O Moçambique é mais um país em que as eleições provocam distúrbio. Mais “estranho” ainda é que os Estados Unidos apoiam a oposição no país africano.
As manifestações ocorrem em Moçambique desde outubro, quando a contagem de votos deu a vitória à Frente Frelimo e elegeu Daniel Chapo, da frente do atual presidente, Filipe Niusi. No entanto, apoiadores de Venâncio Mondlane do Podemos (Povo Otimista pelo Desenvolvimento de Moçambique), não aceitaram o resultado e Venâncio se declara vencedor. Alguma similaridade com a Venezuela?
A frente Frelimo está no poder há 49 anos, desde que o país conquistou sua independência de Portugal, e recebeu 71% dos votos, enquanto a oposição ficou 20%.
Protestos
Desde as eleições, manifestações têm sacudido o país, especialmente na capital, Maputo. Pelo menos 42 pessoas foram mortas, além de um grande número de feridos. Desse número, 30 pessoas morreram entre os dias 19 de outubro e 6 de novembro.
A oposição tem conseguido paralisar alguns serviços, como portos e passagens de fronteiras, principalmente o posto fronteiriço de Lebombo, com a África do Sul, uma rota crítica para o transporte de bens e de passageiros. Isso tem afetado o comércio local que apresenta escassez.
Segundo a rede catariana Al Jazeera, Siphiwe Nyanda, alto-comissário da África do Sul para Moçambique, reconheceu a tensão transfronteiriça, observando que as mercearias em Maputo sofreram escassez diretamente devido a interrupções na cadeia de suprimentos relacionadas a protestos. “Isso está causando sérios problemas para Moçambique e África do Sul, especialmente cidades fronteiriças dependentes do comércio”.
“Os protestos criaram um efeito cascata que afeta não só as economias locais, mas também os passageiros e a vida cotidiana em lugares como [a cidade fronteiriça sul-africana] Komatipoort, que depende dos trabalhadores e do comércio moçambicanos.”
Sam Jones, um pesquisador do Instituto Mundial de Pesquisa Econômica para o Desenvolvimento, parte da Universidade das Nações Unidas, alega que “Moçambique tem sido atormentado pela estagnação econômica, e as pessoas estão frustradas”. Mas essa é uma avaliação que causa suspeita, por ser muito abstrata. Jones afirma que “Há uma sensação cumulativa de que o país não está no caminho certo. Tivemos 10 anos de quase nenhum crescimento econômico”. Contudo, é difícil imaginar que uma população saia às ruas por esse motivo. Seria como se no Brasil, o povo saísse às ruas exigindo o aumento do PIB. Tudo indica que essa é uma reivindicação artificial que parte de ONGs ou de elementos treinados para provocar distúrbios, como vimos na Ucrânia, Venezuela, Georgia, dentre outros.
Uma das declarações de Jones reforça a suspeita, quando diz “Já vimos protestos pós-eleitorais antes, mas eles raramente foram tão sustentados. Normalmente, depois de alguns dias, as pessoas ficam cansadas, especialmente quando parece que nada vai mudar”. Haveria, assim, “uma profunda insatisfação com o status quo”.
Revolução colorida?
Um dos fatores da ingerência do imperialismo americano em Moçambique é a proximidade do país com a China.
O presidente chinês, Xi Jinping, enviou congratulações a Daniel Chapo por sua eleição, e fez a seguinte declaração: “Valorizo muito o desenvolvimento das relações entre a China e Moçambique e estou disposto a trabalhar junto com o presidente Chapo e aproveitar a oportunidade da implementação dos resultados da Cúpula de Beijing do Fórum de Cooperação China-África para manter as boas relações tradicionais, aprofundar a cooperação ganha-ganha, promover um desenvolvimento contínuo da Parceria Estratégica Abrangente e beneficiar melhor os dois povos”.
A China é o principal alvo dos Estados Unidos. Recentemente, o governo americano pressionou o Brasil a não participar da Nova Rota da Seda, ameaçou dizendo que isso teria “consequências”.
Os chineses têm investido em infraestrutura, energia, mineração, agricultura etc. São os maiores importadores de produtos moçambicanos.
A China financiou a construção da Ponte Maputo-Catembe, a maior do gênero em África. Financiou a construção dos aeroportos de Maputo e Xai-Xai. Construiu o Centro Cultural Moçambique-China, uma das maiores catedrais das artes e cultura em África, etc.
Os distúrbios em Moçambique não obra do acaso. Embora haja insatisfação, o modo como a coisa está organizada, com a presença grande de estudantes e pessoas jovens, fica claro que é um modelo já utilizado em outras tentativas de revoluções coloridas, tudo muito bem financiado e treinado pelo imperialismo.



