No dia 20 de novembro, o martírio do xeque palestino Izz ad-Din al-Qassam, grande líder da revolução de 1936, completou 89 anos. Em ocasião da data, o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, aproveitou parte do programa Análise Política da Semana, exibido em 23 de novembro, para trata sobre a importância desta personagem histórica.
Abaixo, segue a transcrição do que foi dito pelo dirigente trotskista:
Três dias atrás, no dia 20 de novembro, tivemos aí o aniversário de uma pessoa muito importante diante do que está acontecendo no mundo hoje, que é o xeque palestino Izz ad-Din al-Qassam. Ele morreu no dia 20 de novembro de 1935. Quer dizer, no ano que vem, vamos ter aí 90 anos da morte dele.
Ele é quem dá o nome à força armada do Hamas, as Brigadas Al-Qassam. Quem é essa personagem histórica importante? Por que ele dá o nome à brigada do Hamas? Isso aqui está relacionado com um dos acontecimentos mais importantes e decisivos da história da Palestina e daquela região, que é a Revolução Palestina. Essa revolução vai começar com a morte dele e durar vários anos.
O xeque Izz ad-Din al-Qassam, que era uma pessoa muito respeitada na comunidade palestina, organizou um grupo armado para combater a dominação britânica sobre a Palestina. Em 1935, os britânicos já estavam lá havia quase duas décadas impondo sobre a Palestina uma ditadura militar. No final da Segunda Guerra Mundial, com a derrota do Império Otomano, os turcos, os ingleses e franceses assumiram o controle de toda aquela região diretamente. Eles já tinham muita influência antes. Eles passam a ter uma influência com diversas formas políticas em toda aquela região.
A Palestina foi transformada em um protetorado britânico. A Sociedade das Nações, que é a antecessora da ONU, deu o nome de Mandato Britânico da Palestina. Enquanto isso, os britânicos e franceses procuraram estabelecer regimes confiáveis em vários países. Isso vai acontecer com o tempo. Não vai acontecer de imediato. Na Palestina, eles excluíram completamente a soberania do povo palestino. É o começo do que nós estamos assistindo hoje, que é a ocupação colonial da Palestina pelos sionistas.
Os ingleses tomaram conta da Palestina e não permitiram que os palestinos formassem o seu próprio governo. Muita propaganda sionista diz: “Palestina não existe”. Mas a Palestina existia. Era um país, uma colônia britânica, como outras colônias britânicas. Era uma entidade política controlada pelo imperialismo britânico.
Por que os britânicos não queriam que a Palestina fosse independente? Porque ali era o ponto de confluência da maioria dos países daquela região, dos países árabes. Essa região, naquele momento, já era reconhecida como rica em petróleo e, portanto, era necessário controlá-la estrategicamente.
Desde o primeiro momento, os britânicos deram uma série de privilégios ao sionismo, que era ultraminoritário na Palestina, um punhado de gente. Embora a Palestina fosse supostamente a “terra prometida” do povo judeu, como dizem os sionistas, o povo judeu não queria essa terra prometida. Eles rejeitavam a terra prometida e preferiam viajar para a Inglaterra ou para os Estados Unidos, o que parece bem natural. Quem, morando na Europa, iria querer morar na Palestina naquele momento? Não fazia nenhum sentido.
A imigração judaica para a Palestina só vai ocorrer depois da Segunda Guerra Mundial, através de uma série de expedientes que forçaram as pessoas a irem para lá. A presença dos judeus na Palestina foi um fenômeno criado artificialmente, não espontâneo, como os sionistas e o imperialismo querem que acreditemos. Foi produto de uma operação política que durou mais de 30 anos. Mais até, se considerarmos que, quando o estado de “Israel” foi criado, em 1948, os judeus ainda eram uma minoria. Eles eram minoria em todos os lugares.
O xeque Izz ad-Din al-Qassam é o homem que se levanta contra os ingleses pela independência da Palestina. Hoje em dia, ele seria chamado de terrorista, porque, segundo até mesmo gente da esquerda, dizem: “você não pode se levantar com armas na mão quando é vítima de uma espoliação do tamanho que os palestinos estão vivendo. A luta tem que ser pacífica. Você tem que jogar flores. O lado de lá, que não é terrorista, pode jogar bombas, mas você tem que jogar flores”.
Acontece que muita gente acha que esse tipo de relacionamento é inviável. Você joga flores, eles jogam bombas. O melhor seria jogar bombas dos dois lados, o que parece mais natural.
Sheikh Izz ad-Din al-Qassam decidiu iniciar um movimento armado. Só que, curiosamente, ele não conseguiu concretizar esse movimento. Ele estava começando a agrupar forças em uma determinada região, mas uma das pessoas que estava com ele teve um entrevero com, ao que parece, um judeu. Esse judeu chamou a polícia britânica, que apareceu onde o grupo estava escondido, matou o britânico e, em seguida, os soldados britânicos mataram todo mundo, inclusive o xeque Izz ad-Din al-Qassam.
Diante da morte dele, como a situação já era muito tensa, explodiu uma enorme revolta em toda a Palestina. Foi a Revolução Palestina, que durou anos e foi o maior levante dos palestinos até hoje.
Esse levante foi decisivo na história da Palestina. A repressão britânica deixou um saldo muito grande de devastação na comunidade palestina. Boa parte dos elementos mais ativos foi morta pelos ingleses, e outra parte foi exilada, fugindo do país. Foi o primeiro momento de expulsão dos palestinos do seu próprio território.
Esse episódio levou à desestruturação generalizada da comunidade palestina, o que facilitou a vida dos sionistas quando decidiram tomar conta da região. Praticamente todas as lideranças palestinas estavam fora do país, e as organizações palestinas estavam desestruturadas ou destruídas. Isso deixou o povo palestino sem organização, uma obra direta dos ingleses, que prepararam o terreno para a tomada da Palestina pelos europeus sionistas, que se apoderaram da terra dos outros em nome de que estavam lá 3.000 ou 2.000 anos atrás.
Essa reivindicação, de 2.000 anos atrás, é uma ideia absurda. Não dá para você querer reivindicar uma terra de 200 anos atrás, que dirá de 2.000 anos. As coisas são o que são. Não dá, por exemplo, para alguém chegar no Brasil e dizer: “Essa terra é dos índios”. Mesmo que tenha sido, isso foi muito tempo atrás. Esse tipo de argumento não dá direitos políticos a ninguém.
No caso da Palestina, você verá que a maioria dos judeus que hoje estão lá não tem origem na Palestina. Ou seja, é uma enganação em todos os sentidos. A Revolução Palestina de 1936 e a repressão britânica muito dura abriram caminho para a ocupação da Palestina pelo sionismo. O nome dessa revolução foi dado em homenagem ao líder político e religioso palestino xeque Izz ad-Din al-Qassam. No ano que vem, serão 90 anos de sua morte. Vale a pena organizar algo de maior envergadura para resgatar a memória dessa figura tão importante, um símbolo da resistência armada palestina.