Yamandú Orsi, candidato da Frente Ampla, foi eleito presidente do Uruguai no segundo turno das eleições realizadas em 24 de novembro de 2024. Sua vitória marca o retorno da coalizão após cinco anos de governo do conservador Luis Lacalle Pou.
Nascido em 13 de junho de 1967, em uma família trabalhadora na zona rural de Canelones, Orsi formou-se professor de História em 1991 pelo Instituto de Professores Artigas. Antes de ingressar na política, lecionou em diversas escolas secundárias nos departamentos de Canelones, Florida e Maldonado. Sua militância política iniciou-se na adolescência, durante a ditadura uruguaia (1973-1985). Inicialmente membro da Vertiente Artiguista, em 1990 Orsi filiou-se ao Movimento de Participação Popular (MPP), liderado pelo ex-presidente José “Pepe” Mujica.
Em 2005, Orsi assumiu o cargo de secretário-geral da Intendência de Canelones, durante os dois mandatos do intendente Marcos Carámbula. Em 2015, candidatou-se à Intendência de Canelones, sendo eleito com 37% dos votos. Foi reeleito em 2020, consolidando sua liderança política no departamento.
A campanha de Orsi foi marcada pelo apoio significativo de José Mujica. Mujica, mesmo com a saúde debilitada, participou ativamente da campanha. Orsi expressou a intenção de manter um estilo de vida simples, semelhante ao de Mujica, afirmando que não residirá na residência oficial da presidência.
O presidente em exercício, Luis Lacalle Pou, reconheceu rapidamente a vitória de Orsi, parabenizando-o e colocando-se à disposição para iniciar o processo de transição. Em sua conta no X (antigo Twitter), Lacalle Pou afirmou: “Liguei para Yamandú Orsi para parabenizá-lo como presidente eleito de nosso país e para me colocar sob seu comando e iniciar a transição assim que ele entender que é pertinente”. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, também felicitou Orsi pela vitória, destacando que se trata de uma “vitória de toda a América Latina e do Caribe”.
A eleição de Yamandú Orsi pode causar um estranhamento diante do atual cenário político da América Latina, onde a tendência recente tem sido a de ascensão de governos de direita. Exemplos disso incluem a vitória de Javier Milei na Argentina em 2023 e de Daniel Noboa no Equador em 2023, bem como as ameaças de golpe em vários países.
Uma das explicações para o sucesso de Orsi reside em seu caráter bastante moderado. A eleição de 2024 ocorreu de maneira relativamente tranquila, contrastando com o ambiente tenso de 2019. Naquele período, a possibilidade de uma vitória da esquerda gerou especulações sobre intervenções militares para impedir tal resultado. Poucos dias antes da votação do segundo turno em 2019, o ex-comandante em chefe do Exército uruguaio, general Guido Manini Ríos, que também era líder do partido conservador Cabildo Abierto, gravou um vídeo convocando os militares a não votarem na esquerda, sussurrando uma ameaça velada de intervenção, algo sem precedentes no país.
A tranquilidade de 2024 e o rápido reconhecimento do resultado apontam para um acordo entre a Frente Ampla e o imperialismo. Vale também lembrar que, ao ser questionado sobre o regime de Nicolás Maduro na Venezuela, Orsi afirmou que “aquilo não é uma democracia, é um regime autoritário”.
