A colunista do portal Brasil 247 Tereza Cruvinel publicou, no último dia 19, artigo intitulado O G20 e as tentativas de minimização da grande vitória de Lula e de nossa diplomacia, segundo o qual, “tudo o que o Brasil considerava inegociável entrou no longo documento”, a saber, a declaração final da 19ª Cúpula do G20, cuja presidência coube ao Brasil neste ano e ocorreu no Rio de Janeiro, nos últimos dias 18 e 19 de novembro.
Nos pontos principais sobre a luta política que se trava no âmbito mundial, entre o imperialismo e os povos oprimidos, o documento é uma nulidade total, mas o fenômeno é apresentado pela colunista da seguinte forma:
“Sobre Guerra e Paz, os diplomatas garimparam palavras para condenar a guerra na Ucrânia sem citar a Rússia ou Putin. Já em relação à Gaza, houve expressão de ‘profunda preocupação’ com a ‘catástrofe humanitária’. E ainda a defesa de um Estado para os palestinos.
As divergências sobre o tema das guerras não permitiriam mesmo que o documento fosse além destas referências.”
Ora, se uma questão fundamental de nossos tempos, no qual uma grande guerra entre as nações imperialistas e os principais países pobres do mundo – por sinal, importantes parceiros econômicos e políticos do Brasil -, a luta política foi completamente escamoteada por existirem “divergências”, então qual foi a vitória? Um documento que não fala nas provocações que a China tem sofrido dos EUA e Reino Unido e tampouco apoia a luta por soberania dos diversos países atrasados que se insurgem contra a ditadura dos monopólios, no máximo, pode ser considerado uma “grande vitória do imperialismo”.
Curiosamente, a mesma Cruvinel que reconhece o fracasso total da cúpula do G20 em se posicionar sobre um dos episódios mais horrorosos da história, o genocídio do povo palestino pela ditadura sionista, destaca como grande vitória do governo brasileiro uma suposta “agenda humanista e civilizadora”. A jornalista escora o argumento no “acolhimento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza” no documento final, episódio caracterizado pela exaltada esquerdista como “uma espécie de medalha de ouro para Lula”.
Qual a razão disso a autora não explica, mas a ficha corrida dos piores criminosos da humanidade demonstra que dar migalhas da riqueza mundial às centenas de milhões de famélicos para não morrerem de fome – ou, pelo menos, não todos de uma vez – é algo com o qual o imperialismo não tem uma oposição frontal.
A mitigação da miséria produzida pela rapina crescente da riqueza mundial nem de longe pode ser considerada uma vitória do governo, até porque se trata de uma política que não se choca com os interesses do setor mais poderoso da burguesia mundial. O mesmo pode ser dito de “vitórias” como a ofensiva da censura na forma de controle político da inteligência artificial e também da sobrevida ao cambaleante identitarismo, promovido no documento do G20 como um “total compromisso com a igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas”, uma demagogia barata que aparentemente emocionou Cruvinel, mas provoca uma repulsa cada vez maior na classe trabalhadora em todo o planeta, já em antagonismo total contra colocações desse tipo.
“O que o Brasil considerava inegociável”, na realidade, são reivindicações “inegociáveis” para o imperialismo, empurradas, no entanto, para serem defendidas por Lula, de modo a ganharem um verniz de esquerda. O fato dos interesses “inegociáveis” do imperialismo constarem no documento oficial só mostra a total falência do G20 enquanto um bloco dedicado a algo além de submeter os países membros aos caprichos de EUA, Canadá, União Europeia e Japão, o grupo das nações imperialistas.
Em estágio avançado de preparação para uma guerra de proporções inéditas contra Rússia, China e Irã, os países ricos, sim, têm interesse em usar a demagogia da “proteção às mulheres e meninas” para seus objetivos políticos e militares, como já fizeram na tentativa de isolar o apoio ao Talibã e à Revolução Afegã. São as potências imperialistas, finalmente, que têm interesses cada vez maiores na censura das comunicações e da inteligência artificial, assim como em usar a demagogia ecológica para atacar a economia dos países pobres mais poderosos, em especial (e novamente), China, Índia, Rússia e o próprio Brasil.
Mais importante ainda é esse pequeno – mas poderoso – grupo de nações, os únicos “divergentes” em relação à ofensiva militar russa contra a OTAN em solo ucraniano e na denúncia real do genocídio perpetrado por “Israel” contra o povo palestino. Cruvinel, entretanto continua:
“Os países signatários são independentes e soberanos. São aliados dos EUA mas não serão necessariamente vassalos.”
Ora, quando um encontro de 19 países e duas entidades como a UE e a União Africana segue fielmente a política de dois países norte-americanos, um asiático e um dos blocos de nações (a UE), o que temos senão a demonstração explícita de que “vassalos” é exatamente o que a maioria dos países do G20 são, salvo, é claro, países como Rússia, China e Irã, onde o conflito com a ditadura mundial já está em andamento? Pior para os brasileiros, cujo País atualmente é um dos piores vassalos da ditadura dos países ricos.
A vitória que a inepta analista enxerga, portanto, não foi do Brasil, mas dessa ditadura, a quem o governo brasileiro, nesse momento, se presta ao papel de serviçal, uma condição que pode mudar. Para isso, no entanto, é preciso uma pressão contrária e não o otimismo para tolos demonstrado por Cruvinel, que longe de resolver o problema da submissão do País, aprofunda a situação.