início de uma nova etapa para Jawlani, que, em 2016, anunciou oficialmente o rompimento com a Al-Qaeda, renomeando seu grupo como Fatah al-Sham. Idlib, na Síria, tornou-se a base de operações de Jawlani. A localização estratégica, com fronteiras abertas para a Turquia, facilitou o trânsito de combatentes e suprimentos, além de proporcionar um canal direto de comunicação com aliados como o Catar.
O apoio financeiro e logístico proveniente de Doha foi determinante para o HTS, que se transformou em uma força militar bem organizada. Sob a proteção de forças turcas, Jawlani conseguiu impedir o governo de Assad de retomar partes significativas do território sírio perdidas para o imperialismo.
Adotando um duplo padrão, os EUA ofereceram uma recompensa de US$10 milhões pela captura de Jawlani, ao mesmo tempo em que as ações militares norte-americanas têm sistematicamente evitado atacá-lo ou a outros líderes do HTS. O fenômeno é, acima de tudo, um jogo de cena, dedicado a esconder o uso de Jawlani pelo imperialismo.
Segundo fontes citadas por órgãos de comunicação como o jornal libanês Al Akhbar, que tratou do tema na matéria أبو محمد الجولاني… هدية قطر لـ«الخلافة العثمانية» (Abu Muhammad al-Julani… presente do Catar para o ‘califado otomano’) Jawlani teria colaborado com os EUA ao fornecer informações sobre jihadistas rivais, facilitando sua eliminação. Essa colaboração discreta seria uma explicação plausível para a ausência de ataques diretos contra ele, apesar de sua designação oficial como terrorista.
As declarações públicas de Jawlani nos últimos anos expressam outra mudança em sua política. Ele proclamou que o HTS abandonou os objetivos do movimento jihadista em toda a região do Levante e que sua luta agora é exclusivamente focada na Síria.
A aliança velada entre Jawlani, os EUA, a Turquia e “Israel” é outro aspecto de sua trajetória que merece maior atenção. Desde a sua ascensão, ele tem sido um importante organizador da campanha imperialista contra o governo nacionalista de Assad e contra a influência iraniana na Síria.
A colaboração com a Turquia é também outra evidência de seu alinhamento com a política da ditadura mundial, com o HTS funcionando como uma força a serviço dos interesses das nações desenvolvidas. Relatos indicam que o grupo recebeu assistência militar, incluindo equipamentos fornecidos pela Ucrânia, com apoio indireto de países europeus como a França.
Essas alianças não apenas fortaleceram a posição de Jawlani, mas também contribuíram para manter a Síria sob estado permanente de guerra civil. O uso feito pelos EUA e “Israel” de pessoas como Jawlani mostra que, no mundo real, não existe nada minimamente parecido com “repúdio ao terror” por parte das potências capitalistas. Apenas os interesses.
Ao mesmo tempo em que rotulam os partidos da Resistência na Palestina e no Líbano como “terroristas”, criam os seus “Jawlanis” para impulsionar o verdadeiro terror, cometido pelos agentes do imperialismo na guerra contra os povos oprimidos. Isso é o que faz os chamados “grupos rebeldes” atuantes na Síria, que nada mais são do que mercenários a soldo dos EUA, dedicados a submeter o país árabe aos interesses criminosos das potências mundiais.