Deixando de lado o “atentado terrorista” mais atrapalhado de todos os tempos, o debate político da última semana girou em torno do movimento VAT, Vida Além do Trabalho. O movimento, liderado por um tal de Rick Azevedo, segue a velha cartilha do oportunismo brasileiro, que já foi cooptado pela burguesia em múltiplas oportunidades, com destaque para 2013. Mas deixamos a análise política para o companheiro Rui Costa Pimenta, que desvendou a fraude ao vivo em seu programa de terça-feira e ontem destrinchou as propostas. Nosso foco será na ascensão meteórica e provável declínio repentino, algo típico de vídeos e dancinhas da rede social TikTok, onde, aliás, Rick fez viralizar seu movimento.
Ao longo da semana, enquanto observávamos todo esse debate em torno do VAT, não pudemos deixar de sentir um deja vu em relação à última grande manifestação em defesa da Palestina que o Partido da Causa Operária não poupou esforços para realizar. Às vésperas do ato do dia 30 de junho, houve grande campanha em torno do aborto, sob o nome de “criança não é mãe”. Uma das peças mais divulgadas do movimento era uma música ilustrada por um vídeo criado por inteligência artificial de péssimo gosto que, inclusive, comentamos nesta coluna. As diversas Organizações Não-Governamentais (ONGs) por trás da campanha se mobilizavam contra projeto de lei bolsonarista que visava tornar ilegal o aborto após mais de 22 semanas de gestação e levantou-se à época que o demográfico mais afetado pela medida no Brasil seriam meninas menores de idade vítimas de abuso.
Quem poderia ficar contra tal demanda? Ninguém. Acontece que todo aquele escarcéu midiático evaporou em semanas e todos os que se mobilizaram não continuaram na sala de cinema para acompanhar o filme. O bolsonarismo continua avançando com projetos de lei reacionários que prevem o fim do aborto, mesmo em condições em que atualmente seria perfeitamente legal. Onde está a mobilização daqueles setores?
Agora, o PCO segue firme em sua campanha em defesa da Palestina, algo que a esquerda nacional, salvo raras exceções, nunca entrou de cabeça, enquanto o VAT entra para roubar o debate político. Estaríamos aqui levantando a hipótese de que há uma sabotagem contra a luta pela Palestina no Brasil? Difícil dizer. O que chama atenção, na realidade, é a efemeridade desses movimentos, que vivem de picos de foco midiático para logo em seguida afundar. Seu único saldo acaba sendo o lançamento de “novas lideranças de esquerda”, como é o caso agora de Rick Azevedo e Érica Hilton. “Não esqueçam que foi um homem gay e uma mulher trans que acabaram com a jornada 6×1 em nome dos trabalhadores”, já disse um tuiteiro excessivamente otimista.
Rick já é vereador, com vistas de se tornar deputado ou até algo maior. Érica, deputada federal, também deve ter grandes ambições para sua carreira política. Estava envolvida também na campanha “criança não é mãe”. Se tem cobertura da grande imprensa, pode ter certeza que ela estará lá. É como nosso querido candidato a prefeito programado para perder, Guilherme Boulos, o homem que destruiu o Partido dos Trabalhadores na cidade onde foi fundado, São Paulo.
São movimentos à la TikTok. Como na infindável sequência de vídeos curtos, não-relacionados, que induzem a esquizofrenia nos seus usuários, essa esquerda oportunista e biruta trata temas importantes como o aborto e a redução da jornada de trabalho como formas de mobilização relâmpago que visam apenas seu benefício próprio. Não há preocupação com uma vitória política. No pior dos casos, há uma preocupação em atacar o governo Lula, já muito acuado pela direita. E essa brincadeira pode sair caro, não apenas pelo desgaste político do governo, como pelo enfraquecimento das pautas levadas adiante por aventureiros.
Quanto à Palestina, onde há um genocídio em curso, onde crianças são mortas a sangue-frio todos os dias e onde o imperialismo pode sofrer uma derrota decisiva graças à resistência revolucionária liderada pelo Hamas, pouco se fala. Esses atos a Rede Globo não cobre, sequer emite nota. Ademais, não há interesse numa luta prolongada, nem pela Palestina, nem pelo aborto ou pela redução da jornada de trabalho. Ficamos no aguardo da próxima moda.