Nessa quinta-feira (21), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi indiciado, junto com mais 36 pessoas, incluindo alguns militares de seu núcleo mais próximo, por uma suposta tentativa de golpe de Estado. Caso condenado, Bolsonaro pode ser sentenciado a mais de 30 anos de cadeia.
O processo, contudo, é bizarro. A base da acusação é que as 37 pessoas estariam envolvidas em uma trama para assassinar Alexandre de Moraes. E quem que vai julgar esse fato? O próprio Alexandre de Moraes. A mesma pessoa hoje faz o papel de vítima, de acusador e de juiz, uma coisa que nem na Alemanha Nazista era comum.
A bizarrice do processo, além de reforçar a total avacalhação do regime jurídico, parece servir a um propósito bem definido. Ele torna o processo deliberadamente frágil, de tal forma que possa ser facilmente revertido.
A esquerda pequeno-burguesa está alegre porque acha que Bolsonaro vai ser destruído. Mas isso não vai acontecer, a não ser como resultado de uma grande luta popular. Mesmo que Bolsonaro seja preso, há ainda muito chão para qualquer tipo de desenlace, e a prisão de Lula em 2018 provou isso.
A impressão que dá é que as novas acusações contra Bolsonaro são uma tentativa de forçar o ex-presidente a uma negociação. Isto é, se Bolsonaro abrir mão de sua candidatura em 2026 e apoiar o candidato oficial da burguesia – alguém, por exemplo, como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) -, a burguesia facilmente anularia a perseguição contra Bolsonaro. Isso, portanto, justificaria a bizarrice do processo.
Mesmo que Bolsonaro tenha sido indiciado, mesmo que o processo tenha adquirido contornos macabros, com supostos planos de assassinato, o julgamento de Alexandre de Moraes torna tudo instável. Isso significa que a própria burguesia já iniciou o processo criando as condições para que ele seja derrubado.
A coisa mais anormal do mundo é que a pessoa que seria a vítima do crime seja também o juiz da ação. Isso não existe em lugar nenhum do mundo. Se a intenção de condenar Bolsonaro definitivamente fosse séria, a primeira iniciativa da burguesia seria escolher um juiz “imparcial”, que nada tivesse a ver com o caso.
Há ainda um segundo elemento que deve ser considerado no caso do indiciamento de Bolsonaro. Todo esse estardalhaço do suposto plano de assassinato e da suposta tentativa de golpe empurra o Partido dos Trabalhadores (PT) para a direita, pois serve para a campanha de que é necessário se aliar aos “democratas”. Isto é, a Joe Biden, Alexandre de Moraes e todos os bandidos políticos que representam o que há de mais reacionário no mundo: o imperialismo.
Essa manobra vem sendo feita há muito tempo. E a direita vem conseguindo muito resultado, empurrando não apenas o PT, mas o próprio governo Lula para a direita. Com o PT dando uma guinada à direita, isso também facilita o plano da burguesia de lançar um candidato da “direita tradicional”, alguém que seja um servo total da política neoliberal, como o argentino Javier Milei. Basta que ele se vista de “antibolsonarista”.
Ainda que haja um plano para que Bolsonaro entre em um acordo com a burguesia e desista de disputar as eleições de 2026, é possível que o ex-presidente resista à proposta. Afinal, a correlação de forças é muito favorável a ele – o seu partido foi o mais votado nas eleições municipais. É possível que o ex-presidente, por exemplo, bata o pé e decida apoiar sua esposa, Michelle Bolsonaro, em uma quebra de braço contra o conjunto da burguesia. A situação, afinal, é delicada para a “direita tradicional”.