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Meio ambiente

Para Boff, quem deve morrer é o homem, e não o capitalismo

Leonardo Boff mostra que o ecologismo, com premissas e conclusões reacionárias, conduz a um beco sem saída

O teólogo Leonardo Boff expressa com bastante clareza o beco sem saída no qual se encontram aqueles que aderiram de vez à moda do “ecologismo”. 

Em coluna publicada no portal Brasil de Fato, intitulada Por que chegamos à perigosa situação atual?, ele procura apontar as raízes da “grande crise de civilização” na qual o mundo mergulhou, uma “crise global [que] encerra uma infinidade de outras crises, no econômico, no político, no ideológico, no educacional, no religioso e até no espiritual”.

Para exemplificar o cenário de crise global, Boff menciona o “genocídio que ocorre a céu aberto na Faixa de Gaza, perpetrado por um primeiro ministro israelense cuel e sem piedade, Benjamin Netanhyau, apoiado por um presidente católico norte-americano e pela Comunidade Europeia”. Menciona também “o fato de 1% possuir a riqueza de mais da metade da humanidade”. E, por fim, indica “a emergência ecológica com a insustentabilidade do planeta Terra, velho e com recursos limitados que, em si, não suporta um projeto de crescimento ilimitado, obsessão das políticas sociais dos países”. Para Boff, a crise ecológica, resumida no “aquecimento global crescente”, colocaria em risco a própria “continuidade da aventura humana neste planeta”.

A “hipótese” de Boff para a crise

O teólogo lança a sua explicação ― sua “hipótese” ― para a crise. Nas suas palavras: 

“Estimo que nossa situação remonta lá atrás, há mais de dois milhões de anos, quando surgiu o homo habilis, o ser humano que inventou instrumentos de intervenção nos ciclos da natureza. Até aí, sua relação era de interação, sintonizando-se com os ritmos naturais e tomando o que sua mão alcançava. Agora, com o homo habilis ou faber começa a intervenção na natureza: a caça de animais e a derrubada sistemática de árvores.”

“Depois de milhares de anos, levou avante a intervenção até chegar há 10-12 mil anos, no neolítico, com a agressão da natureza. Interferiu no curso dos rios, inaugurando a agricultura de irrigação e o manejo de inteiras regiões, o que implicava mudanças nas relações com a natureza e já depredando-a.”

“Por fim, a partir da era do industrialismo e do modo moderno e contemporâneo de produção pela técnica, pela automação e pela inteligência artificial desembocou na destruição da natureza. Projetamos uma nova era geológica, a do antropoceno, do necroceno e do piroceno, pela qual o ser humano comparece como o satã da Terra.”

Segundo sua tese, o grande culpado pela crise global seria o próprio homem e sua atividade sobre a natureza. Boff atribuiu a culpa pela crise à principal atividade humana, a atividade produtiva, base de toda e qualquer sociedade, bem como de sua evolução. 

A visão de Boff é diametralmente oposta à concepção marxista. O teólogo considera que as origens da crise remontam ao surgimento do homo habilis, isto é, do “ser humano que inventou instrumentos de intervenção nos ciclos da natureza”. Marx, por outro lado, ensina, em O Capital,  que “ O uso e a fabricação de meios de trabalho, embora em germe em certas espécies animais, caracterizam o processo especificamente humano de trabalho e Franklin define o homem como”a toolmaking animal”, um animal que faz instrumentos de trabalho.” 

Boff qualifica marcos fundamentais da história da humanidade, como a revolução neolítica, com o desenvolvimento da agricultura e da pecuária, e o desenvolvimento da grande indústria capitalista, como pontos decisivos da caminhada rumo à destruição da natureza. O domínio das leis da natureza, o desenvolvimento da técnica, os avanços da ciência ―  tudo isso constituiria elementos negativos que contribuíram, afinal, para a crise civilizacional atual. 

A partir das premissas de Boff só é possível tirar a conclusão de que o principal inimigo do planeta e da natureza é o próprio homem. Sendo impossível qualquer sociedade humana sem atividade produtiva, ou seja, sem ação sobre a natureza, a conclusão é que, para a sobrevivência do mundo, a extinção do ser humano é uma necessidade. Não é à toa que termina por considerar o ser humano como o “Satã da Terra”.

A concepção de Boff, apesar das aparências, é profundamente reacionária. Sua tese implica a ideia de que não há qualquer solução por dentro da evolução da sociedade humana. Ou, na melhor das hipóteses, que o ser humano deveria regredir a um nível de desenvolvimento absolutamente impossível de alcançar por sua própria ação consciente. Trata-se de um beco sem saída, que omite o real problema.

E o capitalismo?

Boff fala da “vontade de poder”, do “despotismo da razão”, do “poder-dominação”, mas não cita, nem em nota de rodapé, o regime capitalista. A sociedade baseada no domínio da burguesia, na exploração dos trabalhadores pelos capitalistas e, na sua fase atual (o imperialismo), no domínio dos grandes monopólios industriais e financeiros sobre o conjunto dos países do mundo, está completamente ausente de sua análise. 

Como explicar o genocídio palestino na Faixa Gaza promovido por “Israel’, genocídio que Boff menciona, sem fazer referência ao imperialismo? Como explicar a concentração obscena da maioria da riqueza mundial nas mãos de 1% da população sem fazer referência ao modo de produção capitalista? Embora os “ecologistas” lançam teses que ainda estão longe de serem comprovadas, como a do “aquecimento global”, é inegável também que o capitalismo é o principal responsável por alguns dos desastres naturais que ocorrem no mundo. 

Boff exime o capitalismo de culpa. E na medida que procede assim, trabalha, tenha consciência ou não, para perpetuar a situação de crise. Não há saída por fora da luta contra tal regime.

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