Ainda é cedo para tirar uma conclusão completa do que esperar do governo Donald Trump pelos secretários que já foram nomeados pelo presidente eleito dos Estados Unidos. No entanto, é nítido que já existe uma tendência de choque com o chamado “Estado profundo”, isto é, o mecanismo imperialista que independe do governo e que apoiou a candidatura do Partido Democrata nas últimas eleições.
Os três principais nomes que desagradaram à imprensa capitalista foram Robert Kennedy Jr., Tulsi Gabbard e Pete Hegseth.
Kennedy foi colocado como secretário da Saúde e Serviços Humanos. Ex-membro do Partido Democrata, ele rompeu com os democratas durante a pandemia da Covid-19, por discordar da política sanitária para do imperialismo. Kennedy foi taxado de “negacionista” pela grande imprensa por criticar algumas vacinas da Covid-19 e a FDA (Food and Drug Administration), a agência que regulamenta alimentos e medicamentos, uma espécie de Anvisa norte-americana.
Ao ser indicado como secretário de Saúde, Trump aproveitou a popularidade dos que questionavam as políticas draconianas do imperialismo durante a pandemia, colocando uma pessoa que, abertamente, é contra o lobby das chamadas “Big Pharma”, as gigantescas empresas monopolistas do ramo farmacêutico e de saúde, um dos lobbys mais poderosos do mundo e controladas pelos bancos.
O ataque a Trump ao imperialismo, porém, foi mais importante no caso de Tulsi Gabbard e Pete Hegseth, nomeados para diretora da Inteligência Nacional e secretário de Defesa, respectivamente. Gabbard foi deputada pelo Partido Democrata por oito anos, mas também rompeu com o partido.
Ela tem inúmeras posições de esquerda e progressistas, tendo apoiado a candidatura de Bernie Sanders em 2020, além de apoiar o direito integral ao aborto, assim como o casamento homossexual e da descriminalização das drogas. Gabbard também denunciou a política do imperialismo na Síria, criticando a farsa da imprensa criada em torno do uso de armas químicas pelo governo de Bashar al-Assad.
O mundo da espionagem está profundamente irritado com a sua indicação. “A escolha de Tulsi Gabbard como chefe da inteligência dos Estados Unidos pelo presidente eleito Donald Trump causou um choque no establishment da segurança nacional norte-americana”, informou a Reuters.
Dessa forma, Trump colocou no controle da espionagem norte-americana uma pessoa totalmente oposta à CIA, o que coloca uma bomba na política de espionagem do imperialismo dos Estados Unidos, um ponto-chave da política norte-americana.
Da mesma forma, Trump também jogou uma bomba na política do Pentágono. Ele colocou o capitão ultra-direitista da Guarda Nacional Pete Hegseth como secretário de Defesa, rompendo com a política de colocar alguém diretamente indicado pelo Pentágono, algum general que responde diretamente ao complexo industrial-militar.
O chamado “Estado profundo” — espionagem e defesa — portanto foi duramente atacado por Trump.
Mas isso não resume a questão das indicações de Trump, que mostraram também uma tendência de compromisso em alguns pontos-chave. É o que indica a nomeação de Marco Rubio como secretário de Estado, um dos cargos mais importantes do governo norte-americano, responsável pela política externa do país (equivalente ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil), que vive o ponto mais sensível do imperialismo no momento — acumulando importantes derrotas econômicas, políticas e militares no mundo inteiro.
Rubio é do Tea Party, isto é, da extrema direita do Partido Republicano. No entanto, ele é considerado como uma extrema direita compatível, não totalmente trumpista, um político fascista mais bem aceito pelo establishment norte-americano.
A indicação de Rubio, um “gusano” de família contrarrevolucionária cubana que mora na Flórida, indica uma política mais agressiva do imperialismo na América Latina, mas isso ainda é algo que deve ser analisado com o desenvolvimento posterior da situação política. No primeiro mandato de Trump, ele promoveu o golpe na Bolívia em 2019 (apoiado por Elon Musk, que será seu chefe de Eficiência Governamental) e aumentou as agressões contra a Venezuela, com o caso de Juan Guaidó.
No entanto, a maioria dos golpes de Estado na América Latina — Honduras (2009), Paraguai (2012) e Brasil (2016) — foram promovidos durante o governo do Partido Democrata, de Barack Obama e Joe Biden (na época, vice-presidente). Por isso, não dá ainda para afirmar se a política de Trump será mais ou menos agressiva que a política do atual governo em relação à América Latina.
Com certeza, a pressão com os três países que têm uma política de enfrentamento direto com o imperialismo — Cuba, Nicarágua e Venezuela — será maior, mas a política efetiva dessa pressão só poderá ser avaliada com o desenvolvimento da situação política internacional.
Nas outras áreas, essas duas tendências se mostraram: colocando trumpistas mais ideológicos em algumas áreas, e políticos mais bem aceitos pelo imperialismo em algumas outras.