A escalada de violência na Síria, palco principal do cenário internacional na última semana, escancara mais uma vez o papel do imperialismo em promover conflitos e desordem para consolidar seus interesses estratégicos na região. Desde o início da ofensiva à Síria, que perdura por décadas, a estratégia imperialista tem sido clara: desestabilizar o governo de Bashar Al-Assad, aliado do Irã e do Hesbolá, e assumir o controle de pontos estratégicos no Oriente Médio. A última ofensiva em Alepo, liderada por grupos armados apoiados por potências estrangeiras, reforça essa análise.
Conforme relatado por diversas fontes, milícias do imperialismo lançaram uma ofensiva coordenada contra Alepo, conquistando localidades estratégicas nas províncias de Idlib e Hama. Liderados pela Hay’at Tahrir al-Sham (HTS) e apoiados por outros grupos financiados pela Turquia e pela OTAN, os insurgentes avançaram rapidamente, ocupando vilarejos e cortando rotas de abastecimento cruciais para o norte da Síria.
Desde quarta-feira (27), os combates resultaram em mais de 300 mortos, entre civis e combatentes. A cidade de Alepo, uma das mais importantes da Síria, foi bombardeada pela primeira vez desde 2016, quando forças russas e sírias expulsaram insurgentes. Desta vez, a ofensiva visa não apenas retomar o controle territorial, mas também enfraquecer o governo de Assad ao atingir um dos principais pontos de entrada para suprimentos destinados ao Hesbolá no Líbano.
O exército sírio, com apoio da Rússia, respondeu com bombardeios aéreos intensos, visando impedir que as milícias pró-imperialistas estabeleçam posições fixas. Segundo relatórios do governo sírio, áreas estratégicas como Qalaat Al Madiq e Maardes foram retomadas, enquanto dezenas de mercenários foram eliminados ou fugiram. A força aérea continua suas operações contra redutos da Jabhat al-Nusra e outros grupos na região.
A Rússia, por sua vez, mantém conversações diplomáticas com a Turquia buscando formas de estabilizar a situação, segundo fontes do próprio governo russo. Essa coordenação é fundamental, considerando que ambos os países apoiam lados opostos no conflito, mas têm interesse em evitar uma escalada que comprometa seus objetivos regionais. Vale lembrar que a Turquia, apesar de ter boas relações com a Rússia, é um país membro da OTAN, devendo ser compreendida com base em seus interesses e não como aliado ou inimigo na luta anti-imperialista.
Os ataques em Alepo expõem a natureza do conflito como uma guerra por procuração do imperialismo. Apesar de algumas análises caracterizarem os insurgentes como “terroristas”, é mais preciso descrevê-los como mercenários a serviço do imperialismo. Este prefere financiar grupos armados locais em vez de comprometer diretamente seus exércitos, reduzindo custos políticos e financeiros enquanto busca atingir seus objetivos estratégicos.
O controle de Alepo e de rotas de abastecimento no norte da Síria é central para o plano de desestabilizar o Hesbolá e enfraquecer a aliança entre Síria, Irã e Líbano. Trata-se de uma manobra para cortar o fluxo de suprimentos e aumentar a pressão sobre o governo sírio, forçando-o a lidar com múltiplas frentes de batalha. Em última instância, é uma guerra para minar a resistência e o enfrentamento ao sionismo.
No contexto brasileiro e internacional, setores da esquerda têm adotado uma postura pró-imperialista ao defender a derrubada de Bashar Al-Assad. Essa posição ignora o fato de que sua substituição resultaria inevitavelmente em um governo títere do imperialismo, aprofundando a pilhagem de recursos naturais, como o petróleo sírio, já explorado ilegalmente por bases norte-americanas ocupadas de forma criminosa na região.
O caso da Síria serve como alerta sobre as consequências de alinhar-se a narrativas que favorecem potências imperialistas. O conflito em Alepo demonstra a importância de uma análise crítica e independente, que reconheça o papel das potências estrangeiras em alimentar a guerra e explore as reais motivações por trás de suas ações.
A guerra na Síria é mais do que um conflito interno: é uma arena de disputa entre forças do imperialismo e movimentos de resistência. A recente ofensiva em Alepo não é apenas uma batalha por território, mas parte de uma estratégia maior para desestabilizar governos e movimentos contrários à presença e ao domínio do imperialismo no Oriente Médio. Frente a essa realidade, é essencial que a análise sobre o conflito vá além das simplificações midiáticas e denuncie os interesses imperialistas que sustentam essa guerra prolongada contra a população árabe, persa e da região.