As manifestações violentas que abalam a Geórgia nos últimos dias, centradas na capital Tbilisi, despertaram sérias acusações de ingerência externa, com a Rússia classificando os eventos como uma tentativa de “Revolução Laranja”. O porta-voz do Crêmlin (sede do governo russo) Dmitry Peskov, comparou a crise ao golpe de 2014 na Ucrânia, promovido e financiado por potências imperialistas, especialmente pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE).
As tensões começaram quando o primeiro-ministro georgiano, Irakli Kobakhidze, anunciou a suspensão das negociações para adesão à UE até 2028. O líder justificou a decisão como uma resposta às “constantes chantagens e manipulações” de Bruxelas sobre a política interna da Geórgia. Em reação, manifestantes saíram às ruas em atos descritos como “pró-UE”, mas que rapidamente descambaram para a violência. Desde então, mais de 250 pessoas foram presas em confrontos que incluíram o lançamento de coquetéis molotov e fogos de artifício contra a polícia, além de repressão com gás lacrimogêneo e canhões de água.
Peskov afirmou que há “uma tentativa óbvia de desestabilizar a situação” no país e destacou que os eventos carregam todas as marcas de uma Revolução Colorida: “O paralelo mais direto que pode ser traçado são os eventos do Maidan, na Ucrânia.” Ele ainda lembrou que tais movimentos foram instrumentalizados em vários países nos últimos anos, sempre com apoio de monopólios internacionais e potências imperialistas.
O primeiro-ministro Kobakhidze foi incisivo em suas declarações, chamando as manifestações de “ataque à ordem constitucional” e acusando diretamente políticos da UE e seus “agentes” de fomentarem a instabilidade. Ele garantiu, no entanto, que a Geórgia é “um Estado independente, com instituições fortes e um povo experiente e sábio”, rejeitando categoricamente a possibilidade de que o país se torne um novo cenário para ações imperialistas semelhantes às vistas na Ucrânia.
A situação georgiana tornou-se ainda mais delicada após a UE ameaçar impor sanções econômicas ao país. Chefe de política externa do bloco, Kaja Kallas declarou que o uso de força contra os manifestantes é “inaceitável” e insistiu que o governo georgiano deve “respeitar a vontade do povo”. Kallas, conhecida por seu posicionamento extremado contra a Rússia, afirmou que as sanções são apenas uma entre várias opções em discussão por Bruxelas.
O governo Kobakhidze, por sua vez, acusa a UE de usar a adesão ao bloco como moeda de troca para desestabilizar o país e forçá-lo a adotar medidas que favorecem interesses externos. Entre essas medidas estaria a rejeição de uma lei exigindo que ONGs com mais de 20% de financiamento externo se registrem como “agentes estrangeiros”. Segundo Kobakhidze, a pressão contra essa lei incluiu até mesmo ameaças de assassinato por parte de representantes da Comissão Europeia.
As manifestações na Geórgia são mais um exemplo da estratégia de ingerência imperialista. Esse modelo, que já foi aplicado em países como Líbia, Síria e, mais recentemente, Ucrânia, consiste em explorar tensões internas e financiar movimentos “espontâneos” para derrubar governos não alinhados. Estrategicamente localizado no Cáucaso e contando com 723 quilômetros de fronteira com a Rússia, a Geórgia é alvo constante de disputas por parte dos monopólios internacionais, interessados em garantir controle sobre rotas comerciais, recursos energéticos na região e também de uma base para atacar o gigante eslavo, um dos principais centros de oposição à ditadura imperialista no mundo.
Além disso, o papel desempenhado por ONGs financiadas pelo exterior tem sido central nesse processo. O próprio Kobakhidze alertou para a influência de organizações estrangeiras que atuam sob o pretexto de “promover a democracia”, mas que, na prática, buscam minar a soberania georgiana.
Curiosamente, enquanto a UE condena o governo da Geórgia por sua reação às manifestações, mantém um silêncio ensurdecedor sobre a repressão brutal às manifestações pró-Palestina que ocorrem em seu próprio território. Em países como França, Alemanha e Reino Unido, manifestantes que expressam solidariedade ao povo palestino têm sido alvo de prisões arbitrárias, proibições de protestos e até mesmo ações policiais violentas.
Essa hipocrisia evidencia o caráter político da pressão exercida contra a Geórgia. A UE não está interessada em direitos ou liberdades, mas em alinhar o país às suas estratégias de controle geopolítico, o que inclui transformar a Geórgia em um estado vassalo de seus monopólios.
A decisão de suspender as negociações de adesão à UE não é apenas um gesto de soberania, mas também uma rejeição à pressão imperialista. Kobakhidze reconheceu que, embora a adesão ao bloco traga vantagens econômicas, ela exige um alto preço político: a perda de independência em questões-chave, como leis internas e política externa.
Com o apoio ostensivo da UE aos manifestantes, a Geórgia se torna mais um campo de batalha na luta entre Estados que buscam preservar sua soberania e os monopólios internacionais que desejam consolidar sua ditadura mundial. A lembrança do que aconteceu na Ucrânia em 2014 serve como um alerta. Lá, o golpe imperialista resultou na ascensão de um regime alinhado aos interesses estrangeiros, no enfraquecimento do país e no avanço de políticas ultranacionalistas.
Na Geórgia, a resistência popular e a firmeza do governo de Kobakhidze determinarão se o país conseguirá evitar um destino semelhante. A posição clara do Crêmlin em não interferir diretamente, enquanto alerta para os riscos de uma Revolução Colorida, reflete o entendimento de que a soberania georgiana deve ser preservada pelos próprios georgianos.
No entanto, é inegável que as forças imperialistas continuarão pressionando, seja por meio de sanções econômicas, seja fomentando divisões internas. O desfecho dessa crise terá implicações não apenas para a Geórgia, mas para toda a região do Cáucaso, que há tempos é alvo de disputas entre aqueles que defendem a autodeterminação dos povos e os monopólios internacionais que buscam subjugá-los.