Sem qualquer debate público sobre o tema e assumindo, uma vez mais, uma posição de seguir a reboque da posição da burguesia golpista, da sua imprensa capitalista, do governo federal e da maioria da esquerda pequeno burguesa, a presidência da Central Única dos Trabalhadores (CUT) assinou e divulgou na última quinta-feira (21) – em conjunto com outras seis “centrais” sindicais – uma nota intitulada União contra o golpismo e pela democracia, manifestando-se sobre o indiciamento pela Polícia Federal do ex-presidente Jair Bolsonaro junto a outras 36 pessoas, sob a acusação de crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Depois de tantas demonstrações do caráter golpista e reacionário das Forças Armadas brasileiras, os signatários se dizem “espantados” com as supostas “revelações da Polícia Federal sobre a trama golpista” e endossam, sem qualquer restrição às ações da não menos reacionária e pró-imperialista Polícia Federal. Há pouco tempo, essa mesma instituição executava mil e uma operações para viabilizar um verdadeiro golpe de Estado no País que derrubou a presidenta Dilma Rousseff (PT), levou à prisão por quase dois anos do então ex-presidente Lula, garantiu a eleição de Jair Bolsonaro (PL), e impulsionou uma gigantesca onda de retrocesso contra os trabalhadores e suas organizações.
Que as instituições do regime golpista, que organizou e realizou um golpe de Estado de verdade, procurem apresentar a suposta trama dos bolsonaristas como a única operação golpista no País nas última décadas é até compreensível. Da mesma forma é normal que o façam as direções da “centrais sindicais” que apoiaram o golpe de Estado – e até mesmo suas medidas contra os trabalhadores como a “reforma” trabalhista – e se calaram diante da prisão de Lula, como foi o caso das patronais Força Sindical e UGT, que entusiasticamente saíram às ruas pelo “Fora Dilma” e endossaram o governo Temer. Mas que essa posição seja assumida em nome da CUT, que lutou contra o golpe e teve vários de seus sindicatos e dirigentes presos, perseguidos e atacados pelos golpistas que agora se apresentam como “defensores” da democracia, que não existe para os trabalhadores, é – isso sim – algo espantoso.
A CUT e a esquerda parlamentar que – como todo o povo trabalhador – sofreram na pele as consequências do golpe que muitos querem esquecer estranhamente endossam sem qualquer crítica um processo no qual os acusados são denunciados, investigados e poder ser julgados por um juiz-ministro que também é apresentado como vítima do processo, em meio a arbitrariedades que nos faz lembrar os processos-farsa conduzidos pelo juiz suspeito, e comprovadamente parcial, Sérgio Moro, que virou ministro de Bolsonaro por seus serviços prestados.
Sem independência
O que temos aqui é a mais completa falta de independência e autonomia do movimento sindical, da qual a CUT é a maior organização. Uma política que se expressou também com muita clareza nos últimos dias, quando a direção da Central endossou a política de apologia dos membros do G7 que participaram da Cúpula do G20 , assinando documento em que simplesmente endossam a “imperiosa a adesão de todos os países do G20 e outros Estados, à iniciativa da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza”, incluindo aí os chefes dos países imperialistas, os maiores responsáveis pela fome, miséria, guerras e golpes em todo o mundo , sem qualquer crítica aos mesmos.
Na Declaração do G20 Social, as entidades chamam a “construir uma agenda coletiva que honre o compromisso com a justiça social e com a paz global”, sem que sequer sejam capazes de criticar os genocidas que já levaram à morte mais de 20 mil crianças e 15 mil mulheres na Palestina; que provocam a morte de mais de meio milhão de pessoas na Ucrânia e, no exato momento, em que esse senhores ameaçam levar mundo a um conflito global.
A posição do “G20 Social” é tão reacionária que fica atrás até mesmo da declaração oficial do G20, assinada pelos genocidas do G7, que faz uma menção demagógica à questão palestina.
Pior ainda, o silêncio da CUT, tão à gosto do governo brasileiro que não queria incomodar Biden, Macron e outros chefes imperialistas que impulsionam o massacre do povo palestino e estavam no Brasil, se deu no momento em que dirigentes, ativistas e sindicatos cutistas participavam de ato contra o genocídio e em defesa do povo palestino, justamente na data da abertura da Cúpula, enfrentando – inclusive – um forte esquema repressivo e que atentou claramente contra a liberdade de manifestação dos trabalhadores e de suas organizações.
Uma “saída” absurda
Diante da crise que não para de avançar, o comando da CUT endossa a antiga posição dos pelegos de “fortalecer o STF, os órgãos de justiça e as regras eleitorais”, ou seja, de apontar na direção das instituições do regime politico mais reacionário do carcomido regime “democrático” brasileiro, que mais atuam contra os trabalhadores e suas organizações, o único poder sem qualquer controle popular, que não só ratifica os ataques dos demais poderes contra os trabalhadores como – servindo aos interesses dos grandes capitalistas – até mesmo veta as decisões desses que interessem os trabalhadores, como se viu na questão do piso da enfermagem, bloqueado por meses pelo STF, e impõe restrições aos direitos dos trabalhares como no caso das pesadas multas contra os sindicatos por conta de greves impostas pelos TRTs e pelo TST.
No momento em que os banqueiros e outros poderosos setores pressionam cada vez mais o governo Lula para atender seus interesses e se manter submisso à vontade do imperialismo (atacando a Venezuela, mantendo relações com o Estado genocida de “Israel”, etc.) e o chantageiam para que adote um pacote contra os trabalhadores, como reconheceu a própria CUT, que assinou um Manifesto junto com outras organizações, denunciando que “querem cortar na carne da maioria do povo, avançando seu facão sobre conquistas históricas como o reajuste real do salário-mínimo e sua vinculação às aposentadorias e ao BPC, o seguro-desemprego, os direitos do trabalhador sobre o FGTS, os pisos constitucionais da Saúde e da Educação”, a presidência da Central, ao invés de propor uma política de mobilização dos trabalhadores e de suas organizações, se junta com os mesmos setores políticos dos chantagistas e sabotadores do Pais afirmando que isso “seria capaz de “fortalecer, sobretudo, o projeto nacional de desenvolvimento, com inclusão social…” e suposto “aperfeiçoamento do Estado Democrático de Direito”.
Por fima a nota das “centrais” repete o bordão da esquerda parlamentar “sem anistia aos golpistas!”, deixando de lado que – de fato – foi concedida uma ampla anistia aos que deram o golpe de 2016, muitos dos quais até mesmo integram o governo atual. Deixa de lado que a única maneira eficaz de combates e derrotar a direita não é fortalecendo os mecanismos reacionários e repressores do Estado, mas por meio da luta politica e da mobilização dos trabalhadores.
O caráter reacionário de exaltação da PF e de defesa da política “cadeieira” da Nota pode ser medida por sua semelhando com o que foi defendido pela divisionsta CSP-Conlutas em nota sobre o mesmo tema.
A situação põe às claras a necessidade de um amplo debate no interior das organizações do movimento operário, em torno de uma saída própria dos trabalhadores diante da crise, para superar a politica de derrotas de seguir endossando a “frente ampla” com a direita golpista a pretexto de combater, inclusive, com meios antidemocráticos, a outra ala da direita, uma política que já se mostrou totalmente fracassada no Brasil e até na sua “matriz”, os EUA, com a vitória de Trump, depois de anos de perseguição política e de ausência da luta pela construção de uma alternativa própria dos trabalhadores que não fosse ficar à reboque da burguesia genocida e neoliberal, do Partido Democrata.