O indiciamento de Bolsonaro e outras 36 pessoas na última quinta-feira (21) empolgou boa parte da esquerda. A CSP-Conlutas, central sindical de brinquedo ligada ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), faz parte desse grupo de entusiastas.
Uma ode à golpista Polícia Federal
Mais da metade da matéria é dedicada a descrever o relatório de mais de 800 páginas que a Polícia Federal encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF). A descrição é elogiosa. Fala dos “núcleos” que, segundo o relatório, dividiam as tarefas para implementar o suposto golpe de Estado. Fala das “provas fartas”, obtidas através de “medidas autorizadas judicialmente, como quebras de sigilos telemático, telefônico, bancário e fiscal, além de buscas e apreensões e colaborações premiadas”.
Fica claro que, para a CSP-Conlutas, a Polícia Federal fez um grande trabalho para “mapear as ações do grupo”, bem como “individualizar as condutas de cada participante”. Nossa conclusão só pode ser uma, diante de tais colocações: a Polícia Federal seria uma aliada dos trabalhadores na luta contra a extrema direita.
Essa mesma Polícia Federal foi uma principais ferramentas do imperialismo para desencadear no país o golpe de Estado que derrubou o governo de Dilma Rousseff e prendeu por 580 dias o atual presidente Lula. Ela era parte fundamental da criminosa Operação Lava Jato que, para além dos ataques a um amplo setor da política nacional, também destruiu ou fez regredir consideravelmente setores inteiros da economia nacional, como é o caso da construção civil.
Que o PSTU e sua “central” nada falem disso, é até natural. Afinal, apoiaram conscientemente o golpe de Estado de 2016. Mas, aqui, é preciso destacar que a Polícia Federal é uma instituição que tem servido constantemente aos interesses do imperialismo dentro do país. Desde o golpe contra Dilma Rousseff e o PT, a instituição não passou por nenhuma reforma, por menor que seja, e atualmente continua dando mostras de que continua sob a égide do imperialismo ― as operações contra o “terrorismo” no país, a mando do Mossad/CIA, expõem esse fato.
É minimamente realista acreditar que a Polícia Federal, agora, será um baluarte da luta contra a extrema direita? É claro que não.
A matéria tece críticas à posição do presidente Lula diante da possibilidade de os envolvidos não serem punidos:
“Não pode haver qualquer tipo de anistia para golpistas e conciliação com setores da extrema direita e seus aliados do Centrão. Nesse sentido, é absurdo que Lula mantenha uma política de condescendência com militares e até mesmo setores da direita, sem falar nas alianças com a burguesia e o Centrão.”
É, sem dúvida, verdadeiro que Lula é condescendente com os militares e mantém uma política de conciliação com setores da direita, com a burguesia e o Centrão. Mas, ao apoiar as ações da Polícia Federal e do STF, por acaso a CSP-Conlutas considera que não está fazendo uma frente com setores da direita, da burguesia e até do Centrão? Por acaso a Polícia Federal e o STF seriam instituições imunes à luta política, impermeáveis às facções políticas em luta?
Restou absolutamente claro no último período, sobretudo durante e após o golpe de Estado de 2016, que tanto a Polícia Federal quanto o STF estavam a serviço dos principais setores do imperialismo mundial. A PF e o STF fazem parte do que podemos chamar de campo da direita pró-imperialista.
Na medida em que se apoia na ação dessas instituições dominadas pela direita pró-imperialista, a CSP-Conlutas inevitavelmente se alia a elas e se coloca a reboque da política delas.
“Cadeia, já!”
A palavra de ordem defendida pela “central” é: “Cadeia, já!” “Bolsonaro, Braga Netto, general Heleno e demais golpistas precisam ter a prisão preventiva decretada, já!”, explica.
Se o comando político advogado pela CSP-Conlutas é o de prisão para os “golpistas”, então essa ação recai nos ombros do aparelho repressivo do Estado burguês. Quem prende é a polícia a partir de uma ordem do Poder Judiciário. A missão de derrotar as principais figuras da extrema direita está nas mãos, portanto, da Polícia Federal e dos ministros do STF, segundo o raciocínio da “central” do PSTU.
Para passar um verniz esquerdista a essa posição de direita, o artigo não poderia deixar de mencionar a “mobilização da classe trabalhadora”. Mas, aqui, tal mobilização tem a função apenas de garantir que a anistia não prospere e que as prisões aconteçam. Isto é, a mobilização dos trabalhadores está completamente subordinada à ação das entidades policiais e judiciais do Estado capitalista.
A luta contra o bolsonarismo é, de fato, terceirizada para as instituições comandadas pela direita pró-imperialista.
A CSP-Conlutas afirma que “está demonstrado que o bolsonarismo e a ultradireita são uma ameaça às liberdades democráticas, atuam por um projeto autoritário e seguem cada vez mais organizados”.
É fato que o bolsonarismo não tem apreço pelas liberdades democráticas e que, se bem sucedidos, podem implantar um “projeto autoritário”. Mas é ainda mais verdadeiro que Polícia Federal, STF e instituições similares têm atuado como os principais destruidores das liberdades democráticas no país, pavimentando na prática um regime político cada vez mais autoritário.
A CSP-Conlutas, junto com os setores majoritários da esquerda, propõe uma verdadeira armadilha para os trabalhadores. Ela tenta amarrar os trabalhadores e suas organizações junto à política do imperialismo pseudodemocrático, um expediente que só levará à derrota da esquerda e à vitória da extrema direita.