O colunista do portal Brasil 247, Moisés Mendes, parece viver numa realidade paralela. Diante do simples indiciamento de Bolsonaro e outras 36 pessoas, em sua maioria militares, acusadas, entre outras coisas, de cometer o crime de golpe de Estado, o articulista extrai conclusões que mais parecem tiradas dos sonhos do redator do que da realidade. Sua coluna se intitula Bolsonaro se esfarela diante dos generais que o invejavam, e foi publicada neste último domingo (24).
Em primeiro lugar, Mendes parte da ideia de que as relações entre Bolsonaro e os militares estariam agora, com as denúncias da “trama golpista”, estremecidas. Antes, os militares o “invejavam”, já que Bolsonaro tinha votos e conseguiu se eleger presidente. Mas, agora, perdendo as eleições de 2022 e tendo o seu “plano golpista” fracassado e sido exposto, Bolsonaro “afunda as Forças Armadas na maior crise”.
O colunista afirma que o cenário é “desolador” para Bolsonaro e as Forças Armadas. Ele descreve a situação nos seguintes termos:
“O que esses generais têm agora diante deles é um Bolsonaro caindo aos pedaços, sem voto, desmoralizado pelo golpe fracassado, inelegível, frustrado pelas derrotas dos seus candidatos na eleição municipal e cada vez mais perto da prisão.”
E continua:
“Bolsonaro talvez não existisse sem o lastro dos militares que o tutelavam. Mas os militares que o bajularam deixam de existir sem ele. Ambos se esfarelam porque foram fracos, incompetentes, desastrados e covardes. E agora todos são perdedores.”
Mendes se comporta como um aloprado. Como se estivesse dominado por alguma substância alucinógena, afirma que a situação já estaria definida, que tanto Bolsonaro quanto os militares direitistas já estariam derrotados. E tudo o que temos até agora é o mero indiciamento, isto é, a indicação, no âmbito do inquérito policial, de que haveria indícios de crimes por parte de Bolsonaro e os outros investigados. Mendes se agarra loucamente no relatório da Polícia Federal, a mesma instituição que foi protagonista no processo golpista de derrubada de Dilma Rousseff e prisão de Lula, e esquece totalmente das coordenadas políticas reais.
O colunista afirma que Bolsonaro “está caindo aos pedaços, sem voto”. A realidade, no entanto, diz exatamente o oposto. As recentes eleições municipais mostraram de forma clara que o bolsonarismo segue vivo e em pleno crescimento, mesmo com Jair Bolsonaro fora da disputa eleitoral direta. O PL, partido do ex-capitão, foi o principal vencedor do pleito, liderando o número de votos. Foi também o partido que mais venceu nas cidades grandes, além de conquistar o maior crescimento proporcional na quantidade de prefeituras conquistadas. Republicanos, PP e União Brasil, partidos geralmente alinhados com o bolsonarismo, também figuraram entre os grandes vencedores.
A perseguição judicial a Bolsonaro, longe de enfraquecer o movimento que ele lidera, acabou fortalecendo a propaganda de que ele e seus aliados são vítimas de uma injustiça promovida pelas instituições do regime. Os resultados das urnas confirmaram esse diagnóstico: o bolsonarismo, como força política, não apenas sobrevive, mas expande sua influência por todo o País.
Mendes desconsidera completamente essa realidade do quadro político e se apaga aos elementos mais superficiais da situação. Acredita, tal como um beato ou uma tiete, que a Polícia Federal e o Supremo Tribunal Federal, órgãos dominados pelo imperialismo, em especial o norte-americano, têm realmente o objetivo de eliminar Bolsonaro e o bolsonarismo.
Não compreende que a nova manobra contra Bolsonaro em torno da “trama golpista” provavelmente tenha a ver com uma tentativa de forçar o ex-presidente a uma negociação. Isto é, se Bolsonaro abrir mão de sua candidatura em 2026 e apoiar o candidato oficial da burguesia – alguém, por exemplo, como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) -, a burguesia facilmente anularia a perseguição contra ele. O que apenas demonstra a força de Bolsonaro, e não sua fraqueza ou declínio. A burguesia se vê forçada a lançar mão de tais expedientes porque não consegue impor sua vontade a Bolsonaro por meios, digamos, “pacíficos”. Para que Bolsonaro aceite os termos da burguesia, é preciso pressioná-lo com o recurso das instituições policiais e judiciais.
A caracterização de Mendes não tem outro efeito que não levar toda a esquerda à paralisia política. Na sua visão, Bolsonaro estaria morto e enterrado, como produto da ação persecutória dos órgãos policiais e do STF. Portanto, fiquemos tranquilos!
Essa visão é não só perigosa, mas um verdadeiro crime político. Já foi possível conferir seus resultados nas eleições municipais: o bolsonarismo atropelou. É uma política que conduz, necessariamente, à derrota da esquerda, dos trabalhadores e suas organizações. Esperar que a derrota do bolsonarismo venha pela via institucional, pela polícia e pelo Judiciário, é jogar areia nos olhos dos trabalhadores.