Nesse dia 2 de dezembro, completaram-se 135 anos do nascimento de Anita Malfatti, a pintora que abriu o caminho para a geração modernista de 1922.
Cada artista da primeira geração modernista tem sua importância. Coube a Anita Malfatti o papel de desbravadora. Foi ela que, chegando de uma temporada de estudos na Europa e depois nos Estados Unidos, tendo contato com as técnicas de vanguarda, trouxe ao Brasil uma pintura inovadora.
Foi essa inovação, sua pintura com forte influências expressionistas e de outros movimentos de vanguarda, alvo dos ataques virulentos da burguesia brasileira.
Tal foi o desbravamento de Malfatti que até mesmo um homem culto como Monteiro Lobato não compreendeu, naquele momento, que Brasil presenciava o início de uma revolução nas artes plásticas. Lobato, então colunista de O Estado de S. Paulo, atacou virulentamente a exposição de Malfatti de 1917 e acabou servindo como porta-voz da reacionária aristocracia paulista e nacional.
Justiça devemos fazer a Lobato, grande escritor, ele mesmo moderno. A primeira é a de que posteriormente ele abandona as considerações apresentadas no artigo; a segunda é que Lobato acabou servindo aos interesses da oligarquia que via com maus olhos a introdução de uma arte revolucionária no País, juntamente por ser um artista respeitado pelos jovens, ele mesmo um escritor moderno e nacionalista, Lobato acabou sendo usado pela direita para atacar Malfatti.
Mas o mais importante de tudo é que as críticas de Lobato acabaram cumprindo um papel fundamental na consolidação e fortalecimento do grupo que viria a ser o núcleo central do movimento modernista brasileiro.
Em defesa de Anita, juntaram-se Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Di Cavalcanti e outros. Mário afirmaria, mais tarde: “devo a revelação do novo e da convicção da revolta a ela e à força dos seus quadros”, e ainda: “foi ela, foram os seus quadros, que nos deram uma primeira consciência da revolta e de coletividade em luta pela modernização das artes brasileiras.”
O comportamento de O Estado de S. Paulo e da oligarquia paulista desmente, inclusive, a calúnia atual de que o modernismo brasileiro seria um movimento da “elite paulista”. A verdade é que, embora esses artistas fossem parte da elite econômica do país, como movimento artístico, eles estavam totalmente na contramão da aristocracia econômica e intelectual de São Paulo e do Brasil.
Anita Malfatti, além de uma das grandes pintoras da história do Brasil, foi fundamental para abrir o caminho da renovação das artes no País. Apenas isso já seria uma contribuição inestimável da artista.
Tão importante a ponto de os modernistas a chamarem de mártir do movimento. Por ter sido uma desbravadora da arte moderna no Brasil, ela foi a que sofreu os mais duros ataques pessoais. Essas ataques acabaram por intimidar Malfatti, o que só não foi pior porque a constituição do grupo modernista tirou a pintora do isolamento. Anita fez parte, inclusive, do chamado “Grupo dos Cinco”, composto por ela, Tarsila do Amaral, Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade e Mário de Andrade, núcleo duro do movimento, que levou adiante as ideias do modernismo a partir da Semana de 22.
O poeta Menotti Del Pichia diz que Anita Malfatti passou para o “martirológio artístico” do modernismo, e resume bem o problema: ela foi “chefe da vanguarda na arrancada inicial do movimento modernista da pintura de São Paulo. Sua arte mereceu a honra consagradora do martírio: foi recebida a pedradas”.
A recepção “a pedradas” é a grande honra dos revolucionários, na política e também nas artes. É a prova de que Anita Malfatti, pioneira do movimento modernista brasileiro, foi uma artista revolucionária.