Metula, localizada no extremo norte do território controlado pela entidade sionista, seria hoje parte do Líbano se não fosse pelo processo de colonização promovido pelo sionismo. Situada em uma área estratégica, próxima à fronteira com o Líbano e o vale do Jordão, essa pequena cidade exemplifica os métodos criminosos de expropriação que marcaram a formação de “Israel”. A história de sua apropriação, que remonta ao final do século XIX, ilustra a violência e a manipulação sistemática que sustentaram o projeto colonial sionista na Palestina.
Metula, ou Mutalá como era chamada, era originalmente habitada por cerca de 600 famílias drusas, que cultivavam suas terras como arrendatários sob o domínio otomano. Durante a rebelião drusa de 1895, os homens da aldeia se alistaram na luta contra o regime turco.
Aproveitando-se da ausência dos trabalhadores e da vulnerabilidade das mulheres que ficaram para cuidar das terras, um aristocrata cristão de Sidon, Jabur Bey Riskalas, vendeu 12.800 dunams (aproximadamente 12,8 km²) ao Barão Edmond de Rothschild, através de seu agente Joshua Ossovetski. Uma transação que ignorou completamente os direitos dos habitantes locais.
Quando os drusos retornaram após o esmagamento da rebelião, encontraram suas terras sob controle de colonos sionistas. Eles reivindicaram seus direitos de posse, mas Ossovetski, agindo como representante da ocupação sionista, chamou as autoridades otomanas para reprimir os drusos, acusando-os de deserção e revolta.
A resposta foi brutal: perseguições, prisões e expulsões forçadas. Os drusos, sem outra escolha, aceitaram um acordo após anos de resistência, recebendo uma compensação irrisória, enquanto eram definitivamente expulsos de terras que lhes pertenceram por gerações.
O episódio não foi apenas um crime contra os drusos; ele revelou o modus operandi do sionismo em seus estágios iniciais. Um conhecido sionista da época, o ucraniano Ahad Ha’am, criticou os métodos predatórios de Rothschild. Para o movimento sionista, no entanto, o roubo de Metula não era uma exceção, mas uma prática planejada: expulsar populações locais para criar um enclave judaico exclusivamente europeu, alicerçado na violência e na negação do direito dos povos nativos.
A situação da cidade tornou-se ainda mais emblemática após a Primeira Guerra Mundial. O norte da Palestina, incluindo Metula, passou ao controle francês, como parte do mandato sobre o Líbano e a Síria. Apesar disso, a entidade sionista pressionou para que a cidade fosse incorporada à Palestina sob controle britânico.
Em 1920, o Acordo de Fronteiras entre França e Grã-Bretanha determinou que Metula passaria para o controle britânico, mas a transferência só se consolidou em 1924. Nesse período, os habitantes de Metula chegaram a participar das eleições para o parlamento libanês, o que evidencia que a cidade, cultural e historicamente, sempre esteve ligada à chamada “Grande Síria”, a imensa nação árabe que inclui, além da atual Síria, Líbano, Jordânia, Palestina (incluindo “Israel”), Iraque e porções da Turquia.
A apropriação de Metula pelos sionistas é um exemplo gritante do caráter imperialista do projeto de “Israel”. Desde suas origens, o sionismo usou uma combinação de manobras diplomáticas e violência para consolidar sua presença na Palestina, sempre com o apoio dos imperialistas europeus. A perda de Metula foi sentida profundamente pelos povos árabes, pois a cidade era não apenas um centro de vida comunitária, mas também uma terra fértil, estrategicamente localizada na confluência de importantes rotas comerciais e agrícolas.
A ironia trágica é que, após sua anexação ilegal, Metula foi transformada em um refúgio de lazer para colonos sionistas. Como escreveu o sionista britânico Norman Bentwich em 1919, a cidade tornou-se um “resort de verão”, onde os colonos podiam escapar do calor da planície. Essa transformação é uma metáfora perfeita para o projeto de “Israel”: transformar a tragédia dos povos árabes em um cenário idílico para colonizadores europeus.
O roubo de Metula, assim como a expulsão forçada de milhões de palestinos durante a Naqba em 1948, não é um evento isolado, mas parte de uma estratégia deliberada de ocupação e apartheid. Cada vilarejo destruído, cada cidade roubada, representa um capítulo de um crime que continua até hoje, alimentado pelo imperialismo e legitimado pelos órgãos internacionais cúmplices.
Atualmente convertida em uma “cidade fantasma” devido à insurreição revolucionária do povo palestino e o apoio prestado à causa palestina pelo Hesbolá, a permanência da cidade como posse da ditadura sionista é também a manutenção de uma ameaça à paz e à soberania dos povos árabes. Enquanto Metula for um “paraíso de verão” para invasores da Palestina, a luta pelo fim da ocupação seguirá viva, exigindo justiça e o retorno das terras roubadas aos seus verdadeiros donos.