Em uma publicação no sítio 247 intitulada “Sem anistia: é hora de acabar com o golpismo no Brasil”, o colunista Chico Vigilante argumenta que este seria o momento de colocar Bolsonaro na cadeia, especialmente após denúncias de que um pequeno grupo de militares teria planejado o assassinato de Lula, Alexandre de Moraes e Geraldo Alckmin em dezembro de 2022.
O problema é que essas denúncias ainda são muito recentes, sem que se tenha apresentado ao público provas concretas sobre o suposto planejamento de um ato terrorista. Mesmo assim, sem que se saiba exatamente o que ocorreu ou quais acusações são baseadas em evidências após investigações, setores como o de Chico Vigilante, deputado pelo PT na Câmara Legislativa do Distrito Federal, exigem o máximo rigor da Justiça. Essa postura ignora o fato de que, ao perseguir os direitistas a qualquer custo, a população pode pagar o preço com a perda de direitos fundamentais.
Por exemplo, entre as exigências feitas por Vigilante está a seguinte declaração:
“Além disso, as investigações precisam apurar o suposto uso de recursos do fundo partidário do PL para financiar atos antidemocráticos. A denúncia de que Braga Netto teria solicitado R$ 100 mil ao partido para fomentar a trama é gravíssima. Se confirmada, o PL deve ser cassado, pois partido político não é para financiar terrorismo, mas para fortalecer a democracia.”
O que Vigilante classifica como “atos antidemocráticos” seria o financiamento do suposto plano de assassinato de Lula. Contudo, ele utiliza o mesmo termo que a esquerda e a grande imprensa aplicam para descrever as manifestações bolsonaristas, como as ocorridas em 8 de janeiro de 2023. Essa equiparação pode causar grande confusão nos leitores e acaba servindo de pretexto para que “atos” – normalmente sinônimo de manifestações no vocabulário da esquerda – passem a depender de permissão estatal para ocorrer.
Essa ambiguidade dificulta a existência de qualquer forma de democracia no país, tudo para que os aliados de Bolsonaro sejam perseguidos judicialmente. Em um Estado democrático de direito, partidos políticos não podem ser controlados pelo Estadoo nem ter seus recursos vigiados. Fazer isso seria justamente o oposto de democracia, configurando-se como uma ditadura. O uso dos recursos partidários é um assunto interno, e partidos não devem responder à Justiça por defenderem determinados programas ou ideias.
Apesar disso, a esquerda pequeno-burguesa acredita que seria melhor para o país permitir que o Estado definisse qual programa os partidos podem ou não defender.
O texto de Vigilante também inclui trechos como:
“Sob a liderança técnica de Andrei Rodrigues, a Polícia Federal vem atuando com firmeza e seriedade, sem espetáculos.”
Essa afirmação é feita enquanto a Polícia Federal atua, na prática, sob influências externas, como da CIA e do Mossad, restringindo, por exemplo, a entrada de cidadãos palestinos ou árabes de outros países no Brasil. Há também o caso de Lucas Passos, preso pela Polícia Federal sob alegações sem provas de ser membro do Hesbolá – algo que, mesmo se verdadeiro, não configuraria crime, já que o partido da resistência libanesa não é considerado terrorista no Brasil. Além disso, as acusações de que Passos planejava atentados contra sinagogas são absurdas, considerando que o Hesbolá não cometeu ataques desse tipo em nenhum lugar do mundo, muito menos faria sentido realizar algo assim no Brasil.
Vigilante ainda declara:
“Os acampamentos golpistas, longe de serem formados por inocentes, estavam repletos de criminosos que precisam ser responsabilizados. Não há espaço para anistia. Já vimos o resultado de anistiar os golpistas de 64: décadas de retrocessos e instabilidade.”
Ou seja, o deputado prefere alinhar-se aos golpistas de 2016 – que, de fato, realizaram um golpe de Estado que condenou o Brasil a décadas de retrocesso – para perseguir judicialmente pessoas que organizaram manifestações contra Lula.
A esquerda, portanto, aposta em uma direitização completa como fórmula para enfrentar a extrema-direita. Mas será que isso funcionará? Desde o início do governo Lula, ouvimos que Bolsonaro será preso. Memes com frases como “só mais 72 horas e Bolsonaro será preso” têm circulado para ridicularizar essa ideia de que a Justiça prenderá Bolsonaro e, com isso, garantirá a governabilidade de Lula. O que se observa, porém, é que cada crise serve de pretexto para novas concessões à direita, sem que nenhum resultado benéfico seja atingido em troca.